Portugal é um país com séculos de história, forjada pela coragem e talento dos nossos antepassados navegadores e, recentemente, com uma identidade única no contexto democrático, em que a Revolução dos Cravos demonstrou sermos diferentes na luta pelos valores e pilares morais da sociedade. Mas estamos novamente com um país à espera de direção.
A instabilidade política portuguesa deveria ser um caso de estudo. Continuamos a experienciar um ciclo vicioso que enfraquece não só a credibilidade nas instituições, mas a confiança pública e impede/atrasa consideravelmente a concretização dos projetos estratégicos de uma nação já em atraso face aos concorrentes.
O custo da instabilidade é sem dúvida um país em suspensão e o impacto da instabilidade política não se mede apenas em crises governamentais e eleições antecipadas. A cada governo que cai, a cada plano que não se concretiza, Portugal perde tempo precioso. E no mundo moderno, tempo perdido é competitividade desperdiçada. Mas este quase parece ser o nosso destino nas últimas décadas.
O setor empresarial hesita em investir, pois a incerteza sobre políticas fiscais, regulatórias e laborais dificulta a tomada de decisões estratégicas. O peso do Estado na economia, aliado a uma carga fiscal excessiva, sufoca o crescimento das empresas e penaliza os trabalhadores. As multinacionais olham para outros mercados mais previsíveis, enquanto as pequenas e médias empresas, o verdadeiro motor da nossa economia, lutam para sobreviver num ambiente onde as regras parecem mudar ao sabor dos interesses políticos do momento. É realmente necessário criar alicerces estratégicos num bloco central para que, independentemente das oscilações e crises políticas, as caravelas da modernidade possam navegar numa rota com sucesso.
Os fundos europeus, oportunidade única para transformar o país, são frequentemente subaproveitados devido à falta de continuidade nas políticas públicas. Projetos estratégicos são adiados indefinidamente, como a nova infraestrutura aeroportuária de Lisboa e o novo Hospital Central do Algarve, ou até as reformas no setor público. A burocracia excessiva e a falta de visão estratégica impedem o país de se modernizar e de ser competitivo no contexto europeu e as constantes crises políticas não são um bom cartão de visita empresarial ou estatal a investidores. E continuamos a lutar em décadas pela competitividade de diversos setores.
O impacto social numa sociedade mais descrente e desgastada somente provoca movimentações eleitorais extremadas e sem conteúdo; e a instabilidade não afeta apenas as elites políticas e empresariais, ela reflete-se no quotidiano dos cidadãos, que enfrentam uma realidade cada vez mais difícil. O custo de vida dispara, impulsionado por uma crise habitacional sem precedentes e um sistema fiscal que penaliza o trabalho e o investimento produtivo. A dependência do Estado como principal motor da economia levou à estagnação do setor privado e à redução da liberdade de escolha dos cidadãos, mas as reformas profundas de Portugal necessitam de estabilidade e visão estratégica, porque a revolução digital nos próximos dez anos, no mundo e no contexto europeu face à nossa escala, irá obrigar a tomar decisões profundas e revolucionárias, caso queiramos prevalecer no xadrez do futuro e não continuar na cauda da Europa.
Os jovens, que deveriam ser o motor do futuro, veem-se forçados a emigrar por falta de oportunidades dignas no seu próprio país. O sistema de ensino continua desajustado das necessidades do mercado de trabalho, formando gerações altamente qualificadas que não encontram oportunidades em Portugal. Os serviços públicos, da saúde à educação, sofrem com uma gestão errática e com a falta de financiamento adequado, fruto de uma máquina estatal pesada e ineficiente e as diversas crises políticas e a necessidade eleitoral de ganhar votos obrigam a uma gestão cuidadosa, humana e financeira. Mas é preciso fazer as grandes reformas de fundo e caso exista a validação política nas urnas, em breve, na continuidade do atual primeiro-ministro, é necessário acelerar o bom trabalho que foi feito na economia e em outros setores.
O afastamento dos cidadãos da política é um reflexo desta desilusão e falta de estabilidade, levando a uma crise de representatividade que mina os alicerces da democracia e contribui para uma sociedade cada vez mais fragmentada devido a diversas decisões políticas. É necessário e urgente mudar o rumo.
Queremos acreditar na urgência de um novo rumo, e este ainda é possível. Portugal precisa de mais do que soluções de curto prazo. Precisamos de um novo pacto para a prosperidade, assente em princípios de liberdade económica, responsabilidade fiscal e meritocracia. Esse novo rumo deve assentar e ser prioritário, após as novas eleições, em alguns pilares fundamentais, como a redução do peso do Estado, diminuindo a carga fiscal e cortando na burocracia excessiva que impede o crescimento das empresas e desincentiva o investimento. Deve acelerar-se a reforma do sistema político, garantindo mecanismos que garantam maior transparência, responsabilidade e eficiência na gestão pública, incluindo a revisão da legislação eleitoral, para garantir maior proximidade entre eleitos e eleitores num sistema de voto uninominal.
Os compromissos no desenvolvimento de projetos estratégicos devem estar acima dos ciclos eleitorais, garantindo que áreas estratégicas como a saúde, educação, habitação, economia e inovação tenham continuidade independentemente de quem governa.
A necessidade fiscal e regulatória já quase parece parte das histórias de embalar de qualquer projeto eleitoral, mas a verdade é que necessitamos de criar um ambiente favorável ao investimento e ao crescimento económico, permitindo que as empresas prosperem e criem mais empregos; caso contrário, a distribuição da riqueza e o elevador social não funcionam na sua plenitude, alinhando este pilar com o reforço das instituições democráticas, ao garantir que a justiça funcione de forma célere e eficaz, combatendo a corrupção e restaurando a confiança na sociedade. Por fim, e talvez o pilar do nosso presente e futuro, a valorização do talento nacional é mais do que crucial, é a nossa boia de salvação. Temos de criar condições para que os jovens qualificados permaneçam no país, apostando numa economia baseada na inovação e no conhecimento. Caso contrário, com a emigração de talentos, seremos sempre um país à deriva do sol e da qualidade de vida.
Portugal merece mais. O destino de Portugal não pode estar refém de disputas partidárias e interesses de curto prazo. O país tem potencial para ser uma referência de inovação, sustentabilidade e qualidade de vida. Mas para se transformar, é fundamental recuperar a estabilidade, restaurar a confiança dos cidadãos e construir um futuro onde o talento, o trabalho e a ambição sejam valorizados.
O tempo de promessas vazias e soluções paliativas já passou. É hora de agir com pragmatismo e coragem. Portugal merece um futuro de crescimento, liberdade e prosperidade. Os portugueses, mais do que nunca, precisam de acreditar que um país melhor não é apenas um sonho, mas um objetivo alcançável com liderança forte, visão estratégica e um compromisso real com a modernização do país.
Nota: Este artigo apenas expressa a opinião do autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.