
A distância dilui certos hábitos e é até normal que nos esqueçamos do código de conduta vigente num lugar ao qual regressamos passado um tempo considerável. Por muito que anteriormente estivéssemos ambientados ao espaço, o retorno requer adaptação para que não nos sintamos desencaixados.
O coador da Liga das Nações retém na Divisão A apenas a nata da nata. Na última edição, Portugal conseguiu voltar ao escalão máximo, onde tinha estado aquando da estreia da prova, em 2023. Durante o período em que simultaneamente se disputou a qualificação para o Euro 2025, a equipa de Francisco Neto esteve à sombra das principais potências. Agora, no momento em que lhes voltou a apertar a mão, inicialmente a seleção nacional sentiu o aperto nas falanges.
Foram necessários alguns minutos para quebrar o gelo. A Inglaterra, campeã da Europa e vice-campeã do mundo, intimidou as jogadoras portuguesas. Ultrapassados os momentos de deslumbramento, Portugal equiparou-se às adversárias. Não fossem os prejuízos causados logo no arranque, quando Alessia Russo adiantou as Lionesses, e o resultado (1-1) até podia ter sido mais alegre. No retorno de Portugal ao convívio com os grandes, Kika Nazareth fez toda a diferença. Como a clave de sol, deu sentido a todas as outras notas.
Ainda assim, os danos começaram a ser causados por uma chuteira onde está gravada a bandeira de Portugal, mas que é calçada por uma internacional inglesa (com dupla nacionalidade). Lucy Bronze, cujos pais se conheceram no Algarve, região onde o jogo se disputou, cruzou para Russo marcar livremente na pequena área.
De nada serviu a linha de cinco defesas contra a largura dada por Bronze e a imponência da atacante do Arsenal. Ou seja, num lance, tudo o que Portugal tentava evitar com o 5-2-1-2 falhou. Não foi caso único. As inatas habilidades de Lauren James convidaram as portuguesas a verem-nas de perto, mesmo que ocorrer aos malabarismos significasse falhar no compromisso com outras marcações.
A jogadoras mais adiantadas, Diana Silva e Jéssica Silva, começaram a ser uma afronta a uma Inglaterra despojada de referências que ajudassem a linha defensiva. Leah Williamson nem deu por Diana quando regalou à jogadora do Sporting a oportunidade de concluir com perigo um lance no final da primeira parte. Portugal tinha definitivamente perdido a vergonha.
Faltava alguma clarividência na intermediação dos lances. E não, Kika Nazareth não tinha voto nesta matéria por estar recolhida no banco. Só aos 59 minutos foi incluída nas opções de Francisco Neto numa fase em que o fluxo de jogo português, desprendido da linha de cinco, tinha entrado em maré alta e invadido um pouco mais das zonas adiantadas do relvado.
Kika Nazareth veio mesmo dar o que faltava. Afinal, para jogar contra as melhores do mundo, era preciso a portuguesa que mais próxima está delas. Após a combinação com Ana Capeta, a criativa do FC Barcelona bem que foi importunada por Grace Clinton, mas nada a travou de aconchegar a bola no ângulo e empatar.
Portugal manteve uma supremacia cativante que, se prolongada para o resto da competição, é um bom incentivo à luta pela permanência num grupo que também inclui a campeã do mundo Espanha e a Bélgica. A longo prazo, o Euro que se disputa em julho também passou a acolher novas expectativas.