
"Eu, como presidente da câmara, trato todos por igual e quem me conhece sabe que na rua, se alguém que vem ter comigo faz uma queixa, que fala, é sempre tratado por igual. Portanto, sobre esse ponto queria ser claríssimo: trato todos por igual e sempre tratei e sempre tratarei", afirmou Carlos Moedas (PSD), à margem do lançamento da primeira pedra da Unidade de Saúde de Campo de Ourique.
Em causa está o processo das obras de junção de dois apartamentos da família do primeiro-ministro, na Travessa do Possolo, na freguesia lisboeta da Estrela, sobre o qual os vereadores do PS e do BE na Câmara de Lisboa solicitaram, na sexta-feira, informações quanto à alegada isenção de controlo prévio a esta empreitada apesar de se considerar uma alteração estrutural.
Em 04 de março, a TVI/CNN noticiou a realização de obras no número 28 da Travessa do Possolo, nomeadamente através da junção de duas frações autónomas, unidas pela base, com o intuito de fazer um 'duplex', propriedade da família de Luís Montenegro, imputando à autarquia a posição de que "as obras em questão não carecem de licença por serem obras interiores".
Em resposta aos jornalistas, o presidente da câmara assegurou que trata "todos por igual", o que se reflete na "concretização de muito" do que faz, incluindo nas obras municipais para servir a cidade, mas também no contacto com as pessoas na rua, em que recebe queixa e procura atuar, "para todos, por igual".
"Quem me conhece sabe bem isso, porque seja quem for que me encontrar na rua sabe que eu dou seguimento [às queixas]", indicou Carlos Moedas, reforçando que "não há tratamento diferenciado para ninguém, é para todos igual e sempre foi".
Sobre se Luís Montenegro reúne as condições necessárias para ser o cabeça de lista do PSD às eleições legislativas antecipadas, dado a atual crise política ter sido desencadeada por notícias sobre uma empresa familiar do primeiro-ministro, a Spinumviva, sobre a qual o Ministério Público abriu uma averiguação preventiva, o autarca de Lisboa recusou pronunciar-se sobre esse assunto.
"Não estou aqui para comentar aquilo que é a posição dos partidos políticos", disse o autarca, referindo que não é comentador político, mas sim presidente da câmara: "Mais do que nunca, aquilo que as pessoas esperam hoje dos políticos é que estejam a fazer e não a comentar".
Relativamente à queda do Governo de PSD/CDS-PP (sem maioria absoluta), Carlos Moedas considerou que os portugueses se sentem "dececionados e preocupados", afirmando que a atual crise política "é grave".
"O meu papel como presidente da câmara é atenuar os efeitos daquilo que está a acontecer. Obviamente que cair o Governo desta maneira, sem qualquer explicação, ao fim de 11 meses, tem aqui um efeito, mas é preciso que aqueles que estamos a governar, neste caso a cidade de Lisboa, tenhamos o sangue-frio para continuar a fazer, para criar estabilidade e para estar aqui a mostrar às pessoas que a cidade não para. Lisboa não para", declarou o social-democrata, defendendo que os autarcas têm de estar "na linha da frente" quanto à responsabilidade de fazer obra para responder às necessidades da população.
Na perspetiva de Carlos Moedas, que governa Lisboa sem maioria absoluta, é importante que os políticos cumpram os mandatos "com dedicação total", afastando a resposta quanto à sua recandidatura às eleições autárquicas, que se realizarão entre setembro e outubro deste ano, porque ainda faltam "muitos meses" e, antes, o país deverá ter eleições legislativas antecipadas.
"Obviamente que umas eleições legislativas nesta altura criam essa instabilidade", apontou o social-democrata, referindo que, face a este cenário de crise política nacional, a função de Lisboa, como capital do país, é "criar estabilidade na cidade", continuando a fazer e a inaugurar obras, e "criar um sentimento de tranquilidade".
A Assembleia da República chumbou na terça-feira a moção de confiança apresentada pelo Governo, provocando a sua queda. Votaram contra a moção de confiança o PS, Chega, BE, PCP, Livre e deputada única do PAN, Inês Sousa Real. A favor estiveram o PSD, CDS-PP e a IL.
De acordo com a Constituição, a "não aprovação de uma moção de confiança" implica a demissão do Governo.
SSM (LFS/JPS) // JLG
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