Martín Anselmi chegou, viu, mudou, venceu e avançou. Na estreia do técnico argentino no comando técnico do FC Porto, os dragões tiveram que sofrer, mas conseguiram vencer por 0-1 o Maccabi Tel Aviv e avançam para os play-offs da Liga Europa, onde irá medir forças com AS Roma ou Viktoria Plzen. E se passar, nos oitavos de final, irá defrontar a Lazio ou o Athletic Bilbao.
Ora, a verdade é que a hora de todas as decisões foi sinónimo de estreia no comando técnico do FC Porto. Quis o destino que a primeira partida de Martín Anselmi fosse uma das mais importantes da temporada.
Aquela que determinava se os dragões iam manter-se vivos na Liga Europa ou abandonar a competição numa fase precoce, depois de terem sido apontados pelo presidente André Villas-Boas como um dos principais candidatos a levantar o troféu em Bilbau. Por isso, só a vitória interessava aos azuis e brancos, que ainda podiam chegar ao estatuto de cabeça de série no sorteio de sexta-feira, mas, por outro lado, podiam terminar no 30.º lugar.
Assim sendo, para este desafio havia um grande ponto de interrogação. Se eram certas as ausências de Nehuén Pérez e Samu Aghehowa por castigo, decifrar o onze inicial azul e branca era uma autêntica incógnita.
Amante de um 3-4-3 como sistema tático, Anselmi chegou a esta partida com apenas três treinos feitos com a equipa, pelo que a ideia de implementar já os seus conceitos podia não trazer bons resultados. Certo é que o argentino abordou esta questão na conferência de imprensa e focou-se na componente defensiva.
Posto isto, frente a um Maccabi Tel Aviv que já tinha perdido em Braga (2-1), o primeiro onze de Anselmi não contou com Wenderson Galeno que, nas últimas horas, tem sido associado ao Al Ahli.
Em relação ao jogo com o Santa Clara, do campeonato, o novo treinador fez cinco alterações, com João Mário a entrar para o lugar do lesionado Martim Fernandes, Stephen Eustáquio e Nico González a regressarem ao meio-campo, por troca com Vasco Sousa e Gonçalo Borges, e Pepê e Danny Namaso a renderem Galeno e Deniz Gül.
Ora, quanto ao jogo em si, o FC Porto entrou organizado em 5-4-1 sem bola, com Stephen Eustáquio a descair para o meio de Tiago Djaló e Otávio Ataíde e a atuar como terceiro central, mas o principal destaque foi a pressão agressiva que Anselmi imprimiu no jogo portista.
Já agora, numa primeira impressão, se este posicionamento do canadiano for a ideia principal parece-me interessante a ideia de ir ao mercado por um médio mais capaz para essa função, e, pelos rumores que correm, parece que o FC Porto está mesmo à procura disso. Eustáquio traz combatividade e experiência, mas não é um claro acrescento na circulação nem nos duelos físicos.
Continuando, com bola, a equipa organizou-se num 3-4-3 bastante híbrido, com uma procura constante por triangulações e uma pressão relativamente intensa, com João Mário e Francisco Moura a ocuparem as alas (a Moura, faltam recursos técnicos e físicos para ser uma verdadeira boa opção como protagonista da ala toda) e Pepê e Fábio Vieira a servirem o jogo interior.
Neste sentido, vislumbrou-se outra novidade, com o português a ser relegado para o lado esquerdo. Tirando as novidades, o primeiro tempo teve poucas incidências, com o Maccabi Tel Aviv a baixar o ritmo de jogo quando recuperava a bola e a não dar chances à formação portuguesa.
No entanto, foi com o olhar dos defesas azuis e brancos em cima de outros alvos, que Dor Turgeman escapou aos três elementos do eixo naquela que foi a melhor oportunidade até aos 40 minutos de um marasmo de futebol ofensivo de parte a parte.
Ao intervalo, o FC Porto estava fora das contas das equipas qualificadas para o play-off, por isso era preciso claramente mais, até porque um golo portista mudaria tudo.
Perante isso, os azuis e brancos entraram intensos com bola e, aos 53 minutos, João Mário desmarcou Danny Namaso na cara do golo, mas este pecou e atirou ao lado.
Contudo, o ímpeto azul e branco continuou e cinco minutos depois chegou o golo: João Mário cruzou com conta, peso e medida na direita e no coração da área surgiu Nico – no espaço onde tantas vezes faltou a tal referência – a cabecear para o 0-1. Nico González é mesmo o único médico do Porto que tem esta relação com o golo. Foi talismã com Vítor Bruno e, agora, o primeiro marcador da era Anselmi.
Era altura de dar continuidade a esse ímpeto e Anselmi procurou dar mais vida à equipa, apostando na entrada de Vasco Sousa para o miolo e de Deniz Gul para ser a tal referência ofensiva que ia faltando. De qualquer modo, o FC Porto não estava seguro.
A quantidade de vezes que pressionou junto da grande área dos israelitas, com Nico González a juntar-se a Danny Namaso ou Deniz Gul em voluntariosas, mas desorganizadas correrias, não esteve nem perto de ser diretamente proporcional aos erros que provocou na equipa que o sérvio Zarko Lazetic colocou a jogar nos limites do risco.
Assim sendo, quando o Maccabi Tel Aviv saía para o ataque, era preciso contar com os pés esquerdos de Weslley Patati e, sobretudo, de Osher Davida que rematou à barra.
Martín Anselmi tinha já ligado o modo resultadista, lançando Zé Pedro para reforçar a defesa numa sequência de substituições que também levou o malfadado Galeno, que falhou dois penáltis contra o Santa Clara, para dentro do campo. Mais robustez não significou mais segurança, bem pelo contrário. Dor Peretz chegou a empatar o jogo aos 87 minutos.
Caso o golo não tivesse sido invalidado por fora de jogo, o FC Porto estaria eliminado e, curiosamente, o SC Braga, que venceu a Lazio (1-0), seguiria em frente. Não passou de um pesadelo do qual os dragões acordaram antes da tragédia se concretizar. Com 11 pontos e o 18.º lugar, são a única equipa portuguesa que resiste na Liga Europa.
É verdade que a amostra é curta e o relvado foi um entrave completo, mas deu para tirar ilações positivas e outras negativas, pelo que agora é hora de continuar a trabalhar no processo.
Em suma, depois de quatro derrotas e um empate, o FC Porto estreia-se a vencer neste ano de 2025, numa estreia abençoada de Martín Anselmi no banco dos azuis e brancos.