
Um ano depois de um arranque de campanha que causou calafrios à AD, quando Pedro Passos Coelho foi a Faro alertar para a necessidade de ter um país aberto à imigração mas também um país seguro, o tema volta a marcar o início da corrida eleitoral, mas agora pela voz do próprio Governo, que Montenegro ainda lidera, e que escolheu o dia para anunciar que vai começar a deportar os cidadãos que se encontrem de forma irregular em Portugal. Numa primeira fase, 4 mil e 500, anunciou logo pela manhã o ministro da Presidência.
À tarde, Luís Montenegro pegou no tema para piscar o olho ao eleitorado da direita e, ao mesmo tempo, responder a Pedro Nuno Santos, que afirmou que o processo era apenas dar continuidade ao que o anterior Governo socialista tinha iniciado.
“Está encontrada a anedota da campanha eleitoral”, disparou entre críticas aos governos de António Costa, aludindo ao apagão da última segunda-feira na península ibérica: “O grande apagão que houve em Portugal foi mesmo a inexistência de uma política de imigração”.
E de caminho, ficou o aviso: “Quem estiver ilegal e não cumprir os critérios, tem de sair, tem de ir embora, não há outra maneira de dizer isto”, afirmou nas duas intervenções do dia.
O presidente do PSD não perdeu também a oportunidade de falar diretamente aos eleitores, que há um ano votaram no Chega, eventualmente à procura de uma resposta na questão da imigração.
“Essas pessoas entendiam que as portas completamente escancaradas não eram solução de futuro para Portugal. E, portanto, essas pessoas acreditaram no Chega e votaram no Chega”. Agora, diz Montenegro, essa preocupação está respondida, “com regras, regulação e humanismo”.
Em casa, com um beijinho à mãe, e com a promessa de uma vitória “histórica” em Aveiro
A máquina laranja de Aveiro e Porto teve de dar tudo na mobilização para garantir que enchia as 384 mesas, cada uma com 10 lugares, do centro de Congressos do Europarque. Montenegro jogou em casa, como repetia o “animador” de serviço, que aquece a sala antes das intervenções políticas. O objetivo era claramente marcar com força o arranque oficial da campanha, que começa este domingo.
“Aqui estão milhares, mas lá fora estão milhões”, afirmava o presidente da Câmara da Feira, antes do jantar. “Tu estás em casa e o povo que te moldou como homem e como político, está todo contigo”, afirmou, pedindo meças ao candidato do PS: Pedro Nuno Santos, também é cabeça de lista por Aveiro e, na véspera, não terá conseguido grande mobilização no distrito, segundo o autarca da Feira.
Emídio Sousa, presidente da distrital do PSD em Aveiro, recordou a vitória histórica da coligação Portugal à Frente em 2015 e Luís Montenegro deixou a promessa: “Há 10 anos, os cabeças de lista em Aveiro eram exatamente os mesmos e o resultado foi histórico, mas em 2025 ainda vamos superar”.
Montenegro não passou por Espinho em ação de campanha, mas estava claramente em casa e até a mãe, que estava na sala, teve direito a uma palavra e um beijinho na intervenção da noite, lembrando que este domingo celebra-se em Portugal o Dia da Mãe.
E quanto a apelos ao voto, o de Luís Montenegro foi especialmente dirigido aos eleitores que estão fartos de eleições e querem estabilidade.
“As pessoas estão fartas de eleições e nós temos de as perceber.
As pessoas estão faltas desta disputa verbal, desta disputa constante, onde de manhã à noite só se diz mal uns dos outros. As pessoas estão fartas disso, as pessoas querem estabilidade, concluiu. E “se as pessoas querem isso, nós temos de lhes dizer, têm de procurar qual é a melhor forma para garantir essa estabilidade”. Não podem é deixar de ir votar, avisa o candidato, porque apesar da confiança que sente, as sondagens não ganham eleições e no dia seguinte, se houver arrependimentos, a cabine de voto está fechada
Uma “maioria maior” para a AD foi o que pediu.
As notícias sobre os clientes de Luís Montenegro na empresa Spinumviva só entraram na campanha pela voz de Nuno Melo, que, num dia com dois comícios seguidos (Paredes, primeiro e depois, Santa Maria da Feira), pegou no refrão do hino de campanha “Deixa o Luís trabalhar”, para dizer, dirigindo-se ao líder da coligação: “Tu trabalhaste e ainda bem. Portugal deve mesmo é desconfiar de quem não trabalhou”, afirmou, vincando a última sílaba. “Ou de quem só trabalhou na política”, acrescentou no discurso da noite.
Foi o mote para o presidente do CDS atirar ao PS, ainda a propósito da alteração da declaração de rendimentos apresentada por Montenegro esta semana, criticando diretamente “os deputados de um partido fundador do regime,” que se permitem “vasculhar dados pessoais de um adversário político”.
“50 anos depois do 25 de abril, meus queridos amigos, devemos dizer que nestas eleições a nossa luta continua a ser pela liberdade, continua a ser pela decência, continua a ser pela liberdade. E quanto a ética, acho que estamos conversados”, rematou o ainda ministro da Defesa.
Antes, outro ministro e cabeça de lista pelo Porto, Paulo Rangel, tinha feito um breve discurso a insistir na necessidade de o Governo prosseguir o rumo que foi interrompido e cunhando a AD como o movimento político das “contas justas, porque temos contas certas, mas fazemos justiça social”, disse.