António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, emocionou o mundo com um discurso arrasador na Assembleia da Amnistia Internacional, ao denunciar o sofrimento atroz vivido pelos palestinianos em Gaza. Com 76 anos, o diplomata português assumiu uma postura firme e crítica contra o silêncio internacional, alertando para uma “crise moral que desafia a consciência global”, num dos momentos mais comoventes do seu mandato.

“Não consigo explicar o nível de indiferença e inação que vemos em tantos atores da comunidade internacional: a falta de compaixão, a falta de verdade, a falta de humanidade”, lamentou, visivelmente abalado.

Guterres insiste no alerta para a grave crise humanitária vivida na Faixa de Gaza, onde a população enfrenta diariamente bombardeamentos israelitas desde 27 de outubro de 2023, sem acesso a alimentos, medicamentos ou água potável. “É uma crise moral que desafia a consciência global”, repetiu, num apelo urgente à ação internacional.

O responsável da ONU contou com voz embargada que muitas crianças palestinianas pedem para ir para o paraíso, porque, segundo dizem, “lá há comida”. A declaração provocou reações fortes em todo o auditório e nas redes sociais, onde o discurso já é amplamente partilhado.

Apesar da brutalidade do conflito, Guterres reafirmou o seu compromisso de continuar a manifestar-se contra a guerra, mesmo ciente de que “as palavras não alimentam crianças famintas”.

Denunciou ainda o estado extremo de exaustão e sofrimento dos trabalhadores humanitários da ONU em Gaza, que permanecem no terreno em condições que classificou “inimagináveis”. “Temos videochamadas com os nossos próprios trabalhadores humanitários, que estão a morrer à fome diante dos nossos olhos”, revelou.

Um dos pontos mais chocantes do discurso foi a lembrança de que, desde 27 de maio, mais de mil palestinianos morreram à procura de comida, após a substituição do sistema de ajuda alimentar tradicional da ONU por uma organização apoiada por Israel e pelos Estados Unidos — a Fundação Humanitária de Gaza.

No encerramento do seu discurso, Guterres apelou, mais uma vez, a um cessar-fogo imediato e permanente, à libertação incondicional de todos os reféns e a acesso humanitário irrestrito à população civil. “Precisamos de ação, não de discursos. Precisamos de humanidade, não de estatísticas.

A intervenção de Guterres marca o debate internacional e a reacender a pressão sobre as grandes potências mundiais. O apelo pela paz e pelo fim da fome em Gaza é agora mais urgente do que nunca.