
O economista Paul Krugman disse hoje, em Lisboa, que Portugal está ligeiramente mais exposto à guerra comercial provocada pelos Estados Unidos do que outros países europeus e que atualmente regressar aos Estados Unidos até lhe provoca algum receio. Krugman, economista norte-americano e prémio Nobel da Economia em 2008, foi hoje o principal orador da conferência ‘Falar em Liberdade’, no Museu do Dinheiro, organizada pelo Banco de Portugal para celebrar os 50 anos do 25 de Abril.
Na conferência, Krugman falou das tarifas impostas pelo Governo de Donald Trump para considerar que Portugal está ligeiramente mais exposto do que o país europeu médio, mas também considerou que irá ser minimizado o impacto até pela pertença à União Europeia. “Temos de perguntar, à medida que esta guerra comercial se desenvolve, à medida que toda esta loucura se desenvolve, quão exposto está este país. (…) Portugal está provavelmente um pouco mais exposto do que o país europeu médio. Mas, tendo em conta o historial, penso que não devemos estar muito preocupados”, afirmou.
Krugman recordou Portugal como um país pobre após a revolução
O economista veio a Portugal pela primeira vez em 1976, logo após a revolução, inserido num grupo de estudantes do MIT – Massachusetts Institute of Technology a convite do Banco de Portugal. Krugman recordou um país muito pobre e retrógrado e apontou que então, perante a complexidade do processo revolucionário, não havia a garantia de que Portugal acabaria por se tornar numa democracia.
“A democratização de Portugal não foi feita num dia. Foi um período muito turbulento. (…) O anterior regime fascista tinha sido derrubado, mas o que ocuparia o seu lugar? Havia muita preocupação e muita gente, tanto aqui, como em Washington, como em Moscovo pensavam que Portugal poderia tornar-se num Estado comunista”, assinalou. Krugman registou que os Governos democráticos, além de liberdade, também precisam de garantir outras coisas “mais mundanas”, como economia. O economista norte-americano fez um contraponto entre o país que encontrou em 1976 com o que encontrou hoje, passando por áreas como as infraestruturas ou a saúde.
Krugman revelou mesmo que fazer o voo de regresso desde Portugal ao seu país quase lhe dá medo. “Os tempos são tão terríveis nos Estados Unidos que eu quase receio regressar”, disse.
“Acho que a maior parte das pessoas aqui não fazem ideia de como é que as estradas, a rede energética e as telecomunicações eram em 1976 porque, meu deus, eram mesmo terríveis. E melhoraram tremendamente”, disse. Krugman referiu que Portugal, apesar de mais pobre do que outras economias do norte da Europa, tem feito “uma enorme convergência na qualidade de vida” e que conseguiu evitar a marginalização “que se abateu sobre tantas regiões periféricas”. Por outro lado, mostrou-se preocupado com o envelhecimento da população, considerando que, nas sociedades ocidentais, é um grande problema estar a diminuir a população em idade ativa.
Regressando novamente à revolução portuguesa, Paul Krugman afirmou que recorda muitas vezes essa “história muito feliz” e as “escolhas difíceis” que Portugal fez “para ser uma democracia, uma sociedade livre, um país decente”. “Às vezes conto esta história para mim próprio para me sentir um pouco melhor face ao que se passa em minha casa”, disse. Krugman revelou mesmo que fazer o voo de regresso desde Portugal ao seu país quase lhe dá medo. “Os tempos são tão terríveis nos Estados Unidos que eu quase receio regressar”, disse.
(Lusa)