Percorrendo as ruas do bairro Kazimierz em Cracóvia, em particular o seu quarteirão judaico, o visitante é emerso numa atmosfera de um passado marcado pela destruição de uma comunidade judaica que proliferou na Polónia durante vários séculos.
Na rua Szeroka encontramos diversas sinagogas, destaca-se a antiga Sinagoga e o cemitério Remuh, onde encontramos um muro construído com lápides que foram destruídas durante a guerra, memoriais exteriores repletos de intenso simbolismo, procuram uma conexão com este processo histórico.
Estes espaços repletos de memória são acompanhados de uma importante reportagem fotográfica patente no Museu dos Judeus da Galícia. Neste museu, uma antiga fábrica, encontramos uma exposição que documenta os vestígios da cultura e da vida judaica e também dos espaços da Shoá.
A nova vida de Kazimierz
Kazimierz é hoje a moderna e criativa área da cidade, onde encontramos galerias de arte, atelieres vintage, antiquários e até bares temáticos que cativam jovens e adultos para uma experiência alternativa, onde o bar Alchemia na Praça Nowy faz jus a essa memória, mantendo o mobiliário de uma antiga família aqui residente.
A música judaica acompanha todas as noites os restaurantes e bares deste bairro, um concerto de Klezmer, género musical dos judeus asquenazes, é dos momentos mais identitários desta cultura desaparecida.
Além de Cracóvia, o roteiro prossegue por Dabrowa Tarnowska, uma pequena cidade que procura recuperar o seu legado judaico. O edifício da sinagoga, obra de artistas italianos da segunda metade do século XIX, é hoje um Centro de Encontro das Culturas, onde se pode conhecer uma preciosa coleção de objetos judaicos desta comunidade.
Tarnów é outra cidade onde uma importante comunidade judaica aqui viveu durante vários séculos, representativo é a dimensão do cemitério judaico que se encontra na cidade, um dos mais antigos da Polónia.
Memórias do Holocausto
Percorrendo as ruas do centro histórico da cidade encontramos vários memoriais relacionados com o processo do Holocausto, uma enorme Bimah permanece intacta na memória da grande Sinagoga destruída.
Desta cidade, partiu o primeiro comboio para a Auschwitz em junho de 1940, seguindo-se um processo contínuo e repetido de várias partes da Europa.
Um percurso pelo espaço do antigo gueto de Cracóvia no bairro industrial de Podgórze, conhecendo a história e o quotidiano deste espaço através do “olhar” do farmacêutico Pankiewicz, visitando a antiga fábrica de Oskar Schindler, “justo entre as nações” que salvou a vida de várias pessoas perseguidas pelos algozes nazis.
Hoje, este espaço alberga um importante museu sobre a ocupação de Cracóvia durante a Segunda Guerra Mundial.
Auschwitz: um passado de destruição
A viagem continua na visita a Auschwitz-Birkenau, campo de concentração e extermínio, epicentro da destruição humana no processo do Holocausto. A visita sempre acompanhada pelo testemunho das vítimas, num processo de reflexão e introspeção.
Esta é uma viagem que procura “mergulhar” na História do Holocausto e na memória dos judeus polacos da Galícia.
Na efeméride dos 80 anos da libertação do Campo de Auschwitz-Birkenau e dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, visitar Cracóvia, a região da antiga Galícia e Auschwitz é uma experiência única na memória europeia e também na compreensão de um caminho identitário na História da Humanidade.
Esta viagem procura refletir sobre um passado, marcado pela destruição, num processo de memória coletiva, através dos espaços, dos testemunhos das vítimas, das ações de todos aqueles que salvaram vidas, procurando salvar a Humanidade.