
Dois históricos do futebol português em momentos conturbados da sua história. De um lado está uma das cinco equipas a conquistar a I Liga, enquanto do outro está o maior vencedor de sempre da II Liga. O Belenenses bateu o Paços de Ferreira, este sábado, por 2-1, no primeiro jogo do Play-Off II Liga/Liga 3 2024/25.
Ambas as equipas têm um histórico recheado nos escalões profissionais do futebol português e é exatamente isso que está em jogo - marcar presença no futebol profissional na temporada 2025/2026.
O sol fazia-se sentir em Lisboa, mais precisamente em Belém, porém nem isso permitiu que os adeptos não marcassem presença na importante disputa. Duas bancadas do icónico Estádio do Restelo recheadas e pintadas de cores distintas - azul e amarelo -, mas com o mesmo objetivo na cabeça: vencer.
No restelo mandam os pastéis
Desde o apito inicial, a formação caseira começou muito bem a partida, com iniciativa na construção e mais posse de bola. João Nuno apostou numa abordagem invulgar em termos estruturais - uma linha com dois centrais, por vezes apoiada por um médio, e dois laterais muito projetados. A pouca povoação na zona recuada fez com que os adeptos da casa tremessem em vários momentos.
Por outro lado, os pacenses estavam ainda mais insatisfeitos. Os castores encontravam-se perdidos em campo e sem argumentos ofensivos para desmontar o bloco azul. Defensivamente, o registo foi ligeiramente melhor, todavia só não foram para o descanso em desvantagem devido à ineficácia adversária.

Perto do quarto de hora de jogo, o Belenenses criou a primeira grande chance de perigo. Muita confusão na área do Paços, com um corte providencial no último suspiro. Mais tarde, Diogo Leitão e Rodrigo Pereira colocaram os adeptos a gritar «golo». O médio apareceu à entrada da área e colocou a bola perto da baliza, enquanto o avançado, da mesma zona, colocou a redondinha a milímetros do poste.
Cada vez que existia uma bola parada para os Pastéis, a bancada do Paços tremia. A nulidade ofensiva da equipa nortenha sentia-se nos semblantes do povo na bancada. A primeira parte acabou com maior equilíbrio, mas fica a nota positiva para a turma do Restelo.
Pele de galinha
No reatar do encontro, o Paços de Ferreira decidiu aparecer em jogo e as emoções apareceram todas no período que restava. A pressão da equipa canarinha estava bastante mais alta e eficaz. Além disso, o primeiro lance de perigo foi criado pelos pupilos de Filipe Cândido, através de bola parada. Os visitados, fortemente apoiados pela onda azul, responderam de forma bastante positiva, com investidas de Evandro Barros.
A tendência do jogo voltou a ser igual à do primeiro tempo e o Belenenses abriu o marcador, com uma combinação entre Diogos a colocar os azuis em vantagem. Diogo Paulo serviu Diogo Leitão que, sozinho dentro da área, colocou um remate em arco longe do alcance de Marafona. O estádio explodiu, com adeptos a correr para as grades, e já se fazia a festa nas bancadas. Pouco depois, voltou a ser colocada mais lenha na fogueira.
O treinador da equipa de Belém mexeu nas suas peças e não podia ter dado mais certo. Aos 73 minutos, a vantagem aumentou devido a um golo made in banco de suplentes. Ekanga insistiu pelo flanco direito e Xavi Fernandes só teve de brilhar - mais um remate sem hipóteses para o guardião veterano do Paços de Ferreira.
A pele de galinha aparece quando os visitantes reduziram a desvantagem - a partir daí, nada voltou a ser o mesmo. João Pinto marcou de calcanhar e a bancada visitante voltou a sonhar. No entanto, no terreno de jogo existiu uma grande confusão na área caseira, tendo André Narciso recorrido aos cartões para manter os ânimos controlados - Camilo Triana sofreu ordem de expulsão, dois atletas do Paços ficaram amarelados.
O ambiente ficou ainda mais tenso, daí em diante, e as bancadas não paravam. Em campo, todos os atletas começaram a abordar cada lance como se fosse o último. A equipa do Restelo começou a acusar a pressão e, nos últimos minutos, foi o Paços quem imperou.
O típico chuveirinho fim de jogo apareceu, sempre sem sucesso, sendo que nos momentos finais já ambas as formações estavam ansiosas. O critério desapareceu e a vontade de vencer tomou conta dos futebolistas, dentro e fora de campo. Isso junto de duas nações fervorosas a berrar pelo sucesso das suas equipas - o Restelo virou um verdadeiro vulcão.
A vitória acabou por ser do conjunto azul, mas nada está encaminhado. O equilíbrio no fim do jogo pode muito bem servir de mote para os castores darem a reviravolta na sua casa, a tão icónica Mata Real. Adivinha-se uma festa do futebol no norte do país, à semelhança daquela vivida neste sábado calorento.
*por David Albano