
O ministro israelita das Finanças, Bezalel Smotrich, apelou na noite de sábado à ocupação da Faixa de Gaza e ao estabelecimento de um "regime militar, se necessário", no enclave palestiniano, onde vivem mais de dois milhões de pessoas.
"Senhor primeiro-ministro [Benjamin Netanyahu], a sua declaração esta noite de que esta guerra deve terminar com a vitória é importante e significa mudar o método de guerra, optar pela ocupação total da Faixa de Gaza e não temer um governo militar se necessário, destruir o Hamas e garantir que Gaza não represente uma ameaça para o Estado de Israel", afirmou Smotrich, um colono e religioso sionista, numa mensagem na rede social X. "Esta é a forma de garantir a segurança e de devolver rapidamente os [israelitas] sequestrados" pelo Hamas, acrescentou.
Este não é a primeira vez que Bezalel Smotrich lança um apelo deste género. Em janeiro, em declarações à radio do exército israelita, o ultranacionalista e extremista religioso (que se tem tornado num dos políticos mais influentes em Israel) ameaçou fazer cair o governo de coligação que sustenta Benjamin Netanyahu se a guerra em Gaza terminasse. “Derrubarei o Governo, a menos que volte a combater para governar Gaza”, anunciou. A “ocupação de Gaza e criação de um governo militar provisório" é a única forma de derrotar o Hamas, argumentou no primeiro dia do cessar-fogo que permitiu a troca de reféns e entrada de ajuda humanitária no enclave. Em março, demitiu-se mesmo temporariamente para pressionar a coligação.
Em 2023, Bezalel Smotrich também chegou às notícias internacionais por negar a existência do povo palestiniano. “Não existe uma nação palestiniana. Não existe uma história palestiniana. Não existe uma língua palestiniana", afirmou o ministro num evento em Paris. O discurso, citado pelo The Guardian, aconteceu um dia após o encontro das delegações israelita e palestiniana no Egipto, com mediação do Egipto, Jordânia e EUA (sob a administração Biden), que visava desanuviar a tensão em antecipação de um período de celebrações religiosas.
Neste sábado, horas antes do apelo do ministro das Finanças, numa mensagem de vídeo gravada e transmitida durante a noite, Netanyahu disse que o Hamas tinha "rejeitado a oferta de Israel" para um cessar-fogo - apesar de o grupo ainda não ter emitido uma resposta oficial - e que, se Israel aceitar as exigências do Hamas para acabar a guerra e sair da Faixa de Gaza, o plano do Presidente norte-americano, Donald Trump, de expulsão em larga escala dos palestinianos aí residentes não pode ser realizado.
"A importante visão do Presidente Trump não será concretizada: a visão que mudará a face de Gaza de uma vez por todas e permitirá ao nosso país viver em segurança", afirmou Netanyahu referindo-se à ideia do novo inquilino da Casa Branca de deslocar à força e de forma permanente os palestinianos das suas terras.
O Fórum das Famílias de Reféns já reiterou a exigência de um acordo com o Hamas para garantir o regresso dos israelitas em cativeiro na Faixa de Gaza, numa resposta à recusa do primeiro-ministro israelita. "[Benjamin] Netanyahu não tem um plano" e o discurso deste sábado do chefe do Governo israelita representa "uma torrente de retórica interminável sobre o que não fazer", defenderam. Em comunicado, o Fórum defendeu ainda que "a solução clara, viável e urgente" deve ser alcançada através de "um acordo que traga todos para casa, mesmo que isso signifique acabar com o conflito".
O balanço mais recente, divulgado este sábado, indica que os ataques israelitas a Gaza fizeram mais de 90 mortos em apenas 48 horas. Também este sábado, o Hamas divulgou um vídeo de refém israelita vivo horas depois de confirmar o desaparecimento do prisioneiro israelo-americano Edan Alexander.