
Quando temos familiares ou amigos por perto, o peso da fragilidade torna-se mais leve. Mas e aqueles que não têm esse suporte? Pessoas que, por circunstâncias da vida, enfrentam a doença ou o envelhecimento na solidão? Muitas vezes, basta um olhar mais atento sobre aqueles que nos rodeiam — um vizinho, o senhor do café que frequentamos ou até um colega de trabalho. Notar a ausência dessas pessoas pode ser o primeiro passo para agir, saber se estão bem e se podemos ajudar de alguma forma.
O problema do isolamento social é ainda mais profundo quando pensamos nos milhares de idosos que passam anos em instituições sem um abraço, sem uma palavra amiga ou sem a companhia de alguém em datas comemorativas que, para tantos, são sinónimo de reencontros. Aqui, iniciativas focadas no envelhecimento ativo e na solidariedade fazem toda a diferença.
Recordo-me de um projeto inspirador que surgiu da necessidade de estudantes universitários que procuravam habitação em cidades onde os custos eram proibitivos. A solução? Criar um programa que juntasse estes jovens a idosos em situação de solidão, proporcionando-lhes alojamento em troca de companhia. O que começou como uma resposta prática transformou-se num exemplo inspirador de como diferentes gerações podem aproximar-se e apoiar-se mutuamente, criando valor humano, partilhando experiências e reduzindo o isolamento social.
Este é apenas um de muitos exemplos, porque há mais. Mas se há tantas iniciativas relevantes, por que razão a informação nem sempre chega a quem mais precisa?
É aqui que a tecnologia pode ser uma grande aliada. As plataformas digitais podem centralizar necessidades, cruzar dados e encontrar soluções personalizadas para cada caso, conectando quem precisa de apoio com quem pode oferecê-lo. Durante a pandemia de covi-19, a tecnologia já demonstrou o seu potencial: consultas remotas, monitorização de sintomas e comunicação entre pacientes e profissionais de saúde foram determinantes para salvar vidas e manter o acompanhamento de doentes.
No entanto, a tecnologia por si só não resolve tudo. Humanizar os cuidados significa reconhecer que cada pessoa tem uma história e necessidades únicas. A evolução tecnológica deve estar ao serviço da empatia, garantindo que o progresso não substitui abraços, carinho ou contacto humano, mas aproxima as pessoas e facilita o acesso a cuidados de apoio.
E é aqui que, enquanto sociedade, ainda falhamos. Assistimos ao avanço impressionante da tecnologia, seja a IA ou a computação quântica, mas nem sempre a usamos de forma estratégica. Em vez de reagirmos às doenças, poderíamos focar-nos mais na prevenção. O ideal seria que, um dia, deixássemos de precisar de um Dia Mundial do Doente e passássemos a celebrar um Dia Mundial da Prevenção das Doenças.
A mudança não acontece sozinha. Tal como muitas doenças podem ser detetadas precocemente, também a saúde mental pode ser cuidada antes do esgotamento, a nutrição pode prevenir doenças crónicas e o envelhecimento pode ser encarado de forma preventiva, garantindo uma melhor qualidade de vida para todos. Precisamos de ações concretas que integrem todos os setores da sociedade, promovendo soluções inclusivas, humanas e solidárias. Só assim a tecnologia será, de facto, um meio para nos tornarmos mais humanos.
Filipa Costa, Health, Social and Sports Consultant na Quidgest
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