A caminho do terceiro treinador da época, a nova aposta do Boavista FC motivou desconfiança nos seus adeptos. Stuart Baxter, escocês de 71 anos, sucede a Lito Vidigal no comando técnico e conta com uma longa carreira no futebol internacional e, em especial, na África do Sul.

Quando faltam realizar apenas cinco encontros no campeonato (dois deles frente a Sporting e Porto), Baxter tem uma difícil missão para concretizar: fugir aos lugares de despromoção.

Talvez seja desconhecido para o comum dos Axadrezados, mas Baxter já teve o prazer de se relacionar com nomes aclamados no futebol mundial, tais como David Beckham, Arsène Wenger e Sven-Göran Eriksson.

Com passagens por países como Japão, Suécia, Noruega e África do Sul, o treinador conta com um vasto currículo e inúmeros títulos por diferentes clubes. Foi no campeonato sueco que deu o primeiro salto na carreira.

A «velha raposa» que agarra resultados

Recuemos ao ano de 1998 . A comandar os destino dos suecos do AIK, o emblema de Solna, Baxter conseguiu o feito inacreditável de ser campeão nacional com o pior registo de golos marcados nessa mesma edição. Ao todo, o timoneiro escocês liderou em 26 jogos e contabilizou 11 vitórias, 13 empates e duas derrotas. Contas feitas, campeão nacional sueco com 25 golos marcados e 15 sofridos. Conseguiu o registo de, na mesma edição, ser campeão com o pior ataque (o último classificado marcou por 26 vezes) e a melhor defesa.

Sendo campeão, o AIK qualificou-se para as eliminatórias de qualificação da Liga dos Campeões do ano seguinte, em 1999/00, e chegou à fase de grupos depois de passar por Dnepr Mogilev e AEK. Chegado à fase de grupos, o sorteio ligou o treinador a nomes conhecidos mundialmente e também do panorama luso. No Grupo B, os suecos emparelharam com clubes como a Fiorentina orientada por Giovanni Trapattoni, o Arsenal treinado por Arsène Wenger e o mítico Barcelona, com nomes como o de Luís Figo, Simão Sabrosa, Xavi Hernandez, Pep Guardiola e Luis Enrique orientados por Louis van Gaal.

Na maior competição europeia, a vida do técnico não se demonstrou fácil, e o AIK arrecadou apenas um ponto na fase de grupos, ao empatar com a Fiorentina (0-0) do técnico italiano que passou pelo Benfica. Ao todo, a equipa sueca lutou muito nos jogos disputados e contou com resultados em que caiu com honra, tal como no embate frente a Arsenal (2-3) ou na receção frente a Barcelona (1-2). Nesse mesmo ano o AIK venceu a Taça da Suécia. Anos mais tarde levantou novamente o troféu, pelo Helsingborgs IF, em 2006.

Contudo, foi na África do Sul que Baxter desenvolveu grande parte da sua carreira mais recente. Com passagens por Kaizer Chiefs e Supersport United, o escocês venceu grande parte dos seus títulos no continente africano.

Com uma passagem recente pelos Amakhosi na temporada 2021/22, Daniel Cardoso foi um jogador chave no seu plantel, onde realizou 22 jogos. O defesa, com dupla nacionalidade (portuguesa e sul-africana), deixa através de palavras ao zerozero rasgados elogios ao novo técnico das Panteras Negras.

Um discurso que atenuará a normal desconfiança da alma boavisteira.

«É amigo de Wenger e de grandes treinadores»

Natural de Joanesburgo e com pai português, Daniel abandonou a escola para seguir o sonho de ser jogador profissional de futebol.

O defesa de 36 anos foi treinado por Stuart Baxter na época de 2021/22. Fez 22 jogos nessa época e o clube terminou em quinto lugar. Com pai português, o atleta aprendeu a língua de Camões quando era criança e, embora não a fale, consegue entendê-la.

Depois de uma tarde de treino, Cardoso diz-nos conhecer «muito bem» Stuart Baxter. O defesa expressa os maiores elogios ao técnico e explica como é o modelo de jogo do mesmo.

«O Boavista conseguiu um treinador muito bom», começa por dizer-nos. «Depois de ter deixado o cargo de selecionador nacional da África do Sul, o Stuart assumiu o comando dos Kaizer Chiefs e passou a ser um dos melhores treinadores do país. Venceu todos os troféus domésticos durante este período na África do Sul e tem um grande currículo, em grandes competições (ficou em segundo lugar na Taça da Confederação CAF em 2017 pelo Supersport United) e encontrou grandes jogadores», referiu.

O jogador de 36 anos revelou ainda que Stuart Baxter teve contacto com nomes como Sven-Göran Eriksson, que foi o selecionador de Inglaterra, e Arsène Wenger: «É um grande amigo de Wenger e de grandes treinadores em todo o mundo. Penso que foi no jogo em que David Beckham marcou um livre direto por Inglaterra contra a Grécia. Ele (Stuart Baxter) fazia parte da equipa técnica de Inglaterra, então é um treinador muito reconhecido.»

O jogador confirmou também o estilo de jogo do técnico e a sua maior qualidade no exercício da profissão: «Gosta de jogar bom futebol e de construir a partir de trás. É o típico treinador inglês. Gosta de jogar pelas alas e de ter um avançado grande e forte fisicamente. Adora jogadores que trabalham muito e adora motivar pessoas.»

«Exibe vídeos de jogos e gosta de mostrar aquilo que conquistou ao longo da sua carreira para que os jogadores entendam a ideia do que quer conquistar. Como eu disse, ele é muito motivador e sem dúvida que consegue tirá-los (Boavista) da zona de despromoção. Os Kaizer Chiefs foram uma das melhores equipas na África do Sul dos últimos anos e têm milhões e milhões de fãs. O Stuart ganhou a liga com eles. Ele consegue lidar com a pressão», completou.

«Ele consegue agarrar resultados»

Com a tarefa árdua de recuperar oito pontos em cinco jogos para ascender ao último lugar de salvação na Liga Portuguesa, que pertence ao Estrela da Amadora, Daniel Sousa tem confiança de que o clube da cidade do Porto fez a escolha certa na seleção da nova equipa técnica.

«Repare, ele é sem dúvida um treinador que consegue agarrar resultados. É um treinador que consegue mudar o rumo do jogo e jogar em qualquer formação e estilo e vai conseguir adaptar os jogadores. A melhor qualidade deste treinador é a motivação. A motivação vai chegar aos atletas e ele é mesmo muito bom a motivar a equipa. Os treinos são excelentes e foi um dos melhores treinadores com quem trabalhei na minha carreira», revelou.

@Boavista

Sobre o nível de seriedade e exigência que impõe nos seus treinos, o português explica como o técnico costuma agir: «O Stuart (Baxter) adora fazer piadas quando é o tempo certo, mas consegue ser um homem muito sério quando é para trabalhar. É o tipo de treinador que te vai tirar de um treino se não estiveres empenhado e a brincar. Ele não está lá para brincadeiras porque sabe que o seu trabalho está sempre em risco.»

«Foi quem me levou para a seleção nacional antes de rumar ao Kaizer Chiefs. É uma ótima pessoa e posso dizer que a sua vida sempre foi no futebol. Tem uma tarefa muito difícil em mãos, mas eu acredito que vai conseguir fazer um bom trabalho e tirar o Boavista da zona de despromoção. Estarei a torcer por ele e a assistir como corre a sua aventura na Primeira Liga de Portugal. Ele costumava falar muito com o Arsene Wenger. Sem dúvida que vai contar muitas histórias ao plantel e motivá-los», conclui.

Nos Kaizer Chiefs, Stuart Baxter foi mais feliz na sua primeira passagem, entre 2012 e 2015. Ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar e chegou a selecionador nacional de África do Sul, onde teve contacto com grandes nomes do futebol sul africano, tal como Benni McCarthy, que passou por clubes como Ajax, FC Porto e Blackburn Rovers.

Com o clube Axadrezado a passar por uma das fases mais delicadas na sua história, há cinco finais que serão vitais para a continuidade do clube na primeira divisão. A próxima dessas finais é contra o também aflito Farense, que será disputada no próximo sábado, 18 de abril, às 15h30.

* por Jorge Ricardo