
O presidente do FC Porto, André Villas-Boas, disse esta quinta-feira em tribunal que a polícia deveria ter sido chamada à assembleia geral do clube em novembro de 2023, na terceira sessão do julgamento da Operação Pretoriano.
Na qualidade de representante legal da SAD portista no processo, acusou no Tribunal de São João Novo, no Porto, os órgãos sociais do clube e em particular o então presidente da Mesa da Assembleia Geral, Lourenço Pinto, de inoperância na resposta aos desacatos na reunião magna, perante o que considerou “comportamentos indignos e intimidatórios”.
“Ninguém gosta de ver os associados do FC Porto a terem comportamentos intimidatórios para com outros associados. Os órgãos sociais do FC Porto ficaram inertes perante o que estavam a ver. A certo ponto, tinha de ser chamada a polícia e essa responsabilidade cabia ao presidente da AG. Pedi ao meu advogado para chamar a polícia mais do que uma vez pelos relatos que vinham chegando”, afirmou.
O dirigente declarou conhecer, dos arguidos, Fernando Madureira, Sandra Madureira, Vítor Catão e Fernando Saul, dizendo depois que não chegou a entrar no auditório ou no Dragão Arena, para onde foi mudada a reunião magna extraordinária.
Villas-Boas rejeitou a tese veiculada por vários arguidos de que teria vindo da sua então putativa candidatura à presidência dos dragões a intenção de “arregimentar” pessoas para marcar presença na AG, considerando a forte adesão um “movimento orgânico”, realçando que a grande adesão se deveu ao que estava causa na altura.
“Também com o que estava em causa, por mudar os estatutos a seis ou sete meses das eleições, e tudo o que poderia contemplar, como possíveis adiamentos das eleições, dado que a mudança estatutária indicava a possibilidade de o presidente da Mesa da Assembleia Geral adiar eleições por motivos de força maior”, pontuou.
O presidente portista confirmou que não chegou a entrar no pavilhão do Dragão Arena por aconselhamento do advogado, que considerou que a reunião deveria ter sido impugnada, mas que esteve na fila de entrada, não tendo chegado à fase de acreditação. Por isso, nega ter presenciado episódios de coação, de que teve conhecimento por relatos de adeptos e comunicação social.
O líder dos ‘azuis e brancos’ alegou que a aprovação da revisão estatutária em votação permitiria à claque Super Dragões obter mais benesses, de modo a saldar uma dívida de “vários milhões” ao clube, e acrescentou que na auditoria realizada "foram detetadas várias ilegalidades", levando à revisão do protocolo com os Super Dragões.
Por requisição da advogada de Fernando Saul, Cristiana Carvalho, um vídeo que alegadamente mostra André Villas-Boas a instruir adeptos a ceder cartões de sócio para que votassem nas eleições de abril último, ação que o líder ‘azul e branco’ negou, poderá vir a ser admitido no processo, para que o assistente seja confrontado com ele.
A presidente do coletivo de juízes, Ana Dias Costa, deu um prazo à advogada dos portistas, Sofia Ribeiro Branco, para o analisar, mesmo com objeção do Ministério Público à sua inclusão.
Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões e a mulher, Sandra Madureira, começaram na segunda-feira a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.
Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.
Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases, incluindo Sandra Madureira, Fernando Saul, Vítor Catão ou Hugo Carneiro, igualmente com ligações à claque.