
O Conselho Europeu arranca, esta quinta-feira, com uma conversa com Volodymyr Zelensky, marcada para as 10h30, hora de Lisboa. Desta vez, o presidente ucraniano não estará em Bruxelas, a discussão será por videoconferência, numa altura em que a Ucrânia se prepara para as negociações de um cessar-fogo.
Zelensky, que falou esta quarta-feira ao telefone com Donald Trump, conversou ao final do dia com o presidente do Conselho Europeu. Após a conversa, António Costa foi às redes sociais mostrar-se "encorajado pelo telefonema de Zelensky com Trump". Para o português, "a suspensão dos ataques às infraestruturas civis e energéticas são um passo importante e real para o fim da guerra".
Ao que o Expresso apurou, Costa não é o único otimista com a possibilidade de um cessar-fogo, mesmo que parcial. Do ponto de vista europeu, é considerado positivo o fim dos ataques no Mar Negro, o que permitirá maior liberdade de navegação, essencial para a Ucrânia e para que possa voltar a ganhar mercado, sobretudo na Ásia.
Ao mesmo tempo, não há ilusões. Este é um processo negocial que está só a começar e para a UE é inaceitável que Putin exija que os Aliados deixem de fornecer apoio militar e informação a Kiev, como condição para um cessar-fogo. Nas últimas horas, os presidentes do Conselho Europeu e também da Comissão voltaram a reafirmar que o apoio à Ucrânia "continua firme" e essa deverá ser a mensagem repetida durante o Conselho Europeu.
A única questão é que o apoio a Kiev já não é a 27, mas apenas a 26, ou seja, sem a Hungria. Tal como há duas semanas, Vikor Orbán ficará à margem do texto final sobre a Ucrânia. Fonte diplomática dá conta de que acabou a paciência com o primeiro-ministro húngaro. Já não há sequer a tentativa de o tentarem convencer a juntar-se ao consenso. Orbán não quer, fica de fora. Essa divergência é agora assumida abertamente e sem estados de alma.
Discussão indigesta sobre dinheiro à hora do jantar
A estratégia para lidar com Orbán passou a ser isolá-lo e não perder tempo a negociar textos com o líder húngaro, sobretudo se houver alternativa. No caso do apoio à Ucrânia, sobretudo militar, a mobilização é bilateral e cada vez mais organizada numa coligação de vontades, que substitui uma estrutura a 27.
O problema é que a estratégia não serve quando estiverem em causa decisões por unanimidade como a discussão do próximo Quadro Financeiro Plurianual, pós 2028. É certo que a hora de decidir ainda não chegou, mas a primeira conversa "difícil" sobre o tema será feita durante a hora do jantar.
Será um debate livre, sem guião e sem nada a acordar. Uma oportunidade para os 27 chefes de Estado e de Governo dizerem o que pensam sobre o desenho do próximo Orçamento Comunitário. São várias a variáveis: é preciso decidir como se vai pagar a bazuca europeia e os empréstimos contraídos a nível europeu canalizados a fundo perdido para os PRR nacionais; volta a mesa o habitual braço-de-ferro entre os que não querem pagar mais e preferem cortes na coesão e na agricultura e os que rejeitam cortes, preferindo um aumento das contribuições nacionais.
É também o momento para os países que continuam a defender Eurobonds ou uma nova mutualização da dívida para investir em defesa insistirem na tecla de que não bastam empréstimos, é preciso fazer com a defesa o que foi feito com a pandemia. Para já, a Comissão Europeia de Ursula von der Leyen excluiu o dinheiro a fundo perdido das opções de financiamento do plano para Rearmar a Europa.
No entanto, esta possibilidade, já defendida pelo primeiro-ministro português, pode encontrar enquadramento na discussão do próximo Quadro Financeiro Plurianual. A questão é a de saber se Luís Montenegro será primeiro-ministro quando os líderes voltarem ao tema na cimeira de 26 de junho.
A defesa também está na agenda, mas não se espera nenhum resultado substancial. Continua a valer o aval político dado a 6 de março ao plano de 800 mil milhões de euros de Von der Leyen. Esta quarta-feira, a Comissão deu mais detalhes sobre como vai por em marcha o ReArm Europe, estabelecendo 2030 como meta para esse objetivo. Mas tendo sido apresentado apenas um dia antes da Cimeira, e não trazendo grandes novidades de fundo, os líderes devem apenas tomar nota.
Outro tema em cima da mesa é a competitividade, com os 27 a pedirem a Comissão que intensifique os trabalhos para reduzir a burocracia e aumentar a simplificação. Noutra vertente, os líderes deverão sublinhar a necessidade de se completar a União dos Mercados de Capitais e a União Bancária. Esta quarta-feira, a Comissão publicou a nova estratégia para promover uma União das Poupanças e Investimentos.
À hora do almoço, os 27 contam com a presença de António Guterres, um dia depois de um funcionário das Nações Unidas ter morrido num ataque aéreo - alegadamente israelita - em Gaza. As instalações da UNOPS, o escritório da ONU para apoio a infraestruturas, foi atingido.
Para o diretor-executivo da UNOPS, não se tratou de um acidente. Jorge Moreira da Silva afirmou aos jornalistas em Bruxelas que as instalações estavam num sítio isolado e que Israel sabia que estavam ali.
No esboço de conclusões do Conselho Europeu, a que o Expresso teve acesso, os líderes "lamentam a rutura do cessar-fogo em Gaza, que causou um grande número de vítimas civis nos recentes ataques aéreos". É também apontado o dedo ao Hamas por "recusar entregar os reféns" ainda em cativeiro. Contudo, não há nenhuma referência direta a Israel, como responsável pelos bombardeamentos que mataram centenas de pessoas esta semana.