O líder do PS Madeira, Paulo Cafôfo, anunciou esta sexta-feira que vai propor a realização de eleições internas à Comissão Regional do partido, defendendo que deverão ocorrer em 31 de janeiro, antes da realização das legislativas regionais antecipadas. Uma decisão anunciada depois de o seu adversário interno, o deputado Carlos Pereira, ter vindo a público defender a realização de eleições primárias no PS regional e com a qual Cafôfo acaba por dar força aos opositores a Miguel Albuquerque no PSD Madeira que há semanas pedem um congresso extraordinários. Carlos Pereira, contudo, já recusou ser candidato.

“Considero que a liderança do PS/Madeira deve ser reforçada em eleições internas antes da realização das eleições regionais. Obviamente, serei novamente candidato”, Paulo Cafôfo em conferência de imprensa, para logo acrescentar, numa alusão a Miguel Albuquerque: “Ao contrário de outros líderes partidários, não tenho medo de eleições internas, nem de outras, e é com humildade que a elas me submeto e respeitarei aquela que será a decisão dos militantes do Partido Socialista”.

Já depois do anúncio socialista, Manuel António Correia, que há um ano perdeu as diretas do PSD Madeira para Miguel Albuquerque e agora pede um congresso extraordinário, veio dizer que "a decisão do PS de convocar eleições internas reforça ainda mais razões, às já existentes, para que o PSD-Madeira faça o mesmo". Nas suas redes sociais, escreveu que "perante os madeirenses, o PSD-M não pode ser mais opaco, menos democrático e menos transparente do que o PS", pelo "Albuquerque não tem outra alternativa que não seja demitir-se e acelerar o processo de eleições internas".

Manuel António Correia já entregou há 19 dias um requerimento assinado por 540 militantes a pedir a realização de eleições internas e um congresso extraordinário. Contudo, o requerimento não foi ainda sequer apreciado pelo conselho de jurisdição para que depois possa ir a conselho regional do PSD Madeira. Acresce que, quando Miguel Albuquerque veio ser ouvido pelo Presidente da República, teve a seu lado o secretário-geral do partido, Hugo Soares, num sinal de apoio da liderança nacional.



Paulo Cafôfo, por seu lado, promete decisões rápidas para o que diz ser uma “resposta clara e inequívoca” da sua parte ao “ruído que sistematicamente temos assistido e que pretende lançar dúvidas sobre a legitimidade da liderança do PS/Madeira”. O líder socialista referia-se ao antigo presidente da estrutura regional do partido Carlos Pereira, que defendeu, na quinta-feira, a realização de eleições internas antes da marcação das legislativas regionais antecipadas, manifestando-se disponível para ser candidato à liderança.

“Respeitando aqueles que são os prazos do senhor Presidente da República e aquela que será a data mais próxima para a realização das eleições regionais, bem como respeitando os estatutos do PS/Madeira, iremos reunir já este domingo, com caráter de urgência, a Comissão Regional e irei propor eleições internas para a liderança do partido”, afirmou Paulo Cafôfo.

A proposta aponta para a realização das internas em 31 de janeiro para dar “tempo de o novo presidente do PS/Madeira ter a oportunidade de elaborar a lista de candidatas e candidatos a deputados à Assembleia Regional, bem como de ir a tempo de apresentar o programa eleitoral”, explicou.

“Entendo que este passo é essencial para assegurar a confiança de todos os militantes e simpatizantes, bem como para preparar o PS/Madeira para a determinação e a mobilização necessárias para enfrentar os desafios que temos pela frente”, disse, sublinhando que “este é o momento da clarificação, mas também de responsabilização e de ação”.

Na quinta-feira, Carlos Pereira, o antigo líder da estrutura regional do PS e atual deputado na Assembleia da República, eleito pelo círculo de Lisboa, defendeu que se deveriam realizar eleições primárias e manifestou-se disponível para ser candidato à liderança da estrutura regional. Em declarações à agência Lusa, Carlos Pereira afirmou que é importante que os socialistas madeirenses realizem eleições primárias, para que seja encontrado “um novo projeto político a tempo de fazer um combate que permita conquistar a liderança da Madeira”.

O ex-presidente do PS/Madeira realçou que tem vindo a apelar à realização de eleições internas desde as últimas eleições regionais antecipadas, em 26 de maio, nas quais o PS elegeu 11 deputados de um total de 47.

Em resposta, Paulo Cafôfo decidiu avançar esta sexta-feira com a proposta de eleições internas e desafiou o antigo líder a concorrer, lembrando que Carlos Pereira não concorreu à presidência da estrutura regional do partido nas últimas três eleições, optando por “estar continuadamente na praça pública a lançar dúvidas” sobre a liderança.

Eu, obviamente, não tenho medo de eleições internas, ao contrário de Miguel Albuquerque [líder do PSD/Madeira], que tem medo de realizar um congresso extraordinário e de se submeter a eleições internas”, disse, reforçando: “Eu tenho uma postura completamente diferente. Não tenho medo, tenho coragem e quero mesmo realizar estas eleições para tirar a limpo qualquer dúvida que haja sobre a minha liderança, apesar de considerar que esta liderança está legitimada.”

Paulo Cafôfo, que foi reeleito presidente do PS/Madeira em 2 de dezembro de 2023, sublinhou que a decisão solicitar eleições internas é “única e exclusivamente” sua, pelo que compete agora à Comissão Regional do partido validar e aprovar, ou não, a proposta.

O seu adversário, contudo, já recusou ir a votos. Dar apenas 20 dias para a realização de eleições 'diretas' é, "um jogo sujo que não serve ao partido e à Madeira", disse Carlos Pereira, citado pelo "Diário de Notícias da Madeira".

Carlos Pereira, que duvida da conformidade estatutária do prazo anunciado por Cafôfo, considera que "há apenas uma coisa boa nisto que é, finalmente, o presidente do PS-M perceber que tem de fazer alguma coisa para mostrar que é uma alternativa credível". E lamenta que o atual líder do PS Madeira "volte a escolher o caminho errado", uma caminho que "controla e que permite manter-se onde está".

Na terça-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ouviu os sete partidos representados no parlamento regional - PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, IL e PAN – e convocou o Conselho de Estado para o dia 17 de janeiro, para analisar a crise política na Madeira e decidir sobre a eventual marcação de eleições antecipadas.

O Governo Regional minoritário PSD foi derrubado em 17 de dezembro de 2024 com a aprovação de uma moção de censura apresentada pelo Chega, que a justificou com as investigações judiciais que envolvem o chefe do executivo, Miguel Albuquerque, e quatro secretários regionais, todos constituídos arguidos. A aprovação da moção de censura, inédita na Região Autónoma da Madeira, implicou, segundo o respetivo o Estatuto Político-Administrativo, a demissão do Governo Regional, constituído em 6 de junho, que permanecerá em funções até à posse do novo executivo.