A 30 de novembro celebramos o Dia Mundial da Cibersegurança, uma oportunidade para refletirmos sobre os desafios crescentes que enfrentamos – empresas, pessoas e Governo - num cenário digital em constante evolução. Com os avanços exponenciais que estão a acontecer a nível de soluções tecnológicas, há uma lacuna preocupante que se mantém: a falta de recursos humanos qualificados com capacidade para capitalizar o potencial destas tecnologias e mitigar os riscos associados.

Cada vez mais, o mundo em que vivemos encontra-se hiperconectado, onde cada novo dispositivo, sistema ou aplicação digital que é criada tanto tem a capacidade de nos proteger como de nos expor a novas vulnerabilidades. O progresso tecnológico, embora seja essencial para a segurança digital, traz consigo um desafio substancial: a necessidade das empresas contarem com profissionais especializados para implementar bem (ou implementar de forma adequada), gerir e otimizar essas mesmas soluções.

As novas imposições regulamentares (que responsabilizam e penalizam) exigem um investimento cada vez maior em soluções de cibersegurança, assim como mais rigor na sua aplicação. Por outro lado existe a consciência de que os investimentos são feitos para proteger as empresas (em termos económicos, de reputação e mesmo de vidas humanas em infraestruturas críticas ou ambientes operacionais) e para assegurar a continuidade da atividade. A importância da cibersegurança é um facto, face ao número crescente de ataques que são publicados\conhecidos diariamente. No entanto, sem profissionais capacitados para configurar corretamente e manter essas ferramentas, os esforços tornam-se superficiais e por vezes podem gerar uma falsa sensação de segurança. É o equivalente a instalar câmaras de vigilância numa casa sem garantir que estão ligadas, gravam eventos ou estão ligadas às autoridades competentes. Resumindo: Em matéria de capacitação de recursos nesta área, é importante agir.

Educação e formação: a quem cabe a formação das tecnologias mais avançadas?

O fosso entre as necessidades do mercado e os recursos humanos disponíveis é agravado, na minha opinião, pelos programas curriculares e estratégias insuficientes. Em Portugal, os avanços na formação em cibersegurança ainda são bastante tímidos.

Percebemos em entrevistas de emprego com jovens licenciados que durante a formação a cibersegurança é frequentemente tratada como um tema periférico, negligenciando a necessidade de uma abordagem integrada, atualizada e alinhada com as tecnologias que se vão desenvolvendo. Embora muitas empresas invistam na formação dos seus quadros faltam laboratórios especializados, estágios práticos e oportunidades para os estudantes aplicarem conhecimentos em cenários reais. Sem isso, as lacunas entre a formação e a componente prática da experiência laboral tornam-se evidentes.

É aqui que acredito que as entidades competentes devem ter um papel fundamental, dotando profissionais com as capacidades para rapidamente atualizarem os conteúdos dos programas curriculares em conformidade com a evolução tecnológica, tornando a cibersegurança numa componente central dos cursos de tecnologias de informação e engenharia informática. Apesar de muitos docentes serem também investigadores e acompanharem a rápida evolução da tecnologia, deve existir uma preocupação adicional em assegurar que estes profissionais estão capacitados para ensinar de acordo com as últimas tendências e desafios do setor.

Tornar a cibersegurança numa prioridade estratégica

À data de hoje, acredito que a cibersegurança tenha deixado de ser apenas um tema tecnológico, passando a ser uma questão de segurança a nível nacional (e global). Infraestruturas críticas, dados pessoais e até sistemas de defesa dependem de soluções digitais que sejam efetivamente robustas. No entanto, sem profissionais capacitados, mesmo as tecnologias mais avançadas tornam-se vulneráveis.

Assim, garantir a segurança no mundo digital requer uma abordagem integrada. Todos ficamos a ganhar se as empresas, as instituições de ensino e restantes entidades competentes,  trabalharem em conjunto para colmatar as necessidades de conhecimento nesta área, e garantir que a próxima geração de profissionais está mais bem preparada para enfrentar os desafios associados à velocidade com que a tecnologia evolui.

Esta data que hoje assinalamos é, portanto, um alerta para todos: enquanto celebramos os avanços tecnológicos, devemos também olhar com atenção para a escassez de talento no setor. A educação nesta área deve ser uma prioridade e repensada, não apenas para proteger empresas e cidadãos, mas também, em última instância, para garantir a soberania e a resiliência nacional. Investir em pessoas é o caminho mais seguro para enfrentarmos um futuro cada vez mais conectado.

Project & Delivery Manager de Cibersegurança na Minsait em Portugal (Indra Group)