
No documento, a que a Lusa teve hoje acesso, é referido que "o número de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda e que necessitam de assistência urgente (...) poderá passar de 2,79 milhões para cerca de 3,28 milhões de pessoas, de outubro [de 2024] a março de 2025".
Segundo o relatório, com dados de 63 distritos, entre os mais afetados pelos choques climáticos, espera-se ainda que 773 mil pessoas enfrentem uma situação de "emergência" no país.
"Isto poderá acontecer em consequência do esgotamento das reservas alimentares e do impacto dos grupos armados em Cabo Delgado e partes de Nampula e Niassa, assim como dos efeitos da La Niña (...), principalmente nas zonas sul e centro do País", refere-se.
No índice, criado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), aponta-se que serão afetadas todas as províncias do país, com destaque para Gaza, Inhambane, Manica, Tete, além de Cabo Delgado, que enfrenta, desde 2017, uma rebelião armada, com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
Os distritos de Macomia e Quissanga, entre os mais afetados pelos ataques terroristas, a intensificação do conflito e as limitações de acesso para assistência humanitária poderão causar uma situação de "emergência", lê-se ainda no documento.
O último grande ataque naquela província do norte do país deu-se em 10 e 11 de maio de 2024, à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de rebeldes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e militares ruandeses, que apoiam Moçambique no combate aos ataques.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, mas também períodos prolongados de seca severa.
As Nações Unidas estimam que a insegurança alimentar agravada pelo El Niño atingiu "níveis sem precedentes" em Moçambique, ameaçando quase cinco milhões de pessoas, num cenário de seca e de falta de financiamento internacional para apoio no terreno.
De acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), divulgado recentemente, as conclusões resultam da análise à atividade agrícola e de insegurança alimentar, indicando que "atingiu níveis sem precedentes em Moçambique", com um total de 4.890.232 pessoas ameaçadas por essa insegurança alimentar até ao final da atual campanha, em março de 2025.
Aquela agência das Nações Unidas lançou em 2024 um apelo para 222 milhões de dólares (213 milhões de euros) de apoio internacional para combater os efeitos da seca em Moçambique, mas reconhece que enfrenta "um défice de financiamento significativo", tendo angariado apenas 28,7 milhões de dólares (27,5 milhões de euros), equivalente a 13% das necessidades identificadas.
LYCE (PVJ) // MLL
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