As contas estão feitas há um mês e garantem uma maioria de 24 de deputados a favor da moção de censura do Chega ao governo de Miguel Albuquerque. Se não houver surpresas de última hora, o governo da Madeira cai esta terça-feira antes da hora de almoço. A probabilidade de o desfecho anunciado acontecer é de tal modo alta que Miguel Albuquerque já está em campanha para as eleições regionais antecipadas, que, se tudo correr como o previsto e o governo regional cair, deverão acontecer no primeiro trimestre de 2025. A estratégia do homem que se prepara para ver mais um executivo cair é simples: sem governo e sem orçamento (foi chumbado há uma semana por toda a oposição) as obras vão parar, até mesmo a construção do novo hospital.

A oposição toda junta, que deverá votar a favor da moção de censura, fala em chantagem ao mesmo tempo que tem tentado esclarecer que não é o fim do mundo. A questão é que sem obras públicas em andamento, a economia madeirense treme. Uma conta que todos têm em consideração, uma vez que a travagem a fundo no início deste ano, quando o governo caiu devido à megaoperação que deteve dois empresários da construção e o ex-presidente da câmara do Funchal, Pedro Calado, teve impactos nas eleições que aconteceram em Maio. Além da economia, via obras públicas, Miguel Albuquerque anunciou várias medidas positivas para levar para campanha: não só aumentou o salário mínimo para 915 euros, o mais alto do país, como prometeu entregar as primeiras casas de renda reduzida antes de o ano acabar.

Nas contas de Albuquerque o caminho, assim que o governo cair, é apenas um e vai dar a eleições antecipadas no primeiro trimestre de 2025. Contudo, não é o único cenário possível. Se tudo correr como o previsto - ou seja, se o Chega não retirar a moção ou se algum partido mudar de ideias - o governo regional irá cair e, em consequência disso, os partidos serão chamados ao Palácio de São Lourenço com o representante da República. As audiências deverão ocorrer na quarta e na quinta-feira. Depois disso, Ireneu Barreto, o representante da República na Madeira, irá informar o Marcelo Rebelo de Sousa sobre o que propõem os partidos: eleições ou novo governo. Essa é aliás a aposta que tem vindo a ser falada nos últimos meses.

A Constituição não obriga à realização de eleições e uma das vias possíveis é uma solução no atual quadro parlamentar. Em Novembro chegou a colocar-se a opção de um afastamento de Albuquerque ainda antes da votação da moção de censura, mas, um mês depois, o ambiente político é outro. O mais certo é a Madeira ir de novo a eleições e deverá ter os mesmos protagonistas a encabeçar as listas de candidatos. Não se prevendo um resultado muito diferente do de maio.

Albuquerque já disse que será candidato pelo PSD, assim como Paulo Cafôfo deverá encabeçar a lista do PS. As sondagens, duas publicadas pelos jornais regionais na última semana, voltam a dar a vitória ao PSD, longe da maioria, e o PS a não descolar dos 11 deputados. Mantendo-se um impasse parlamentar sem que PS e JPP consigam formar um Governo alternativo. À direita, ficando o PSD longe da maioria, não seria fácil um entendimento com o Chega, o partido que causou a queda do executivo. Os entendimentos são difíceis e quase impossíveis.

O líder dos socialistas madeirenses já chegou a tentar uma coligação alargada com a oposição, que incluiria tanto o BE como a Iniciativa Liberal. A proposta, feita em direto na televisão, não durou 24 horas e Paulo Cafôfo acabou por dar uma conferência para lamentar a falta de resposta dos outros partidos.

Do lado do PSD, não será fácil mudar de líder. Embora seja possível convocar um congresso extraordinário com 300 assinaturas, cabe ao conselho regional decidir se é ou não acompanhado de eleições internas. Manuel António Correia, derrotado em Março, já fez saber que é de novo candidato, só não se sabe quando é que poderá desafiar o actual presidente do partido e se será a tempo das mais que prováveis eleições antecipadas.

A estabilidade na Madeira parece depender mais do calendário de Marcelo Rebelo de Sousa. Seja qual for o governo que sair dessas eleições, deverá manter até Maio de 2026, por coincidir com os últimos seis meses do mandato do Presidente da República.