
Não são para todos os palatos ou sensibilidades gastronómicas mas quem prova, habitualmente gosta, garante quem ainda insiste em confecionar estes petiscos de tradição popular, só para corajosos. Típicos do Algarve, “Sandes de moreia” seca ao sol ou “Colhões de choco” acompanham bem com uma cerveja fresquinha.
Sandes de Moreia seca ao sol em Vila do Bispo
À porta do Restaurante Pôr do Sol (tel. 282111135), em Vila do Bispo, os turistas olham, intrigados, para as tiras de moreia a secar ao sol. “Perguntam se é bacalhau”, conta, entre risos, Paula Colos, gerente do espaço. Quando descobrem que não, que se trata de Moreia – um peixe típico da região, que será depois frito –, muitos hesitam. “Fazem cara feia, mas acabam por provar… e rendem-se”, garante. A estrela da cas a é a Sandes de Moreia, uma combinação simples, mas irresistível, que conquista clientes fiéis. O petisco também é servido sem pão, perfeito para acompanhar uma cerveja bem fresca. O segredo está na preparação artesanal. “A moreia é escalada, retirada a espinha e depois salgada com uma mistura de 80% sal e 20% açúcar”, explica Paula. Em seguida, seca ao sol e ao vento, estendida com canas, como roupa num estendal. Quando a pele fica firme, é cortada em filetes do tamanho de um dedo, passada por farinha e frita em óleo bem quente. Para complementar, uma maionese de limão dá o toque final a esta especialidade algarvia que conquista até os mais céticos.
Cumprir a tradição popular dos “Colhões de choco”
Leu bem, é assim que se nomeia este petisco no menu do restaurante Alcatruz (tel. 281381092), porque foi assim que os pescadores de Santa Luzia, em Tavira, sempre identificaram as ovas de choco. “É uma tradição popular muito antiga e até empregam a expressão - vou capar os chocos!”, explica Luís Gorgulho. O gerente deste restaurante diz que, “no início, todos se riem, mas é o prato que sai mais, as pessoas adoram-no”.
Por toda a região, especialmente em vilas piscatórias, as ovas são conhecidas como “colhões de choco”. Na antiga morada do Tico Tico Algarve (tel. 935763684), de Quarteira, também dava o nome popular ao pitéu, mas alterou-se para ovas porque “havia pessoas que ficavam escandalizadas”. Ainda as vendem no novo espaço: fritam até alourar, põem-se os alhos em lume brando e depois o coral, que é parte laranja, “esmagada à parte com sumo de limão”, refere Maria Fernanda.
Também no Mato à Vista (tel. 289367101), em Albufeira, se servem estas ovas, como entrada. O chef Luís Santos salteia-as com sal, pimenta e um toque de limão, azeite, alhos e folha de louro. Recorta as ovas e depois introduz o coral, refrescando com vinho branco e coentros até o coral começar “a abrir e a espessar o molho”. “As pessoas adoram e muitas vêm de propósito” à procura, constata o chef.