Tem sido uma semana delicada para o Ministério da Saúde, que enfrenta dois grandes problemas: a crise no INEM e a polémica com os boletins. Sub-financiamento e cor de documentos - como sempre, o problema do SNS é o papel. Felizmente, o governo tem as prioridades muito bem definidas e agiu de forma imediata, resolvendo a questão mais premente. O país pode respirar fundo: os boletins de saúde infantil e juvenil, afinal, não vão deixar de ser azuis e cor-de-rosa.

Tudo começou com a entrevista da Directora-Geral de Saúde ao podcast Consulta Aberta, de Margarida Graça Santos. Rita Sá Machado revelou que os novos boletins iam passar a ser impressos na cor amarela, o que causou compreensível controvérsia. O deputado centrista João Almeida recorreu à rede social X para se insurgir contra esta decisão que muda vidas, utilizando a hashtag #naosomostodosamarelos. É uma mensagem política que faz sentido, já que as hashtags são como o CDS: desde 2015 que não são relevantes.

Vale a pena referir que está em discussão a cor de boletins físicos que, brevemente, vão tornar-se digitais. Não seria útil, pergunto, debater também o tipo de letra da carta de condução? Já que pretende lançar uma cruzada contra uma determinada cor, é incompreensível que João Almeida não tenha criticado a atual gramagem das Páginas Amarelas.

Nos Estados Unidos, a nova administração Trump pode nomear responsáveis pela saúde que são abertamente anti-vacinas. Em Portugal, o governo é influenciado pelo lobby pró-boletins. É uma posição igualmente tola, mas substancialmente menos perigosa.

Acaba por ser contraproducente que o executivo liderado pelo PSD se oponha à uniformização dos boletins: mais do que frequentar as aulas de Cidadania, o hábito de usar cartões cor-de-rosa é que pode levar as crianças a tornarem-se militantes do PS. Em todo o caso, há uma crise de confiança nos serviços públicos e percebe-se a necessidade de tranquilizar o país. Sim, é verdade, a saúde está com sérios problemas e as ambulâncias demoram horas a aparecer, mas os portugueses podem estar descansados: com a AD no poder, ninguém vai tocar na cor das sirenes.