"Nunca ouvimos o primeiro-ministro preocupado nem com quem apanha os comboios, nem com quem trabalha nos comboios. E, de repente, a primeira vez que nesta campanha fala sobre trabalho é para dizer que vai limitar o direito à greve", criticou Mariana Mortágua, em declarações aos jornalistas, à margem de uma iniciativa de campanha em Coimbra.

A líder bloquista reagia ao facto de o presidente do PSD e primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter considerado que existiram "influências políticas, partidárias e eleitorais" que não permitiram evitar a greve da CP e defendido que pode ser necessário alterar a lei para equilibrar o direito à greve com outros direitos.

Mortágua considerou que "Montenegro não entrou no comboio da luta dos trabalhadores, não quer saber de trabalho" e "utiliza a vida difícil das pessoas quando quer atirar trabalhadores contra trabalhadores".

"Não há uma palavra sobre redistribuir a riqueza para o trabalho. E depois todas as palavras e toda a violência e o autoritarismo é contra os direitos dos trabalhadores", acusou.

Sobre eventuais alterações à lei da greve, a bloquista disse vê-las "da pior forma possível".

"Que um primeiro-ministro se lembre de falar sobre trabalho única e exclusivamente numa campanha para dizer que vai alterar o direito dos trabalhadores à greve revela bem o programa da direita, revela bem o programa do PSD e da direita para o país", alertou.

Quanto ao 'timing' da greve, Mariana Mortágua realçou que são os trabalhadores que decidem as "suas formas de luta em cada momento", tendo consciência do seu impacto.

"Mas o poder da greve também é esse", sublinhou.

As declarações do primeiro-ministro foram criticadas pela maioria da oposição, nomeadamente pelo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, que na Covilhã, distrito de Castelo Branco, considerou inaceitável o "insulto à democracia" do primeiro-ministro quando "ameaçou alterar a lei da greve" por causa da paralisação na CP.

O Presidente da República, em declarações no Palácio de Belém, em Lisboa, notou que "o número de greves sobe um bocado" em períodos eleitorais e escusou-se a comentar uma possível alteração da lei.

Por seu turno, o Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses (SMAQ) rejeitou que a greve na CP tenha motivações políticas e responsabilizou o Governo pelo transtorno causado às populações, por não cumprir um acordo negociado.

Na terça e na quarta-feira, o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, acusou os sindicatos de terem convocado a greve nesta altura por motivos políticos, tendo em conta a aproximação das eleições legislativas antecipadas de 18 de maio.

 

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