"Para se ser livre em política, há que ter conforto financeiro" e ter uma profissão também traz utilidade à vida política. É a convicção de Adolfo Mesquita Nunes, que assim justifica não apenas a rica e diversificada carreira que se tem empenhado em construir, após retirar-se do palco político-partidário. Não é que desconsidere políticos profissionais, mas a ele faz-lhe sentido esta abordagem e por essa razão, quando foi necessário optar, decidiu-se claramente pelo setor privado, em detrimento da vida política ativa — em que muitos continuam a desejar que estivesse. "Já estive, já dei de mim, incentivo outros a fazê-lo agora. A minha vida não passa mais por aí."

A clareza surge em resposta a Pedro Alves e João Pinto, no podcast O que a Casa Gasta, em parceria com o Instituto +Liberdade, por onde já passaram nomes como Carlos Guimarães Pinto, Pedro Brinca ou Álvaro Beleza. Com o antigo dirigente centrista como convidado nesta semana, a conversa centra-se nas transformações que a sociedade tem vivido com o impulso dos avanços tecnológicos, da crescente digitalização, mas também da amplificação do papel das redes sociais, incluindo o impacto que toda esta mudança tem provocado nos movimentos políticos.

"Nunca houve tantos partidos no meu espaço partidário e eu nunca estive tão órfão", declara Adolfo Mesquita Nunes. E garante que não é nenhum contrassenso. Simplesmente, numa era de hiperpersonalização, ser um bocadinho de todos acaba por significar não ter lugar em parte alguma.

"Desde há uns anos nota-se nos movimentos políticos essa ideia de querer ser cada vez mais puro e qualquer coisa mais ampla é criticada por ser contraditória, porque as pessoas não estão todas de acordo sobre tudo. Nós podemos estar de acordo no essencial e não partilhar visões numa série de outras coisas, mas essa ideia de abrangência, de pacto, de consenso está a perder-se", lamenta o antigo governante.

O antigo secretário de Estado do Turismo explica, partindo de uma crónica de Miguel Esteves Cardoso em que se debruça sobre "a circunstância de antes ouvirmos música em casa uns dos outros, sermos obrigados a tolerar os gostos uns dos outros, vermos os programas de televisão que se via nas casas de amigos mesmo que não os víssemos em casa; o tempo tinha de ser repartido por todos". "Além da paciência e da partilha, isso criava empatia e confrontava-nos com outros gostos e escolhas." Se seis pessoas podem estar na mesma casa a escutar cada uma algo diferente, a assistir às recomendações específicas da Netflix e a ler as coisas preparadas para si, "esse nexo de empatia enfraquece", reflete. E conclui: isso tem efeitos muito visíveis naquilo que é o panorama político. "É reflexo deste movimento de hiperpersonalização querermos um partido que reflita exatamente as nossas ideias e se não estivermos de acordo com tudo, não cabemos."

Hoje a liderar um escritório que tem dado cartas na digitalização (é há um ano partner da Pérez Llorca), Mesquita Nunes partilha também a sua posição relativamente à proteção de dados — "os dados geram enorme valor económico e não temos bem noção do que fazem com eles nas nossas costas, nomeadamente para ensinar máquinas, por isso é justo que se debata e perspetive a melhor forma de lidar com o deve o haver que nos trazem essas ferramentas", defende — e à necessidade de trabalhar a regulação sem cortar a inovação mas também não a deixando a tecnologia evoluir em total liberdade.

No podcast O que a Casa Gasta, do Instituto +Liberdade, temperado com humor e provocações, Adolfo Mesquita Nunes é convidado também a debruçar-se sobre como é estar-se no espaço político e lidar com a exposição e vulnerabilidade a ataques — na maioria das vezes pouco edificantes — que lhe são inerentes. Para o advogado, trata-se de saber respirar fundo e usar o sentido de humor bem demonstrativo da inteligência, em lugar de seguir impulsos incendiários pelas redes sociais. Por isso mesmo, quando o bloquista Fernando Rosas afirmou que o CDS estava "tão moderno que até já tinha um gay", a resposta que lhe deu foi simplesmente: "A verdade é que os meus suspensórios são muito mais giros do que os seus". "Deixei que a dinâmica das redes sociais fizesse o que faria melhor do que eu: chegar à evidência de que se tratava de um comentário homofóbico."