O nome no fundo das costas. Por cima, o mais próximo possível do céu, o número 10 que herdou de Pelé e que etiqueta os invulgares. No Santos, Neymar é isso mesmo, um produtor de eternidade que deixou as reservas da sua mercadoria guardadas no Vila Belmiro e agora regressou para as recolher.
“É difícil encontrar palavras para expressar o sentimento quando se ama alguém e eu amo muito o Santos.” Neymar ficou embasbacado quando se achava durão o suficiente para domar o reencontro e dele saiu corado.
Foram 12 anos em que os adeptos do Peixe viram o seu menino ensinar em Barcelona, Paris e Riade que o malabarismo é uma técnica de hipnose especialmente eficaz sobre futebolistas que jogam à defesa. Pedro Caixinha, o treinador português do Santos, deu 45 minutos como tempo máximo para Neymar e os torcedores matarem saudades. No dia em que fez 33 anos, o jogador tentou várias técnicas: receções orientadas, passes de trivela, túneis. Não precisava de se esforçar mais. O estádio estava rendido a ele.
Uma diagonal surgiu a partir da esquerda. Os adversários do Botafogo-SP causaram apenas algum delay no movimento. Neymar fez um remate pouco colocado que o guarda-redes defendeu. Dir-se-ia que não foi nada de especial, mas a bancada empolou a tentativa de tal forma que o clube esteve em vias de precisar de adquirir um novo estádio já que aquele quase vinha abaixo.
Neymar, o homónimo pai do sujeito a quem ensino a melhor maneira a não se perder em campo, é suspeito na matéria. Porém, vê no filho um “símbolo único no futebol”, a “maior pérola que temos”. Pela “plasticidade”, é o “último romântico”.
Os jornalistas começavam a ficar entediados com a demora de Neymar (Jr.) para prestar declarações após o jogo (1-1). O obstáculo ao normal protocolo pós-jogo foi a vontade dos jogadores do Botafogo-SP ficarem com o momento registado. Enquanto os jogadores da equipa da Série B tiravam fotografias, Neymar tinha as pernas marcadas pela “muita pancada” que estes lhe deram. “É o único jeito de me pararem.”
O capitão do Santos “não esperava correr tanto”. Ele, que fez apenas sete jogos na Arábia Saudita desde que rumou ao Al Hilal em agosto de 2023, ficou “bastante” surpreendido com o desempenho no regresso a casa. Ainda assim, é honesto: “Preciso de minutos, preciso de jogos, não estou a 100%.”
No começo da etapa a que chamou “última missão”, Neymar impressionou a crítica brasileira com a condição física apresentada e aproveitou para desmentir Jorge Jesus, técnico que divulgou que o brasileiro não conseguia acompanhar os restantes colegas do Al Hilal. “Obviamente, fiquei muito chateado com as palavras do Jorge Jesus”, revelou. “O campo é onde me consigo defender de todas as críticas.”