Há uma maré de investimento no Aeroporto Internacional da Madeira por parte da NAV Portugal. A gestora instalou um novo sistema de deteção de ventos, para testar a possibilidade de aumentar os limites de vento até aos quais os aviões são autorizados a aterrar, os atuais datam de 1964. Em janeiro arranca a operação sob a exploração do IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
A gestora de tráfego aéreo vai avançar também com a construção de uma nova torre de controlo, um projeto que estava previsto desde 2019, mas que esperava luz verde do Executivo e da ANA. O objetivo, sabe o Expresso, é que a nova torre seja construída nos próximos três anos, e esteja pronta em janeiro de 2028.
A operação no Aeroporto Internacional da Madeira, localizado no concelho de Santa Cruz, na zona leste da ilha, é frequentemente afetada pelas condições de vento, impedindo muitos voos de aterrar ou levantar voo. O novo sistema de deteção de ventos permitirá um conhecimento mais efetivo da situação num muito curto prazo de tempo, permitindo tomar decisões mais rapidamente.
Denominado MADeira Winds (MAD Winds), este novo sistema é composto por um Radar Banda X, um sistema LIDAR e um sistema de processamento que analisa dados meteorológicos com alta precisão, diz a NAV. Oferece um suporte essencial às decisões operacionais durante as fases mais críticas do voo, nomeadamente aproximação, aterragem e descolagem. E vai permitir recolher dados e verificar se os atuais limites de vento a partir dos quais as aeronaves podem aterrar ou levantar voo sejam aumentados.
O MAD Winds vai ter um período de pré-operação de um ano, durante o qual será avaliado e submetido a ajustes para otimizar o funcionamento face às características do Aeroporto da Madeira, o único no mundo cujos limites de vento são obrigatórios – 15 nós. São limites que foram impostos em 1964 e definidos com base em estudos que usaram um avião DC3 da II Guerra Mundial, quando a pista tinha 1.600 metros, sendo que atualmente tem 2.781.
“Passado este ano, esperamos que a ANAC [Autoridade Nacional de Aviação Civil] tenha toda a informação necessária para poder reequacionar a revisão dos limites da operação com vento”, disse o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Espírito Santo, na cerimónia no Funchal, citado pela Agência Lusa.
Segurança será prioritária
Hugo Espírito Santo, que se deslocou à Madeira para o evento, garantiu que a questão da segurança será sempre tida em consideração. Aliás, uma das missões da NAV, instituição liderada por Pedro Ângelo, é precisamente garantir a segurança do tráfego aéreo.
“Nunca vamos claudicar na segurança, mas não quer dizer que sejamos inamovíveis naquilo que existe”, explicou o secretário de Estado, para logo reforçar: “Vamos ter os factos, vamos ter os dados e vamos obviamente repensar [os limites de vento], tudo feito com a segurança enquanto prioridade máxima.”
De acordo com a NAV Portugal, cerca de 80% das divergências de voos motivadas atualmente pelo vento estão apenas até três nós acima dos limites impostos, pelo que o novo sistema é uma “ferramenta crucial” para uma avaliação mais precisa e potencialmente mais favorável à operação.
O LIDAR (para avaliar as condições com tempo seco) e o Radar Banda X (com precipitação) garantem a deteção e alerta para fenómenos meteorológico de turbulência e ‘windshear’ (rápida variação do vento) nas zonas de aproximação à pista.
NAV aponta para maior previsibilidade
“A implementação do LIDAR e do Radar Banda X não apenas melhora a segurança, mas também reforça a previsibilidade das operadoras aéreas e da vida dos passageiros”, explicou o presidente executivo da NAV, citado pela Lusa. Pedro Ângelo defendeu que se trata de um “passo importante para consolidar a imagem do Aeroporto da Madeira como infraestrutura confiável e essencial ao crescimento sustentável da região”, bem como para atração de novas companhias aéreas.
O novo sistema, alertou Pedro Ângelo, não irá eliminar a problemática dos ventos na zona do aeroporto.
“É importante enfatizar que este sistema não elimina completamente os desafios impostos pelas condições de vento extremas, que continuarão a exigir adaptações operacionais”, avisou.
Pedro Ângelo disse, por outro lado, que, com este sistema, o Aeroporto da Madeira torna-se um dos poucos no mundo a beneficiar de tecnologia de ponta para mitigar condições adversas de vento, a exemplo do de Hong Kong (China) e o de Palermo (Itália).
A NAV Portugal tem infraestruturas para a prestação de serviços de tráfego aéreo nas Torres de Controlo de Lisboa, Cascais, Porto, Faro, Funchal, Porto Santo, Santa Maria, Ponta Delgada, Horta e Flores.