
No desporto europeu é comum que os jovens atletas tenham as primeiras oportunidades nas equipas seniores a caminho da maioridade. Nos Estados Unidos... é ligeiramente diferente.
Após passagem pelo desporto universitário, nem que seja durante um ano, o salto para o lado profissional é selado a partir do draft, um espetáculo televisionado em que as equipas em competição escolhem os titulares (e os suplentes) do amanhã.
Na madrugada de sexta-feira desenrola-se o draft da NFL e A BOLA ajuda a desconstruir um evento onde são tomadas decisões que valem milhões de euros em ambiente de autêntico festival.
Três dias para decidir futuro de 257 jogadores
A extensão elevada de um plantel de futebol americano, habitualmente constituído por 53 elementos, obriga a que o draft tenha mais rondas do que por exemplo na NBA, em que cada equipa é composta por 15 atletas.
No total, 257 jogadores vão ser escolhidos pelas 32 equipas da NFL, ao longo de sete rondas, número fixo desde 1994. Para as 2h da madrugada de sexta-feira em Portugal Continental,20h nos Estados Unidos, está reservada a primeira ronda, prato principal de um menu que se estende até sábado. 32 jogadores vão saber pela voz do comissário da NFL, Roger Goodell, a primeira morada da carreira sénior que estão prestes a iniciar.
Para o dia seguinte ficam reservadas a segunda e a terceira ronda, enquanto as quatro finais terão lugar no dia 26. Nestes dois dias as escolhas são anunciadas por figuras ligadas a cada clube, sejam jogadores, dirigentes ou até adeptos.
Esta flexibilidade já proporcionou vários momentos para a história, desde provocações entre rivais até a escolhas feitas... numa piscina. Esta temporada, os Los Angeles Rams destacam-se ao transformarem uma sala de uma das sedes do departamento de bombeiros na cidade dos anjos no quartel-general da equipa para a presente edição do draft.
No draft, quem mais perde sai a ganhar
Ao contrário da NBA, na NFL, o mau desempenho numa temporada é “recompensado” com uma escolha mais alta. Na última edição, a conquista de apenas três vitórias em 18 jogos por parte dos Tennessee Titans garantiu-lhes a primeira escolha do draft. Em sentido contrário, os campeões em título, Filadélfia Eagles, têm apenas direito à 32.ª e última escolha da primeira ronda e do dia inaugural do draft.
32 equipas procuram colmatar lacunas que o mercado livre não resolveu, tendo em conta o rendimento dos atletas na competição de futebol americano universitário, mas também nos testes feitos à porta aberta e fechada e reuniões para analisar o perfil fora de campo dos jogadores elegíveis.
Apesar da probabilidade de um jogador escolhido na sexta ou na sétima ronda ter um impacto imediato na equipa que o selecionou ser manifestamente baixa, há exceções que comprovam que o scouting pode gerar resultados inesperados. Tom Brady, considerado por muitos o melhor jogador de sempre da NFL, foi escolhido na sexta ronda do draft da NFL de 2000, em 199.º, pelos New England Patriots.
Quem são as principais estrelas do draft de 2025?
Travis Hunter: No ensino secundário americano é habitual que um jogador desempenhe funções no ataque e na defesa para encontrar a posição que maximiza as características fisicas e técnicas que o diferenciam, e que vai desempenhar no futebol americano universitário. No caso de Hunter isso não aconteceu. Ao serviço da Universidade de Colorado, o atleta de 22 anos destacou-se como wide receiver e cornerback e recebeu mesmo o prémio de melhor jogador da última época. Segue-se a NFL e já avisou que não descarta alternar entre posições.
Shedeur Sanders: Companheiro de Travis na faculdade, o quarterback procura demonstrar que o apelido não entra em campo. Filho do icónico cornerback duas vezes campeão Deion Sanders, Shedeur prefere atirar a agarrar e quer sair da sombra do pai, que o treinou no Colorado.
Dillon Gabriel: O potencial do quarterback não está equiparado ao de Abdul Carter, indubitavelmente o melhor defensor no draft, mas aos 24 anos é um dos projetos mais intrigantes no draft. Seis (!!) anos e três equipas depois no futebol universitário, o quarterback declarou-se finalmente elegível para a Liga Profissional, onde jogadores da mesma idade vão a caminho da quinta temporada, como Ja'Marr Chase dos Cincinnati Bengals.
A história do 'senhor irrelevante'
Num certame em que cada detalhe tem simbolismo, até a última escolha é motivo de interesse. Intitulado o “senhor irrelevante”, este jogador muitas vezes nem tem a oportunidade de se equipar pela equipa que o escolheu e torna-se apenas numa resposta em noites de trívia.
Ainda assim, de quando em vez, o senhor irrelevante adquire uma importância cabal de forma inesperada, como foi o caso de Brock Purdy. O quarterback oriundo de Iowa State foi o último jogador a ser escolhido no draft de 2022, pelos San Francisco 49ers.
Após os dois concorrentes de posição se terem lesionado, Purdy assumiu as rédeas de uma das melhores equipas na NFL na época de estreia e levou-a até à final da conferência NFC no final da época, e ao Super Bowl na primeira temporada completa como titular. Três temporadas depois, o quarterback de 25 anos segue como figura de proa em São Francisco.
Decisões importantes tomadas em ambiente de festival
De forma a aproximar e promover a Liga por todo o país todos os anos, o draft alterna o local. Esta temporada, a sede do evento será Green Bay, no Wisconsin, casa dos Packers, uma das equipas mais histórias da Liga.
De acordo com a estratégia da NFL, na qual o jogo dentro do relvado apenas constitui parte do espetáculo, o próprio draft é construído com vista ao enriquecimento da experiência do adepto, que tem direito a concertos, a contactar com os ídolos de uma vida ou até pisar o relvado de um estádio profissional. A extravagância das oportunidades reflete-se no preço astronómico dos pacotes oferecidos para assistir ao evento, que ultrapassam os mil euros.
A festa dos adeptos contrasta com a ansiedade centenas de atletas que nos próximos três dias vão descobrir se vão concretizar o sonho de uma vida. A partir das 2h da manhã, o relógio começa a contar para os Tennessee Titans...