
A Força Aérea Portuguesa (FAP) rompeu o silêncio e atribuiu à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) a responsabilidade pela distribuição e localização dos meios aéreos no dispositivo de combate a incêndios, numa altura em que os concelhos de Grândola, Ourique e Moura estão sem cobertura aérea, apesar das previsões do plano nacional.
A resposta surge depois de vários autarcas do Alentejo — de diferentes cores políticas — alertarem publicamente para a ausência de helicópteros nos centros de meios aéreos (CMA) dos respetivos concelhos, prometidos para o dia 1 de junho. Segundo o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) de 2025, estavam previstos três helicópteros para a região, mas esses meios nunca chegaram a ser colocados no terreno.
A situação provocou a indignação dos presidentes das câmaras municipais de Grândola (CDU), Ourique e Moura (PS), que reclamam uma solução imediata para proteger as populações e prevenir tragédias no verão que se avizinha. Também a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral (CIMAL) e a estrutura distrital do PS em Beja criticaram a falha no dispositivo.
A Diretiva Operacional Nacional (DON), que estabelece o DECIR, prevê a operação de 76 meios aéreos durante o mês de junho, correspondente ao chamado “nível Charlie” de risco. Contudo, apenas 67 estão atualmente operacionais, segundo os dados atualizados pela ANEPC e pela FAP. Das 69 aeronaves disponíveis, duas estão fora de serviço devido a operações de manutenção, agravando a escassez de meios.
A Força Aérea sublinha que o seu papel é apenas o de contratar e garantir a disponibilidade das aeronaves, cabendo à Proteção Civil decidir onde e quando colocá-las. A FAP prevê ainda reforçar o dispositivo com mais dois aviões até ao final do mês, embora sem data exata para a sua entrada em operação.
Segundo a ANEPC, estão atualmente operacionais 36 helicópteros ligeiros, com base em CMAs distribuídos por todo o país — de Arcos de Valdevez, Famalicão e Fafe, até Montijo, Évora, Monchique e Loulé. Juntam-se ainda cinco helicópteros pesados, localizados em Macedo de Cavaleiros, Braga, Pombal, Ferreira do Zêzere e São Brás de Alportel, e quatro helicópteros de reconhecimento e coordenação, com base em Vila Real, Lousã, Ponte de Sor e Beja.
Apesar da cobertura nacional, o Alentejo continua a registar falhas num momento crítico da época estival. Esta semana, vários incêndios rurais deflagraram no distrito de Beja, sem que os meios aéreos previstos para a região estivessem disponíveis para resposta imediata. A tensão entre o poder local e as autoridades centrais cresce, e a ausência de coordenação pode ter consequências graves num território marcado por vastas áreas florestais e risco elevado de propagação de fogos.
À medida que as temperaturas sobem e os avisos meteorológicos se intensificam, a ausência de helicópteros nos pontos estratégicos do Alentejo representa um risco real para a segurança das populações e para o controlo eficaz dos incêndios florestais.