A evolução do contexto da empregabilidade em Portugal tem vindo a ser influenciada por muitas variáveis diferentes. Se por um lado se tem observado o surgimento de um perfil de candidato com um crescente grau de qualificação, com mais profissionais com formação superior, por outro, continua a verificar-se a necessidade de desenvolver competências mais técnicas e soft skills cada vez mais valorizadas pelo mercado, como a resolução de problemas, a adaptabilidade, a comunicação e o trabalho em equipa. Também a questão da mobilidade tem vindo a revelar-se um desafio interessante. A disposição, ou mesmo o desejo, dos profissionais para mudar de cidade ou de país aumentou, impulsionada pela busca por melhores oportunidades e salários.
O propósito das empresas tem vindo a revelar-se também enquanto fator decisivo na escolha de um emprego. Os candidatos procuram trabalho em organizações com valores alinhados com os seus, que ofereçam oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. Associada a isso, verifica-se a tendência para a procura de oportunidades que se configuram enquanto projetos limitados no tempo. Embora os candidatos demonstrem cada vez mais um planeamento claro de carreira, com objetivos específicos e preferências por determinados tipos de empresas, a noção do emprego para a vida é cada vez menos comum e por isso as empresas precisam de atrair o talento através de uma definição clara dos seus valores e dos projetos e desafios que têm para oferecer.
Do lado das empresas, não há como fugir à forma como a digitalização tem alterado rapidamente os processos de trabalho, exigindo profissionais com competências em áreas como a tecnologia da informação, a análise de dados e o marketing digital. De igual modo, a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa são uma preocupação central para as empresas, que agora procuram candidatos alinhados com esses valores, na mesma medida em que procuram profissionais especializados numa determinada área e com capacidade para atender às características específicas de cada setor, dentro da sua especialidade, ou que tenham a flexibilidade necessária para se adaptarem a mudanças rápidas num mercado que exige capacidade para obter novas competências de forma continuada.
Um dos maiores desafios que o mercado de trabalho tem encontrado diz respeito ao desalinhamento entre a oferta e a procura, desde as expetativas salariais às qualificações formais e técnicas que não correspondem às necessidades atuais e futuras das empresas. Por outro lado, o envelhecimento da população tem levado à falta de mão de obra em determinados setores, exigindo a qualificação de novos profissionais. Neste contexto, importa referir o efeito da globalização da concorrência pelo talento português. Num cenário em que os candidatos não olham para Portugal quando procuram uma oportunidade, as empresas nacionais têm de ter a capacidade para oferecer pacotes competitivos que atraiam talento e mecanismos que ajudem a gerir com sucesso os seus recursos humanos.
Graças à importância que assume para os profissionais, a flexibilidade no modelo de trabalho é um excelente mecanismo de atração de talento. Ainda que que já tenhamos passado o pico do trabalho remoto e se verifique um retorno gradual ao escritório, para muitos candidatos as empresas serão sempre mais valorizadas se forem capazes de proporcionar regimes que equilibrem o trabalho presencial e o remoto sempre que as funções o permitirem.
Por outro lado, essa flexibilidade será um excelente contributo para o employer branding de qualquer empresa, ou seja, a reputação de uma empresa enquanto empregadora, que é fundamental para a tornar mais atraente. Apesar de o employer branding ser uma tendência relativamente recente, são vários os exemplos de empresas que, por investirem em estratégias que as tornem numa referência de qualidade de emprego, se tornam muito mais desejadas por quem procura oportunidades.
Na mesma linha, as empresas, mais do que nunca, devem ter em conta a importância da diversidade e da inclusão, uma vez que a construção de equipas diversificadas é vista como um fator crucial para a inovação e para o sucesso. Deve ser igualmente mencionada a importância da transparência salarial, que está a tornar-se norma em muitos países com o objetivo de eliminar disparidades entre géneros e promover a equidade. Por fim, a já mencionada importância das soft skills. Num mercado de trabalho cada vez mais digital e com a automação de tarefas, a comunicação, a colaboração/liderança, o pensamento crítico e a resolução de problemas, tornam-se ainda mais valorizadas.
Os desafios nesta área são evidentes e qualquer organização deve tomar em linha de conta todo este contexto complexo que estamos a viver. A necessidade de planear atempadamente a política de recursos humanos, poderá facilitar a adaptação a este novo mundo do trabalho.
National Senior Manager de Recrutamento e Seleção Especializado da Multipessoal