
Bispos católicos alertaram nesta Quarta-feira para a “iminência de convulsões” porque grande parte da população angolana está em condição de indigência devido ao agravamento da carência alimentar, originada pela “penalizante carga fiscal e salários sem poder de compra”.
A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), em nota de reflexão pastoral sobre a situação atual do país, manifestam-se preocupados com a atual situação social das famílias angolanas, que dizem ter sido agravada com o aumento dos preços dos combustíveis e de outros serviços.
“Sentindo o grito do nosso povo e partilhando com ele as suas preocupações, eis que erguemos a nossa voz pela paz social e em defesa dos que menos podem suportar a carestia de vida, nos últimos tempos agravada com o aumento generalizado dos preços”, afirmam os bispos angolanos.
Para os bispos da CEAST, a maioria da população angolana enfrenta uma “visível angústia” devido às últimas medidas económicas registadas no país, marcadas sobretudo pelo aumento gradual dos custos dos principais produtos e serviços, provocado pela subida dos preços do gasóleo.
Dizem constatar o “preocupante agravamento da carência alimentar e dos meios de sobrevivência em geral da maior parte das pessoas em todo território nacional”, e apelam igualmente aos decisores públicos e a todas as forças sociais que as atuais medidas económicas “clamam por concertações sociais mais inclusivas e ponderas antes da sua implementação”.
Os bispos angolanos, reunidos em Luanda em conselho permanente alargado, consideram mesmo que a “escalada dos preços dos combustíveis funcionaram como o principal gatilho para a degradação social dos tecidos mais frágeis da sociedade, que antes viviam com parcos meios”.
Com o aumento dos combustíveis, cidadãos em Angola “veem-se agora na condição de indigência e sob asfixiante perda do poder de compra, sendo que os salários continuam a não crescer na mesma proporção”, sinalizam.
“Esta realidade é ainda penalizante pela pesada carga fiscal, que sujeita as pessoas a impostos múltiplos, deixando poucas alternativas a vida com dignidade a que se tem direito como pessoas”, refere-se na nota.
Há mais de uma semana que a tarifa dos táxis colectivos em Angola passou a ser de 300 kwanzas (0,28 euros) por viagem e a dos autocarros urbanos sobe para 200 kwanzas (0,19 euros) por viagem, desde Segunda-feira, uma medida que surge na sequência do aumento do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por litro (0,28 para 0,37 euros) a partir de 04 de julho.
A situação deu origem à manifestação no Sábado passado, em Luanda, reprimida pela polícia com o lançamento de gás lacrimogéneo, facto que resultou em detenções, feridos e desmaios, como relataram os manifestantes na ocasião.
Para repudiar a actual situação socioeconómica do país, nomeadamente a subida do preço das propinas, dos combustíveis, da corrida do táxi, da água e eletricidade e do desemprego, os ativistas angolanos agendaram manifestações em várias províncias do país nos dias 19 e 26 de Julho.
Entendem os bispos angolanos que os protestos sociais resultam da “inevitável indignação popular” que “pode ameaçar a paz social, que começa a ser abalada por movimentos reivindicativos, muitas vezes reprimidos indevidamente por forças da ordem”.
Os religiosos criticam mesmo o “uso desproporcional da força policial, quando está em causa o legítimo direito de indignação popular”, e alertam que este “particular e melindroso” momento da história do país “colocam-nos sob o iminente perigo de convulsões a que já assistimos de forma intermitente”.
De acordo ainda com os bispos da CEAST, a crescente carestia de vida, agora agravada pelas actuais medidas governamentais, clama por nova forma de abordagem de quem administra o bem público, exortando o Governo a rever as últimas medidas e encontrar caminhos menos penalizantes para os cidadãos.
Recordam igualmente que o país se prepara para celebrar 50 anos de independência, em 11 de Novembro próximo, considerando que para os cidadãos seria uma belíssima prenda eles sentirem o “aligeirar do pesado fardo de uma economia penalizante”.