Os mais de 220 mortos nas inundações em Espanha de 29 de outubro vão ter um funeral de Estado no primeiro aniversário da tragédia, disseram, esta quinta-feira, associações das vítimas da intempérie, após um encontro com o primeiro-ministro, Pedro Sánchez.

Será um funeral "totalmente laico", embora com presença de representantes de diversas religiões, disseram aos jornalistas os porta-vozes das três associações que se reuniram, esta quinta-feira, pela primeira vez com Pedro Sánchez, em Valência.

O funeral será em Valência e não tem ainda uma data concreta, que será definida pela Casa Real espanhola, mas realizar-se-á num dia próximo ao do primeiro aniversário das cheias, segundo os mesmos porta-vozes.

Num comunicado divulgado após o encontro, o Governo espanhol disse apenas que Sánchez ouviu e registou o pedido das associações para ser celebrado um funeral de Estado.

Segundo as associações, Pedro Sánchez comprometeu-se a reunir-se de novo com os representantes das vítimas e a regressar a Valência para visitar as zonas afetadas pelas cheias.

Reis de Espanha foram recebidos com protestos

Sánchez e os Reis de Espanha foram a uma das localidades mais afetadas pelas inundações, Paiporta, poucos dias após as cheias, mas foram recebidos com gritos de protestos e atingidos por lama lançada pela população.

Os Reis acabaram por continuar a visita, mas Sánchez foi retirado do local por seguranças e não voltou a visitar as ruas das localidades afetadas pelas inundações.

As cheias atingiram sobretudo a região de Valência, no leste de Espanha, onde morreu a maioria das vítimas.

Segundo as associações das vítimas, no encontro desta quinta-feira, Pedro Sánchez assumiu ainda compromissos relacionados com obras para prevenir novas inundações nas zonas afetadas.

Obras deverão arrancar em 2026

No comunicado divulgado pelo Governo, lê-se que o executivo "está a trabalhar já num plano" para "minimizar os riscos em caso de inundação", que pretende começar a concretizar a partir de 2026 com obras no terreno.

"Além disso, [Sánchez] abordou com os representantes das associações de afetados a necessidade de melhorar os protocolos de emergência, para garantir que, em situações de risco, a informação é processada de forma adequada por quem tem de tomar decisões" e para "melhorar os canais de comunicação e de transmissão de informação com a população", segundo o comunicado do Governo.

Associações criticam governo da Comunidade Valenciana

Após o encontro desta quinta-feira com Sánchez, os porta-vozes das três associações de vítimas das cheias voltaram a dirigir críticas ao presidente do governo autónomo da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, do Partido Popular, por ainda não os ter recebido.

Mazón e o governo regional que lidera tornaram-se no principal alvo de críticas da população por causa das inundações de 29 de outubro.

São, sobretudo, criticados pelos alertas tardios à população em relação ao temporal, apesar de os serviços meteorológicos espanhóis terem emitido um aviso vermelho horas antes das chuvas e das cheias.

O primeiro relatório da investigação judicial, aberta para apurar eventuais responsabilidades políticas, indicou que a maioria das vítimas morreu antes de ter sido enviado para os telemóveis o alerta da proteção civil, uma competência das autoridades regionais.

Quase sete meses após as inundações, populações e associações de vítimas queixam-se ainda de pouca agilidade no desbloqueamento das ajudas públicas anunciadas para os afetados, assim como da demora na recuperação de danos, como acontece com milhares de elevadores que continuam avariados, impedido pessoas idosas ou com problemas de mobilidade de sair de casa desde 29 de outubro.

As cheias causaram danos em 11.242 habitações, calculados em 475 milhões de euros e perto de 1.500 casas foram declaradas "inabitáveis".