
Os dados são do mais recente relatório da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) e do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI).
Apesar do avanço, o crescimento anual foi modesto, com apenas 70 megawatts (MW) adicionados, metade dos quais resultantes de 'repowering' -- a substituição de equipamentos antigos por novos. Números que refletem um ritmo de expansão aquém do necessário para atingir os objetivos traçados no PNEC, que aponta para 10,4 GW de potência eólica 'onshore', através dos aerogeradores instalados em terra, até ao final de 2030.
Em entrevista à Lusa, o presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, sublinha que o ritmo atual está abaixo do necessário. "Estamos com muito atraso face à implementação das metas desde 2019. Tirando alguns projetos de sobreequipamento, a grande expansão recente tem ocorrido no solar", afirmou.
Mesmo com um esforço de aceleração, "provavelmente só vamos conseguir atingir os objetivos do PNEC em 2031 ou 2032", disse o responsável.
Para tentar recuperar o tempo perdido, a associação aponta três medidas essenciais: o avanço de contracts for difference (CFD) -- contratos celebrados entre o Estado e os produtores que garantem um preço fixo por megawatt-hora durante um determinado período -- para projetos de 'repowering' e novos investimentos, a hibridização entre centrais solares e eólicas, aproveitando os mesmos pontos de ligação à rede, e a simplificação do licenciamento dos centros eletroprodutores, atualmente em revisão com a implementação de um balcão único.
Além disso, a transposição da diretiva europeia das energias renováveis, incluindo o reconhecimento do interesse público prevalente das renováveis sobre outros usos do território, é vista como crítica para ultrapassar os bloqueios ambientais e acelerar projetos.
Apesar dos constrangimentos, o setor vê sinais encorajadores. Como Pedro Amaral Jorge explicou, Portugal tem bom recurso eólico, quer pela medição direta nos locais instalados, quer por extrapolação de dados de satélite.
"A qualidade do vento em Portugal é uma vantagem competitiva clara, sobretudo se a rede de transporte for reforçada nas zonas com maior potencial", referiu o presidente da APREN.
Outro eixo estratégico é a eólica 'offshore', produzida em alto-mar, que continua em fase preparatória.
O Governo mantém a meta de 2 GW instalados até 2030, mas o leilão público, essencial para dar início ao processo, ainda não arrancou, com o executivo a prever que o concurso seja lançado em 2025. "Espero que a pré-qualificação técnica e financeira aconteça ainda este ano", afirmou o responsável da associação.
A região dos Açores surge também como prioridade estratégica, com novos projetos em desenvolvimento. "É fundamental garantir a descarbonização em todo o território, mesmo nas ilhas, onde a complementaridade entre hídrica, solar, geotermia e eólica pode garantir mais de 85% de eletricidade renovável", afirmou.
O relatório evidencia também que Portugal está a perder terreno face a outros países, como Alemanha, Espanha, França ou Reino Unido. A taxa de crescimento da capacidade eólica instalada caiu face a 2023. Ainda assim, Portugal mantém uma posição de destaque na integração de renováveis na produção elétrica: é o quarto país europeu com maior incorporação de fontes renováveis, superando os 85% em 2024.
"A competitividade na captação de investimento depende do quadro regulatório e contratual. Não basta ter recurso eólico, é preciso condições estáveis e atrativas", defendeu o presidente da APREN.
E deixou o alerta: "Se o consumo elétrico crescer - como previsto no PNEC até aos 90 terawatt-hora (TWh) - e o investimento não acompanhar, perderemos essa posição de liderança".
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