
"Vamos ter obras da artista canadiana Renée Gagnon, com um trabalho notável em Angola, sobre os musseques nos anos 1970, autorizado pelo próprio presidente Agostinho Neto", indicou o galerista Carlos Cabral Nunes, durante a montagem do expositor na feira que inaugura oficialmente quinta-feira.
A palavra musseque deriva da língua local kimbundu, e designa os terrenos arenosos à volta da cidade de Luanda, onde se situavam os bairros suburbanizados desde o século XVIII.
Renée Gagnon documentou em fotografia a vida nos musseques, revelando a riqueza cultural e artística dessas estruturas, com detalhes minuciosos das ruas, becos, janelas e portas.
Além da divulgação da obra da artista canadiana, a Perve Galeria estará este ano na ARCOlisboa com o propósito de "dar a conhecer o artista João Artur da Silva, um dos pioneiros do movimento dos surrealistas em Portugal, da década de 1940, "praticamente desconhecido no país".
"Este artista tem um trajeto destacado em Inglaterra e no Canadá, e é provavelmente o único artista deste movimento nascido nos anos 1920 que continua ativo. Aos 97 anos, continua a pintar", realçou Cabral Nunes.
O galerista recorda positivamente as anteriores presenças na ARCOlisboa, e tem boas expectativas para a oitava edição: "Este ano fizemos um maior investimento, temos um expositor de grande dimensão. É um risco maior, mas assinalar os 50 anos das independências dos Países de Língua Oficial Portuguesa também é muito importante".
A Feira Internacional de Arte Contemporânea ARCOlisboa abre quinta-feira com 83 galerias, novos prémios e entrada gratuita alargada "para atrair o público jovem", segundo a organização, que reservou dois dias livres para visitantes até aos 25 anos.
Até domingo, a oitava edição, que voltará a decorrer no edifício da Cordoaria Nacional, juntará galerias de 17 países, com 30 portuguesas e 53 estrangeiras, dando especial relevo às presenças de Espanha, Alemanha, Itália e Brasil.
Depois de em edições anteriores a ARCOlisboa ter aberto portas gratuitamente a jovens até aos 25 anos durante uma tarde do certame, a opção da direção foi estender essa entrada a duas tardes, na sexta-feira (dia 30 de maio) e sábado (dia 31 de maio), a partir das 15:00.
A feira será composta por três núcleos: Programa Geral, com 61 galerias, Opening Lisboa, comissariado por Sofia Lanusse e Diogo Pinto, com 18 galerias, e "As formas do Oceano", núcleo comissariado por Paula Nascimento e Igor Simões, reunindo projetos centrados em África, a sua diáspora e outras geografias, em cinco galerias.
O programa internacional previsto trará 150 convidados a Lisboa, entre diretores de museus, curadores, galeristas e outros profissionais do setor, "para dar visibilidade à feira e para que se interessem nos conteúdos da cidade nesta área", apontou a responsável à Lusa.
Nos últimos três anos, a afluência à ARCOlisboa passou de 11 mil visitantes, em 2022, para mais de 13 mil, em 2023 e em 2024, segundo os números da organização.
Outra novidade, este ano, será a atribuição de novos prémios, entre os quais o Prémio de Aquisição Museu de Arte Contemporânea Armando Martins (MACAM), lançado este ano na ARCOmadrid, e o Prémio Aquisição Coleção Studiolo -- Candela A. Soldevilla, da colecionadora espanhola.
Além destes, mantêm-se o Prémio Opening Lisboa, o Prémio Fundação Millennium bcp para o Melhor Stand, e também as aquisições da Fundação ARCO e da Câmara Municipal de Lisboa.
O Programa Geral contará com a estreia de galerias como Travesia Quatro, Duarte Sequeira, Set Espai d´Art e Each Modern, enquanto outras irão regressar após um interregno, como é o caso de Vermelho, Nuno Centeno, Rosa Santos, Fonseca Macedo e a Galeria de Las Misiones, que se juntam a outras já com presenças habituais, como as portuguesas Vera Cortês, Francisco Fino, Madragoa e Cristina Guerra Contemporary Art.
Neste núcleo estarão ainda projetos a solo de artistas como Diogo Pimentão, Miki Leal, Andrei Ibarra, Amélie Esterházy, Sonia Navarro, Justin Weiler e Manuel M. Romero, entre outros.
O setor comissariado "As Formas do Oceano" irá reunir cinco galerias: African Arty (Marrocos), Afronova (África do Sul), Christophe Person (França), Karla Osorio (Brasil) e Reiners Contemporary Art (Espanha).
O programa desta oitava edição da ARCOlisboa inclui ainda visitas a museus e a galerias de arte, lançamentos de livros, conversas e debates.
A inauguração oficial da ARCOlisboa está prevista para as 16:30, na Cordoaria Nacional, com a presença da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, que farão uma visita à feira com os convidados.