
Nasceu e cresceu em Moçambique, país que deixou em 1974, empurrado pela guerra civil. Rumou a Portugal, mas com a promessa de que um dia voltaria para ajudar a economia do país e os amigos que deixou para trás. Da partida, Frederico Magalhães, fundador e atual CEO da Sisqual, recorda a desigualdade que lhe ficou marcada: “havia pessoas no aeroporto à espera de serem salvas, a morrer, vítimas da guerra e nós saímos dali. Senti um contraste tão grande entre as sortes”.
A passagem de Frederico por terras lusas seria curta. Pouco tempo depois de chegar ao Porto, rumou ao Reino Unido para concluir uma licenciatura em Engenharia Mecânica e, mais tarde, um doutoramento em Automação na Universidade de Cranfield. Foi ficando, tornou-se professor e investigador e liderou o departamento de Robótica da Universidade. Ao mesmo tempo, lançava-se na vida empresarial.
Como investigador e professor, Frederico trabalhava, na automação, a área da “visão" para robôs: "na altura, recorda, “os robôs não tinham visão, hoje já têm bastante. E eu patenteei, com um grupo de alunos meus, esses algoritmos de visão e começámos a ter muitas solicitações de empresas”, recorda. O atual CEO recorda que “havia algo muito importante que tínhamos em mãos e que valia muito dinheiro. E eu queria ganhar muito dinheiro para ir ajudar os meus amigos em Moçambique".
Fundou em conjunto com dois alunos a Integral Vision. "O fundamental quando se cria uma empresa é não estar sozinho, nem serem só dois sócios. Quando um está muito mal os outros puxam por ele e quando A se pega com C, há o B para pacificar", sublinha, ao mesmo tempo que realça que "não se consegue estar a 100% sempre, sem se cair de vez em quando".
E ao longo do caminho Frederico deu várias quedas. Mas não com a sua primeira experiência como empresário. A Integral Vision foi vendida por 20 milhões de euros à americana Medar e Frederico continuou na empresa, como funcionário. Chegou a vice-presidente e prepara-se para fixar residência nos Estados Unidos e assumir a direção global de operações da Medar, quando, no ambicionado regresso a Moçambique para “ajudar os amigos, apoiando os seus negócios com o dinheiro da venda da Integral Vision”, percebe que a fábrica têxtil construída pelo pai, décadas antes, a Textáfrica, estava à venda, “com 3400 pessoas na iminência de serem despedidas”.
Não pensou duas vezes e mergulhou de cabeça. Investiu o que tinha em conjunto com o pai. A partir dai e até à fundação da Sisqual, a empresa de desenvolvimento de software para gestão e otimização de recursos humanos, que fundou e atualmente gere a partir de Portugal, a história escreve-se de desafios, impasses, fracassos e perdas. Mas nunca de desistência.
Um impasse legislativo no país acabou por deitar todo o investimento por terra e ditou o encerramento da fábrica. “Isto foi uma lição: com negócios não se pode pôr o sentimento acima da razão”, aponta. Mas nem por isso deixa de sublinhar que “o líder do futuro, se não for muito humano, não vai conseguir vencer”. E sublinha: “temos pessoas fantásticas que são péssimos líderes, são lobos solitários”.
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: