Em dia grande de futebol, com uma jornada 11 que tem dois duelos muito exigentes, Duarte Gomes fala do quão difícil é para um árbitro gerir encontros desta dimensão
I. Héctor Herrera, médio mexicano com passagem de sucesso pela Europa, protagonizou episódio repugnante (não há outra forma de o catalogar), que marcará a sua carreira de forma indelével.
O jogador do Houston Dynamo, equipa com quem entretanto rescindiu contrato, cuspiu na direção do árbitro, na sequência de um cartão amarelo que viu com justiça. Mas a questão nem é essa: mesmo que a advertência tivesse sido injusta, nunca um jogador com a sua categoria e experiência poderia fazer o que fez.
Cuspir deliberadamente na direção de alguém é algo inenarrável. É de um nível baixíssimo, inqualificável, sobretudo para alguém com maturidade para lidar com situações de maior exigência e pressão.
Esta opinião não pretende diabolizar o homem, a pessoa ou o atleta. Não pretende sequer colocar em causa o mérito desportivo que o mexicano evidenciou ao longo da carreira.
Pretende apenas censurar o gesto, a opção infeliz.
Se este tipo de condutas não tiverem resposta firme e célere, correm o risco de se repetir. E correm também o risco de serem desvalorizadas, como se estivéssemos a falar de um momento mau ou de um dia menos bom.
Não podemos permitir que isso aconteça. Tem que haver linhas inultrapassáveis, sobretudo no desporto de alta competição. E quem as atravessa de forma tão deseespeitosa, tem que ser denunciado e penalizado exemplarmente.
Que o atleta o saiba reconhecer, desculpar-se, assumir a sua responsabilidade e seguir em frente, como só os grandes homens sabem fazer.
II. Este domingo, SC Braga e Sporting CP defrontam-se ao fim da tarde, pouco antes de SL Benfica e FC Porto jogarem na Luz.
Para os jogos estão nomeados Luís Godinho (na Pedreira) e João Pinheiro (na Luz).
Nunca é demais repeti-lo: arbitrar jogos desta dimensão é terrível. Não há outra forma de o dizer. Só quem nunca pôs um apito na boca ou pisou um relvado é que poderá ter ideia diferente.
Nesses dias, jogadores, treinadores e adeptos estão entusiasmados mas tensos. Há sempre qualquer coisa em jogo, nem que seja a ambição de ganhar ao grande rival ou o peso da história que todos sentem de forma especial. Os níveis de ansiedade, que cada um gere como sabe, são absurdos. E isso porque a montra é mais visível, a exigência competitiva enorme e a pressão, que vem de dentro para fora e de fora para dentro, abissal.
Parte dessas sensações são sentidas pelos próprios árbitros, que nestes jogos têm que aliar eficácia no processo de decisão a firmeza, serenidade e gestão sensata de emoções intermitentes.
É garantido que a propensão para o protesto, para o conflito, para a simulação e perda de tempo é maior. E é também garantido que a intolerância nos bancos técnicos e nas bancadas é tremenda.
Não há heróis na arbitragem e, cá como em qualquer outra liga, haverá sempre boas e más decisões. Haverá acerto e erro. E mesmo com VAR (ajuda mas não resolve tudo), haverá sempre quem fique insatisfeito, porque a maioria das situações técnicas são interpretativas ou especulativas.
Não é para quem quer, é só para quem pode. E é por isso que há cursos de arbitragem abertos toda a época. Para que aqueles que tanto prazer sentem em lançar pedras, possam finalmente deixar de falar e passar a fazer.
Todos somos poucos. Venham daí. Mas até lá, confiem na integridade, coragem e competência de quem lá está.
Eles fazem o melhor que podem e sabem.