
Franco Israel
Pela segunda época seguida, a teoria não o dava como titular, antes era suposto ser a sombra de Antonio Adán e quando de lá saiu para assumir a baliza, o Sporting contratou Vladan Kovačević. Na convivência com o espanhol e o bósnio, as circunstâncias deram oportunidades ao uruguaio para se estabelecer como número 1. Apesar de esguio entre os postes, atento nas defesas por instinto e de reflexos apurados em remates à queima-roupa, não correspondeu totalmente em ambas as abertas que teve nas ações que lhe pediram para se afastar mais das redes. Aos 25 anos é bicampeão nacional e, de novo, parece estar relegado a ser suplente. 4
Rui Silva
No Sporting das tríades, além do raro feito de ser campeão com três treinadores que saborearam o banco, a baliza também foi atípica na experimentação de um trio de guarda-redes. Contratado ao Real Betis em janeiro, o português acabou por ser o terceiro e definitivo guardião. Com experiência incomparável a quem o precedeu e habituado, pelo estilo de jogo que apanhou na equipa verde e branca espanhola, Rui Silva transpirou outra segurança, calma e postura, serenando a equipa e restaurando o antigo hábito nos adeptos de gritarem um “Ruuui” grave a cada bola agarrada pelas suas luvas. 6
Eduardo Quaresma
De caras o jogador-adepto da equipa, com o coração em riste na ponta das chuteiras, poucos como ele vão buscar combustível às emoções para se carburar nas grandes partidas. Se Inácio é o refúgio dos passes na defesa, Quaresma assumiu-se em definitivo como o central mais capaz a superar linhas de pressão sozinho, ao embalar com a bola. Teve as suas mazelas ao longo da temporada e só essas visitas às marquesas da fisioterapia parecem ter obstruído um ano de residência definitiva no onze do Sporting para o ainda jovem defesa (23 anos), cheio de margem para melhorar. Aquele golo ao Gil Vicente, na penúltima jornada, reforçou a sua afirmação como um dos garantes da alma da equipa. 7
Ousmane Diomande
A herança era tectónica: ser o esteio dos três centrais, o homem do meio, o que governa a linha e lhe organiza os comportamentos coletivos. O costa-marfinense é um dos melhores defesas da Liga, o mais destacado no Sporting em condições atléticas, força, agilidade e compostura diante dos adversários. Certeiro também é na ocupação dos espaços e nas dobras defensivas. Teve vários jogos a roçar o insuperável, um verdadeiro muro. O que trai Diomande é a intempestividade que nem sempre mantém contida, deixando-se atrair para picardias com adversários ou reações irrefletidas. Nenhum outro central dos leões roça sequer a sua aptidão para ser um dominador da área. 8
Ricardo Esgaio
Pão para toda a obra, tapa-buracos-mor do Sporting, o português nunca jogou tão pouco desde que regressou a Alvalade, em 2021, limitado a semear a sua influencia, como várias vozes lhe reconheceram durante a festa do título, pelo balneário e em manter todos sintonizados com a exigência nos treinos. Esgaio elevado a cuidador da alma da equipa. No campo, muito pouco contribuiu e o seu espaço na equipa vai minguando. 2
Gonçalo Inácio
Cada vez mais fulcral e insubstituível, não por ser o único central de origem canhoto, sim pelas impactantes características que tem e mais ainda pela apetência em jogar limpo da defesa. O internacional português teve outro campeonato a ligar passes com os médios, a ludibriar a pressão de avançados, a lançar Gyökeres com ofertas de bandeja e a ser o maior aferidor da capacidade do Sporting em sair a jogar da sua área. Sem Inácio, a equipa encrava atrás no início das jogadas. Contra as investidas dos adversários, foi a época mais estável do internacional português a defender, senhor de outra certeza nas disputas individuais, que não são o seu forte. 8
Jeremiah St. Juste
Pela terceira época nos leões o neerlandês falhou, pelo menos, 15 partidas por chatices físicas surgidas no seu arcaboiço frágil. Nenhuma arrelia lhe retirou velocidade, ainda é, por larga margem, o mais rápido dos centrais do plantel, em teoria o maior garante de a equipa poder viver com uma linha defensiva subida no campo. Mas St. Juste não iguala em concentração, no passe, na disputa de duelos ou na certeza dos posicionamentos o que assegura em capacidade de socorrer a equipa pela sua rapidez. Será o mais veloz, não foi o mais imune ao erro. 5
Matheus Reis
Entre ser o central da esquerda quando não houve Inácio ou servir em funções mais naturais, na ala, sem o pendor ofensivo de outros, o brasileiro amealhou muitos minutos e foi cumprindo sem espantar. Constante no que consegue ou não fazer, raramente comprometeu a equipa, sendo um dos esteios dos três títulos ganhos em cinco anos. 5
Maxi Araújo
Custou-lhe acostumar-se aos espaços mais exíguos, ao menor tempo para tomar a decisão, nos primeiros tempos, quando o beneficiava a rotação na ala esquerda com Nuno Santos para se ambientar ao futebol do lado de cá do charco. Com a grave lesão do português, o uruguaio impôs-se à força e mostrou-se um dos jogadores em crescendo de forma no derradeiro terço da Liga. De frente para o jogo é capaz de dar à equipa uma forma individual de sair da pressão de trás, arrancando e correndo com a bola. É bastante agressivo a atacar o espaço e teve uma época do assim-assim para o mais. 7
Iván Fresneda
Praticamente uma figura de corpo presente até à viragem do ano, preterido por Ruben Amorim, o terceiro técnico da época cortou as vazas à sua saída em janeiro. Com Rui Borges, o espanhol de 20 anos conheceu o primeiro período a titular no Sporting, marcando no Dragão para mostrar uma das suas valias: a chegada a zonas de finalização e a apetência a surgir na área na área contrária. Tem limitações técnicas, não é o lateral mais fino de pés, mas poderá ter um futuro na equipa caso o treinador retorne à ideia de experimentar uma linha defensiva a quatro jogadores. 5
Nuno Santos
Apenas teve tempo para estar em sete jogos do campeonato, sem dar uma assistência que fosse com o seu perito golpeio de cruzamentos, provavelmente o melhor do plantel. A grave mazela no joelho arruinou-lhe a época - só esteve apto para jogar com Ruben Amorim - em que teria, por fim, um sério competidor para a função de ala esquerdo mais virado para atacar. 2
Zeno Debast
Contratado como central, assumiu tal apetência no primeiro terço do campeonato, rodando pelas três posições da defesa, desde cedo mostrador de excelente aptidão para filtrar passes rasteiros de trás que descobriam companheiros em posições difíceis, embora frágil nos duelos. Quando o Sporting começou a ser fatiado por lesões e se viu sem médios, Rui Borges experimentou-o uns metros adiante. Soluçante ao início, desabituado a jogar de costas para os adversários, o belga acostumou-se e fechou o campeonato a insuflar bastante o seu rendimento. Será uma das interrogações a colocar na balança para o próximo ato: valerá a pena manter Debast no meio-campo? 7
Hidemasa Morita
Saiu ao japonês a rifa de ser o jogador mais honrado com louros públicos da parte de Rui Borges e a infelicidade, a partir da chegada do treinador de Mirandela, de ser massacrado por insistentes problemas físicos. O mais cerebral dos médios do plantel, capaz de se impor junto de ambas as áreas, teve uma segunda metade de época intermitente por culpa das mazelas e limitado até no tempo em que podia estar em campo quando esteve apto para jogar. Importantíssimo se em plena forma, ainda é incerto se continuará, ou não, no Sporting. Tem uma benesse que pode favorecer a sua permanência: um técnico que é um profundo admirador da sua calma a jogar. 7
João Simões
Um dos apressados para a fase adulta, o canhoto de 18 anos teve de aprender no posto quando a época chegou ao inverno. Médio de bom pé, rotativo a fazer as coisas, o potencial no internacional por mais de 40 vezes pelas seleções jovens já arranhava a titularidade em jogos do campeonato quando foi outro a magoar-se com gravidade. Terá tempo, haja sorte a afastar lesões dele e dos restantes, para crescer sem urgências, no ritmo devido, e ter mais do que os nem 400 minutos somados que acumulou nesta Liga. 3
Daniel Bragança
Vindo da melhor época da carreira, a emprestar o seu pé esquerdo não apenas ao requinte dos toques de veludo, à elegância do bem-passar, mas juntando-lhe uma chegada à área e cada vez mais baliza, outra maleita nos joelhos travou-o. Não que seja um obstáculo à sua afirmação, essa já a fez. Parecia estar verdadeiramente a discutir o lugar com Morita, ser até desta que cimentaria a sua ascensão também como um dos carregadores da braçadeira. Não fintou novo azar, mas é uma das vozes da equipa e um dos seus líderes técnicos no campo. 5
Morten Hjulmand
Referência para ordenar a pressão da equipa, chefe dos roubos de bola a meio-campo, um dínamo constante na intensidade com que a equipa executava os seus processos. O dinamarquês agigantou-se nos dérbis e clássicos, transmitiu calma à equipa e foi a liderança em pessoa. Sem ele em campo há outro Sporting, um menos mandão, impositivo e capaz de engolir adversários no que pretenda fazer. Médio de processos simples com a bola e mordaz quando é tempo de a recuperar, Hjulmand é a escala pela qual se mede a competitividade dos leões e o tipo de jogador que nos devia fazer rir quando se afere a influência só pelos números redondos de golos, assistências, passes a rasgar e esse tipo de estatísticas. Morten não os tem, nem deles precisa. 10
Geovany Quenda
Poucos jogos bastaram, no início da época, para se esquecer a idade que tinha e esse será o maior elogio passível de ser feito ao rapaz. Invulgarmente calmo a tomar decisões no campo, mais ainda na quantidade de vezes que toma a decisão certa, o adolescente conquistou o seu lugar na equipa, primeiro, ao adaptar-se a ser ala direito com as respetivas obrigações defensivas, depois a preencher o buraco aberto pela mazela de Pote, na esquerda do ataque, a jogar do lado do seu pé predileto - algo que não o favorece particularmente. Éne vezes a sua chuteira esquerda lançou, a partir da direita, correrias de Gyökeres, associou-se com Trincão e deixou a equipa respirar ao não se precipitar a dar uso à bola. Quiçá consequência dos tantos jogos e minutos em corpo ainda a desenvolver-se, murchou na parte final da época e perdeu fulgor. 7
Pedro Gonçalves
O jogo na Luz, na penúltima jornada, teve um instante a lembrar a sua relevância para o Sporting: com um toque simples e esperto, lançou a corrida de Gyökeres para o sueco embalar e acabar a servir o golo de Trincão. Um destro a jogar a partir da esquerda, híbrido entre ser médio e falso extremo, é, entre os leões, quem mais fomenta as ligações pelo centro do campo no ataque. Ressurgiu na reta final, lento de gestos e reações devido aos cinco meses de paragem por lesão, prolongada pela sua insistência em apressar o regresso, como o próprio admitiu. A sua influência pecou pela mazela, embora Pote, em plena forma, seja um dos jogadores nucleares do Sporting, dono de características sem par no plantel. 5
Geny Catamo
Peculiar é o moçambicano, especial voltou a ser, à sua maneira. São algumas as arestas que tem a limar na receção, no passe curto ou na ligação com jogadores, mas, depois, marca contra o Benfica e o FC Porto, aproveitando o naco generoso que tem para aparecer em partidas relevantes. Geny é talvez o atacante com valias mais específicas, afuniladas para as condições menos diversas, que o Sporting tem, também será o mais falível em erros básicos. Porém, a sua formatação para encarar adversários, forçar o um-para-um, acelerar a jogada e dar safanões nos ataques garantem-lhe relevância. A atração especial pelo golo também. 7
Francisco Trincão
Uma época de estafa para o canhoto do bigode. O português foi o atacante com mais minutos de utilização esta época pela sua imunidade a problemas físicos de maior e a assiduidade afetou-lhe naturalmente o rendimento, fê-lo oscilar durante os jogos, mas, quando antigamente permanecia escondido na intermitência, esta temporada (a segunda seguida) apareceu nos momentos de maior necessidade. Titular em todos os 34 encontros, Trincão deixou 14 assistências no campeonato, marcou no dérbi da Luz, sintonizou-se com Gyökeres, adocicou a telepatia quando coincidiu com Pedro Gonçalves e, sem contar com o sueco, mostrou-se como o maior desequilibrador individual do Sporting. 9
Viktor Gyökeres
Abominável por todos os adversários, imparável para a maioria deles, inevitável uma vez mais no campeonato. Melhor marcador da prova pela segunda edição consecutiva (38 golos), o peculiar estilo de atacar a baliza do sueco voltou a ter consequências nefastas para quem se foi cruzando com o Sporting, viciando quem o viu em elogiá-lo e a própria equipa a procurá-lo em qualquer momento. A sua pegada no jogo dos leões, formatados para o tentarem por a correr com a bola em qualquer jogada, fez-se ainda maior face ao ano passado: só não marcou ou assistiu (e fê-lo de uma ou outra maneira contra Benfica, FC Porto e SC Braga), em sete. Foi o melhor e mais influente jogador da Liga, ficará como um dos melhores a ter jogado no Sporting. 10
Biel Teixeira
Chegou no Natal, vindo de um Fortaleza 8.º classificado do anterior Brasileirão, onde nem sequer era um titular absoluto. E continuamos a saber mais do extremo através deste breve historial de identidade futebolístico do que pelos seus avistamentos em campo: participou em três partidas, acumulando meros 13 minutos. Não se percebeu ainda o contexto e as razões da contratação de Biel, fora os planos do clube e do treinador para ele, enquanto ia dizendo que era uma opção e andava a treinar bem. 1
Conrad Harder
Matulão, loiro e nórdico, as similitudes à vista desarmada com o abono de alegrias do Sporting jogaria contra ele não de imediato, quando chegou à máquina oleada de Ruben Amorim, marcando golos saído do banco. Quando a equipa sofreu os abalos da dança das cadeiras no banco e da razia das lesões, afastando-se da consistência do primeiro terço da época, um dos colaterais foi a exposição da crueza do dinamarquês. Harder é potente, tem remate fácil, cansa os adversários e instiga reações na equipa, mas tem ações no jogo tão brutas quanto ainda é o seu projeto de jogador, levando-o a precipitar-se, por exemplo, na procura da baliza. Não ajudará ter o seu rendimento posto em causa, em público, pelo próprio treinador. 5