A Federação de natação, agora liderada por Miguel Arrobas, anunciou, ontem, em comunicado, que não renovará contrato com Alberto Silva, o técnico luso-brasileiro com maior palmarés no Brasil que veio para Portugal há três épocas, após os Jogos de Tóquio, a fim de liderar a equipa de nadadores no CAR Jamor e ser treinador nacional. Do seu trabalho ficarão, sobretudo, na memória os êxitos de Diogo Ribeiro, com destaque para os dois títulos mundiais absolutos em Doha. Únicos na modalidade em Portugal.

Sucede-lhe o adjunto, e biomecânico, Samie Elias, que integrou a equipa técnica desde sempre, e também continua o preparador físico, Igor Silveira. Antes de embarcar para o Brasil para a quadra natalícia — ainda voltará a Portugal no início do ano após dar uma palestra na Suécia —, A BOLA conversou com Alberto Silva, vulgo, Albertinho, sobre as últimas negociações, ambições e futuro.

— Ficou surpreso por a federação de natação não ter querido ir renovar consigo após estas três últimas épocas? Tinha intenção de continuar como treinador nacional de Portugal?

— Não respondendo de imediato à pergunta, mas primeiro colocando uma observação, acho que uma das coisas que mais interferiram em vários aspectos desta época, inclusive em alguns momentos no meu humor, foi a demora até que existisse uma definição. Nem culpo a direção anterior da federação, e nem a atual, foi devido às eleições. Para mim é que foi mau. Já o considerava na época passada, antes dos Jogos Olímpicos, estar a trabalhar sem saber se iria ou não continuar e ter essa tranquilidade.

Confesso que tive uma conversa com o Miguel Arrobas [eleito presidente da FPN em novembro] antes das eleições, ligou-me e disse que iria manter-me no cargo, caso vencesse as eleições, pelo menos durante 2025, com o mesmo trabalho e condições. Isso, de certa maneira, deu-me um conforto. O outro candidato [Rui Bettencourt Sardinha] nunca falou comigo.

— E sobre a renovação?

— Dito isto, não foi surpresa. Confesso que tive uma conversa com o Miguel Arrobas [eleito presidente da FPN em novembro] antes das eleições, ligou-me e disse que iria manter-me no cargo, caso vencesse as eleições, pelo menos durante 2025, com o mesmo trabalho e condições. Isso, de certa maneira, deu-me um conforto. O outro candidato [Rui Bettencourt Sardinha] nunca falou comigo. Já com o António Silva [anterior presidente, que o contratou], conversámos várias vezes, e dizia que se continuasse o contrato já estaria renovado. A situação era essa, fomos andando, mas, por vezes, o caso incomodava-me um pouco. Até pela própria ansiedade, não é uma coisa simples, afinal vim de outro país [Brasil].

Depois das eleições conversei com o Miguel Arrobas, já presidente, e ele disse-me que, por enquanto, não estava a pensar resolver nenhum problema pendente da anterior direção, pois ainda se encontrava a tomar conhecimento das finanças e da situação de cada modalidade dentro da federação.

— Mas ficou surpreendido?

— Não, porque, depois das eleições conversei com o Miguel Arrobas, já presidente, e ele disse-me que, por enquanto, não estava a pensar resolver nenhum problema pendente da anterior direção, pois ainda se encontrava a tomar conhecimento das finanças e da situação de cada modalidade dentro da federação. Só que eu tinha uma situação em curso e sempre deixei isso muito claro junto do João Campos [diretor geral] e do António Silva. Por força do contrato que tinha, em agosto, quatro meses antes, tive de entregar a carta do apartamento em que vivo a avisar que sairia em dezembro, quando terminava o atual acordo com a federação. Assim como, entretanto, tive de começar a contratar uma empresa de mudanças para levar as minhas coisas para o Brasil. Protelei isso até ao limite.

Ele queria perceber várias coisas, que acabaram por ser muito boas e assuntos que não se tinham concretizado, Por exemplo, sobre o facto de estar com poucos nadadores [no grupo do CAR Jamor]. Contei-lhe que tinha sido a federação que me tinha pedido para mandar embora metade dos atletas.

Então, quando o Miguel achou que era o momento disse-lhe que teríamos mesmo de conversar. Não era sequer sobre querer ficar, porque sempre afirmei que gostaria de continuar. Reunimo-nos e conversámos três horas. Ele queria perceber várias coisas, que acabaram por ser muito boas e assuntos que não se tinham concretizado, Por exemplo, sobre o facto de estar com poucos nadadores [no grupo do CAR Jamor]. Contei-lhe que tinha sido a federação que me tinha pedido para mandar embora metade dos atletas. Assim como revelei que exista um curso de capacitação pronto, que foi entregue por e-mail à direção e ao José Machado [ex-diretor desportivo da FPN, atualmente a treinar o Benfica], mas que não foi avante e era para ter sido passado para os outros treinadores.

Foram vários pontos que esclareci, inclusive sobre umas declarações do Rui Sardinha numa entrevista [a A BOLA], com as quais havia ficado chateado. É difícil perceber a falta de conhecimento já que ele era vice-presidente da federação. Isto porque foi a FPN que me pediu para mandar embora sete atletas e para me focar nos que tinham hipóteses de ir aos Jogos.

O Miguel Arrobas tinha-me oferecido um ano de contrato e respondi-lhe que um ano não me interessava. O que desejava era um vínculo por quatro. Os objetivos que até agora tinham sido colocados pela direção anterior, alguns conseguimos cumprir, outros não.

— Porque não disse nada na altura?

— Não quis comentar porque não desejava arranjar confusão em ambiente de eleições. Disse para mim: Deixa, não vais falar, seguimos em frente. Mas quando conversei com o atual presidente disse-lhe. O Miguel Arrobas tinha-me oferecido um ano de contrato e respondi-lhe que um ano não me interessava. O que desejava era um vínculo por quatro. Os objetivos que até agora tinham sido colocados pela direção anterior, alguns conseguimos cumprir, outros não. Quem chegou agora tem o direito de dizer: 'Albertinho, quero que continue com o trabalho no CAR Jamor, mas este objetivo para mim é fundamental’. Foi o que pedi ao Miguel Arrobas que me esclarecesse. Se eu e a minha equipa estávamos incluídos no seu plano de gestão e o que pretendia que fizessemos. Afinal, sem saber é difícil começar um trabalho.

Por isso, não abria mão de saber esses dois pontos e a atualização salarial , mas não falámos em valores. Penso que depois de seis medalhas em mundiais de piscina longa, entre outras coisas, não me sentiria bem como profissional se não tivesse esta discussão.

Referi igualmente que, depois de três anos com o mesmo contrato e salário, face à inflação que passou a existir, desejava discutir uma valorização profissional. No meu entender e perante o que foi construído fizemos um bom trabalho. Há pontos a melhorar, pois não chegamos onde queríamos, até pelo meu desconhecimento da natação portuguesa. Por isso, não abria mão de saber esses dois pontos e a atualização salarial , mas não falámos em valores. Penso que depois de seis medalhas em mundiais de piscina longa, entre outras coisas, não me sentiria bem como profissional se não tivesse esta discussão.

Salientou que gostava que eu ficasse e elogiou o trabalho feito, mas não contou qual era o plano que desejava. Ficamos, então, de falar mais tarde, até porque ele iria conversar com a  direção.

— O que lhe respondeu o Miguel Arrobas?

— Referiu que, neste momento, era muito difícil prometer-me um contrato de quatro anos. Terá as suas razões, não entro nesse campo, enfim, não discutimos isso. E disse que sem ter um conhecimento de todo o orçamento da federação, não poderia falar de valorização. Salientou que gostava que eu ficasse e elogiou o trabalho feito, mas não contou qual era o plano que desejava. Ficamos, então, de falar mais tarde, até porque ele iria conversar com a direção. Passado uma semana, avisei que aquele dia era o deadline, iria passar a época natalícia no Brasil, e tinha tudo marcado, inclusive a viagem dos meus cães. Seria mais difícil depois voltar e começar a arranjar tudo de novo, nomeadamente, um apartamento. 

Tornou a referir que gostaria que eu continuasse, mas não conseguia alterar a proposta de um ano de contrato nem as condições. Respondi então que continuaremos bons amigos. T

Acabámos por conversar na segunda-feira da semana passada, antes dos Nacionais de piscina curta. Reunimo-nos, juntamente com o Alexis Santos, onde tornou a referir que gostaria que eu continuasse, mas não conseguia alterar a proposta de um ano de contrato nem as condições. Respondi então que continuaremos bons amigos. Tenho pena, gostava de ter ficado, tenho cá bons amigos.

A única coisa que pedi foi que tentasse não contar a ninguém para não atrapalhar a semana dos nadadores para o Nacional, nem aos clubes porque ainda vai haver o Nacional de clubes.

— E ficou tudo por aí até hoje ser revelado que deixa a federação e há um novo treinador nacional? 

— Sim. A única coisa que pedi foi que tentasse não contar a ninguém para não atrapalhar a semana dos nadadores para o Nacional, nem aos clubes porque ainda vai haver o Nacional de clubes. Depois das férias prolongadas que tiveram após os Jogos, eles treinaram bem mas não havia uma expectativa alta para as provas. Acho que tanto quem trabalhou do lado de fora como de dentro da piscina merecia acabar o nosso trabalho sem essa interferência. Foi o que aconteceu. Tivemos um campeonato que me deixou feliz e os rapazes estão contentes com a época.