O abuso e assédio sexual por parte de treinadores, e outros responsáveis com posições de poder, sobre as mulheres da equipa de biatlo dos Estados Unidos foram ignorados ou desculpados durante décadas por autoridades mais preocupadas em ganhar medalhas do que em responsabilizar os infratores.
As atletas dizem que Max Cobb, atual secretário geral da União Internacional de Biatlo [esqui em cross-country e tiro] foi informado de tudo ao longo dos anos, mas que não reagiu às denúncias, ignorou, mascarou e desvalorizou alimentando uma cultura de misoginia que custou carreiras, abusos e quase a morte de Grace Boutot, 33 anos.
Tinha 12 anos quando foi recrutada para o programa, em 2003. Começou a competir em biatlo no ano seguinte e a treinar com o recém-contratado treinador Gary Colliander quando tinha 15 anos. Os seus pais divorciaram-se e o treinador passou a ser um apoio. «Nunca pensei que ele fizesse alguma coisa para me magoar», disse a propósito do técnico 15 anos mais velho. Casado, convidou-a para ir à sua casa, massajou-lhe as pernas e esfregou-lhe as costas e as nádegas. Quando fez 18 anos, tudo piorou. «Beijos, carícias sexuais e sexo oral». Boutot diz que implorou que parasse e Colliander ignorou e ainda a avisou para não contar a ninguém se não arruinava-lhe a vida e a carreira no biatlo. Adorava competir, ficou entre a espada e a parede.
Rapidamente ficou deprimida, começou a cortar-se, lê-se na notas da terapeuta. A 7 de outubro de 2010, Grace foi encontrada por um colega de equipa com uma overdose de antidepressivos e foi internada. No dia seguinte Colliander pediu demissão e seis anos depois foi contratado pela equipa paralímpica. Hoje é diretor.
Boutot acusou também, o técnico da equipa júnior de biatlo dos EUA, o checo Vladimir Cervenka, de a ter agarrado e beijado à força, apalpando-a quando venceu a prata no Mundial de 2009. Voltou a denunciar o caso às autoridades desportivas competentes que desvalorizaram as denuncias. «Era assustador falar naquela altura, nunca me levaram a sério».
Mesmo assim continuou a tentar. Enfrentou a retaliação do Maine Winter Sports Center, depois de uma queixa de 2011 registada na Maine Human Rights Commission. Acusou o centro de não impedir a má conduta sexual de Colliander e ainda lhe terem cortado os treinos e o financiamento de equipamentos, viagens, alojamento, além de outras despesas relacionadas com a competição. Acabou por deixar de competir e chegou a acordo por 75 mil dólares. «A liderança do biatlo nos Estados Unidos escolhe apoiar predadores em vez das pessoas que foram abusadas».