![Estrada fora: onde comer ao longo da EN17, entre Coimbra e Celorico da Beira](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
“Estradas com História: EN16 e EN17” é um novo produto turístico, que pretende transformar duas das mais emblemáticas estradas do interior do país em eixos de descoberta cultural, patrimonial e gastronómica. O projeto é liderado pela Turismo Centro de Portugal e promovido também pelas Comunidades Intermunicipais Viseu Dão Lafões, Região Beiras e Serra da Estrela, Região de Aveiro e Região de Coimbra – territórios atravessados pelas duas estradas. O objetivo é estruturar uma oferta turística inovadora, assente na riqueza paisagística, cultural, patrimonial e gastronómica dos 24 municípios abrangidos.
A EN17, conhecida como Estrada da Beira, percorre 129 km, entre Coimbra e Celorico da Beira, e atravessa os municípios de Miranda do Corvo, Lousã, Vila Nova de Poiares, Penacova, Arganil, Tábua, Oliveira do Hospital, Seia e Gouveia. A viagem pela Estrada Nacional 17 também se faz à mesa e, para abrir o apetite, há vários restaurantes de paragem obrigatória, à beira da estrada ou acessíveis a partir de um curto desvio:
Ossos e cerveja na partida em Coimbra
Em Coimbra, ainda antes de identificar o local exato do km 0 da EN17, mais conhecida como Estrada da Beira, é tempo de descobrir a história de um dos mais populares pratos da cidade: “Ossos do espinhaço”. Elaborado com o espinhaço do porco, a origem deste prato remonta a tempos imemoriais, onde nada da matança era desperdiçado. Habitualmente conhecido por ser um produto menos nobre, tornou-se petisco em várias tabernas, em especial em Coimbra, onde deu nome a um dos mais conhecidos espaços de restauração da cidade. Pode acompanhar com pão, couve lombarda ou com feijão-manteiga cozidos no caldo onde os ossos ferveram. O prato é especialidade e motivo de romaria até ao restaurante Zé Manel dos Ossos (Beco do Forno, 12, Coimbra. Tel. 239823790), onde se formam filas à porta para provar o popular petisco. E, nada tema, se no final da refeição sugerirem “Vomitado”, a sobremesa da casa elaborada com doce de ovos. Atravessada a ponte de Santa Clara, outra opção é o restaurante Cordel Maneirista (Rua Carlos Alberto Pinto Abreu, 4, Coimbra. Tel. 910822721), junto ao convento de São Francisco. Das opções de petiscos, com a “Perdiz de escabeche à moda de Coimbra”, aos principais, que incluem o “Robalo em espumante Bairrada”, com puré de batata-doce, e diversas propostas de arroz carolino do Baixo Mondego, com destaque para o “Arroz de carqueja beirão” e “Arroz de perdiz, cogumelos e castanhas”, não faltam opções no restaurante liderado por Paulo Queirós. A fechar a experiência é incontornável o premiado “Pudim das Clarissas de Coimbra”.
Já paralela à EN17, encontra-se outro símbolo da cidade: PRAXIS – A Cerveja de Coimbra (Rua António Gonçalves, 28/29, Coimbra.Tel. 239440207), que celebra a história da produção cervejeira artesanal desde o século XIX. Brinde a esta rota, faça uma prova de várias referências, aproveite para uma refeição ou um petisco e não saia sem visitar o pequeno museu existente. Identifica-se o Km 0 da EN17, junto ao largo da Portagem. Antes da partida, provam-se, o licor Lágrima do Mondego e alguns doces conventuais na Pastelaria Briosa (Largo da Portagem, 5, Coimbra. Tel. 239821617). Depois é seguir em direção a Celorico da Beira.
Variante até Miranda do Corvo
Depois de acompanhar o rio Ceira, faz-se um desvio pela variante EN17-1 para ir conhecer Miranda do Corvo. Desde Coimbra estão percorridos apenas 30 km. Depois de uma paragem no Museu do Mel, na incontornável Loja do Sr. Falcão e de uma visita ao Parque Biológico da Lousã, ganha-se apetite para conhecer as propostas do vizinho Museu da Chanfana (tel. 915361527). Guardiões da tradição no que à confeção da Chanfana diz respeito, servem também Sopa de casamento, habitualmente preparada com as sobras e com o molho deste prato. Mas há mais opções na ementa, como os locais Negalhos e o Serrabulho, que ao lado do Bucho complementam a oferta. A Nabada de Semide e amêndoa é a sobremesa sugerida e que talvez aguce a curiosidade em conhecer o Convento de Santa Maria de Semide. Pode voltar à Estrada da Beira pela mesma variante ou seguir em direção à Lousã, através da ligação pela EN236, para encontrar um grande embaixador da boa mesa regional. Trata-se do restaurante O Burgo (Nossa Senhora da Piedade, Lousã. Tel. 239991162), com esplanada para contemplar o castelo de Arouce. A ementa é a prova de que não se altera a perfeição gastronómica. Cozido do Talasnal na broa, Galinha com tortulhos e castanhas e Javali com castanhas são as opções mais populares. Para provar um pouco de tudo, opte pela “Rapsódia”, com entradas, principais e sobremesas em pequenas doses. Antes de voltar ao automóvel percorra o Passadiço da Lousã, com 1200 metros de extensão, que liga a vila ao Complexo Turístico da Senhora da Piedade, conhecido pela praia fluvial e cascatas. Caso esteja com tempo, pode ainda fazer um circuito para conhecer as Aldeias do Xisto de Candal, Cerdeira ou Talasnal para uma fotografia no baloiço Isto é Lousã.
Poiares é mais do que chanfana
De regresso à EN17 a rota conduz até ao município de Vila Nova de Poiares, anunciada como Capital Universal da Chanfana, o famoso prato de carne de cabra tradicionalmente preparado no forno em caçoilas de barro preto. Para grupos (a partir de 10 pessoas) e por reserva, o restaurante O Confrade (Largo Dr. Daniel de Matos, Vila Nova de Poiares. Tel. 911571100), gerido pela Confraria da Chanfana, abre as portas para servir tão popular receita. Outra boa opção é o restaurante Estrela da Mó (EN 17, São Miguel de Poiares. Tel. 239428374), para muitos imbatível, na arte da chanfana. O Bacalhau à Estrela da Mó é um clássico, bem como o Frango à Armandito e o Naco na telha, que pinga sobre uma tigela de arroz, servido com migas e umas curiosas batatas vulcão, que são uma tentação. Para além da chanfana, diga-se que Poiares é, também, local afamado pelo frango assado, que tem como embaixador maior o restaurante As Medas (Tel. 239421253). O prato é o prémio para os que percorrem a íngreme serra de São Pedro Dias. A comemorar seis décadas de portas abertas e já na terceira geração, tal como no primeiro dia, a refeição começa com uma Canja de galinha. Resilientes, acrescentaram à ementa outras especialidades, como o Arroz de cabidela e, a dias certos, o Cozido à portuguesa. Uma nota curiosa antes de deixar Vila Nova Poiares: é aqui que a EN17 se cruza com a mítica EN2.
Cabidela e “Fish & chips”
Já no concelho de Oliveira do Hospital, à beira da EN17, na localidade de Venda do Porco, a rota sugere uma paragem inesperada: George and Dragon Pub (Tel. 235098240). Inusitadamente, este local convida a uma outra viagem, desta vez, no tempo, até aos dias dos velhos pubs ingleses, com cabines de veludo, vitrais e até um cantinho especial, que justifica uma fotografia. Aqui, encontra uma seleção de cervejas inglesas, rolinhos de salsicha, pastéis da Cornualha e até “Fish & Chips” (peixe com batatas fritas) na terceira sexta-feira de cada mês. Ao longo da semana, há hambúrgueres de vaca ou de frango, e batatas assadas “King Edward”, além de pratos do dia e animação noturna. Às portas da cidade, a melhor opção para reabastecer gastronomicamente é feita no Restaurante Casa dos Frangos (EN 17, Catraia, Oliveira do Hospital. Tel. 238600450). A gerência garante servir a melhor cabidela do país, mas, como o nome indicia, o motivo de romaria é o frango assado, pequenino, acompanhado com batatas caseiras. Por causa da serra de São Pedro Dias, este restaurante dividia a Estrada da Beira na fama e na oferta do galináceo na brasa. Quem viajava de Celorico da Beira parava aqui, quem partia de Coimbra, ficava-se pelas Medas. Outra opção gastronómica associada aos sabores locais, incluindo queijos, é o restaurante O Gouveia (Quinta da Fontanheira, Oliveira do Hospital. Tel. 238603472), a oficiar desde 1997 e com a garantia de harmonizar todos os pratos com vinhos da região.
Estrela à vista…
Como referência, entre Oliveira do Hospital e Seia distam cerca de 20 km. Com o Parque Natural da Serra da Estrela à vista, a EN17 convida a um pequeno desvio para conhecer o Museu do Pão (Quinta Fonte do Marrão, Seia. Tel. 238310760). É considerado como uma das maiores referências da museologia em Portugal e ostenta o estatuto de maior complexo dedicado à temática do pão em todo o mundo. É uma verdadeira montra da serra da Estrela, espaço de história e de memórias, mas também de diversão e gastronomia. Sempre muito procurado, o Cenae - Restaurante do Museu do Pão (Tel. 238310760), aberto ao almoço de terça-feira a domingo (jantares apenas ao sábado) assume-se como “um verdadeiro centro de investigação gastronómica onde se redescobrem os antigos – e sempre nobres – sabores tradicionais portugueses”. Um pouco mais longe da Estrada da Beira, mas excelente opção e com garantia de qualidade é o restaurante Margarida I (Senhora do Desterro, São Romão. Tel. 238321136), onde Adelina Álvaro não faz caso quando lhe chamam “Margarida”, devido ao nome dado ao local que abriu em 2008. Sorri e diz que é uma forma de prestar homenagem à filha e à neta, elas, sim, com o nome da flor. Despachada, faz com que nada falte na mesa dos clientes, como o Bacalhau à Margarida, bastante procurado. Experimente a Chanfana da avó, receita tradicional da família. De regresso à Estrada da Beira outra recomendada paragem pode ser realizada no Manjar da Serra (Avenida dos Emigrantes, 69, Pinhanços. Tel. 962377377). Todos os dias serve uma ementa diferente, mas à noite ganham protagonismo os grelhados, como o bacalhau, o polvo à lagareiro, as costeletas de vitela Barrosã e o costeletão de novilho “Tomahawk”.
Visitar Gouveia antes da chegada a Celorico da Beira
Depois de 30 minutos de viagem desde Seia e após um pequeno desvio chega-se a Gouveia com reserva feita no restaurante Lá Em Casa (Avenida Dom Manuel I, Gouveia. Tel. 238491983). Com nova gerência, mudou a sala de jantar, agora com iluminação cuidada e uma atmosfera mais contemporânea. Andrew Seabra é o novo homem do leme e dos Estados Unidos trouxe ideias para revitalizar este espaço. Não retirou da ementa o famoso Crepe de camarão com molho de salsa, nem a Costeleta de vitela Marinhoa grelhada. Não falha o Polvo grelhado com batata torneada. A gerência aposta ainda na garrafeira, onde pontificam propostas regionais e forte determinação em inovar. Em alternativa, segue-se a estrada até à bonita aldeia de Folgosinho, onde se destaca o restaurante O Albertino. Não deixe que a taberna no piso térreo o engane. É preciso entrar e subir a escada para se sentar à mesa. Depois dos queijos e enchidos locais, pode optar pelo menu fixo de cinco pratos. Há Arroz de cabidela de coelho, Javali com feijão, Vitela de Folgosinho, Borrego assado no forno e Leitão de Folgosinho. Termine com um “Pedrito”. Os cafés são por conta da casa.
De regresso à EN17 faz-se a última etapa até Celorico da Beira, conhecida como a Capital do Queijo Serra da Estrela. Junto ao castelo pode saber mais sobre este produto e até comprar alguns exemplares no Solar do Queijo da Serra. No Restaurante Refugio (Avenida da Corredoura, 170, Celorico da Beira. Tel. 271010130) serve-se comida caseira, se bem que, em algumas propostas exista um toque de inovação. É disso exemplo o Camarão salteado com alho e Licor Beirão. Há pratos diários, como bacalhau à Brás, lombo de porco assado no forno e picanha grelhada com feijão e batata frita. Para um final em grande, em jeito de passagem de testemunho, deixa-se a Estrada da Beira para na EN16 fazer as despedidas na Quinta de Santo António do Rio (Travessa de Santo António. Tel. 911144283). São de produção própria muitos dos ingredientes utilizados na cozinha deste enoturismo, como a carne proveniente da quinta ou os legumes biológicos. O forno a lenha é utilizado na confeção de receitas tradicionais. Merecem prova o Lombo assado com castanhas, bem como o Naco de vitela grelhado com queijo de ovelha, um prato incontornável da ementa deste restaurante.