Mais uma voltinha na montanha-russa em que se transformou a temporada do FC Porto, realidade que transpareceu logo na estreia oficial em 2024/25, na reviravolta de 0-3 para 4-3 que valeu a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, em Aveiro, à custa do Sporting. Desde que Martín Anselmi assumiu o comando técnico, no lugar de Vítor Bruno, após a ponte entre ambos feita por José Tavares, os azuis e brancos venceram o Maccabi Telavive, desceram a toda a velocidade com empate em Vila do Conde diante do Rio Ave, andaram a tocar o céu e o inferno nas igualdades frente a Sporting e Roma, estabilizaram fruto de triunfo sobre o Farense e voltaram a inclinar-se abruptamente depois de desaire na cidade eterna que ditou o adeus à Liga Europa.

E ontem, no Dragão, onde não vencem desde 28 de dezembro (4-0 ao Boavista), subiram à boleia de Fábio Vieira e baixaram à terra à conta de Úmaro Embaló — mais umas voltinhas na montanha-russa, pois então.

Se há momento em que fará sentido recordar frase célebre — «Estávamos à beira do precipício e demos um passo em frente» — atribuída a João Pinto, eterno número 2 dos portistas, este é um deles. Sim, porque esta equipa do FC Porto parece sempre à beira do precipício... e às vezes dá o fatal passo em frente.

Com os dois pontos perdidos pelo Sporting na Vila das Aves a reabrirem o sonho do título, oportunidade para fixar em quatro a distância para leões e águias, a receção ao Vitória de Guimarães — estádio cheio numa febre de segunda-feira à noite em que a figura de Pinto da Costa esteve omnipresente — confirmou o constante sobe e desce desta época.

Em 3x4x3, agora com Tomás Pérez no centro da defesa a dar outra qualidade na saída de bola, Zé Pedro na posição de Nehuén Pérez (castigado, tal como João Mário), Gonçalo Borges como ala direito, Pepê uns metros acima e Namaso a sentar Samu, o FC Porto mostrou a dificuldade do costume na construção de lances perigosos. Na primeira parte, tudo espremido, destacou-se um remate de Gonçalo Borges ao lado a cruzamento de Rodrigo Mora sem que Diogo Costa fosse chamado a intervenções complicadas.

A saída de Pepê, lesionado, aos 28', implicou a entrada de Samu, que passou a conviver no eixo do ataque com Namaso, numa espécie de 3x5x2 que impulsionou os dragões no começo da segunda parte. Mas, perante adversário sem clarividência e personalidade com bola, os vitorianos rapidamente aproveitaram para desestabilizar. Nélson Oliveira agitou as redes — lance anulado por fora de jogo no início da jogada, à semelhança do que acontecera na metade inicial com disparo certeiro de Namaso —, Otávio salvou sobre a linha de baliza cabeceamento de Borevkovic e estava dado o sinal de que Anselmi precisava para mudar. Lançou William Gomes e Tiago Djaló, aos 63', e foi já em 4x3x3 que, aos 67', Fábio Vieira faturou com excelente remate em arco de pé esquerdo, em jeito, na grande área sobre a direita.

O encontro caminhava para o fim, o Vitória assustara num canto com desvio de Diogo Costa a novo cabeceamento de Borevkovic, nada mais. Um livre a favor do FC Porto, em pleno meio-campo ofensivo, parecia ser o ideal para respirar, gastar algum tempo e arrefecer o jogo. Acredite ou não, 13 segundos depois de Alan Varela enviar a bola para a área, por entre duelos perdidos, indecisões e maus posicionamentos, Úmaro Embaló, isolado por Nuno Santos com passe fabuloso, bateu Diogo Costa.

Ou seja, a ganhar, em casa, partida a terminar (86'), o FC Porto sofreu o empate em contra-ataque. Ainda se lembra da tal frase atribuída a João Pinto?