
Foi numa noite de Natal que João d’Eça Lima anunciou à família que ia abandonar as salas de aula, onde lecionava história, para ingressar na Escola de Hotelaria. Em 2019, formação feita, pega no automóvel e na companhia da mulher, Mafalda Branco faz-se à estrada, a caminho da praia fluvial da Louçainha, resistindo ao frio e a um nevoeiro que impedia a visibilidade a mais de 20 metros. Após ultrapassados os últimos seis quilómetros, com curvas e contracurvas, ao ver o edifício sobre as águas da ribeira da Azenha, Mafalda disse ao marido: “nem penses que vais ficar com este espaço”.
Hoje, seis anos volvidos sobre este episódio, o restaurante que era, até então, um apoio de praia, com pouco mais do que petiscos e gelados, tornou-se numa referência regional, já com notoriedade nacional. O segredo, contou João d'Eça Lima ao Boa Cama Boa Mesa no Guia “20 Restaurantes que merecem o desvio”, passa por “proporcionar uma experiência diferente” e para que tal aconteça, pensou o restaurante “como um destino que já ultrapassou a praia fluvial”. O ajuste de cada ementa às estações do ano também assume especial importância, até porque, “não ficam pratos de uma estação para a outra, garantido assim, novidades a cada três meses”.
O Xisto é hoje um espaço que combina a tranquilidade da natureza com a excelência da gastronomia portuguesa. Destaca-se pela recuperação de receitas tradicionais das Beiras, utilizando produtos locais e sazonais. Para conseguir as novidades da ementa, que afinal podem ser receitas esquecidas e familiares, é raro o dia em que João d’Eça Lima não para à beira da estrada para, em conversa, descobrir segredos com os mais antigos.
Este ano, além da experiência gastronómica, notabilizaram-se as conversas com chefes de outras origens, sempre à volta dos ingredientes locais, e os passeios pela floresta, em busca de ervas aromáticas e plantas comestíveis. É a junção da arte de dominar os tachos com a da anterior profissão de João D’Eça Lima, a de professor de história, que está ao serviço da descoberta e do desenvolvimento da região das Terras de Sicó.
No regresso ao restaurante, sobre as águas da praia fluvial da Louçainha, apresenta todos os anos quatro ementas diferentes, com alguns ingredientes comuns, como o “Javali”, o “Bacalhau” e a incontornável “Chanfana”, magistralmente servida em arroz (preço médio €25). Os aconchegantes interiores em madeira proporcionam conforto e as enormes janelas vistas panorâmicas. Durante o inverno, a lareira acesa adiciona um toque especial à experiência.
O Xisto (Praia Fluvial da Louçainha, Espinhal. Tel. 239012296) encerra segunda e terça-feira. Quanto à decisão de abandonar o ensino, assume que este restaurante foi “a sala de aulas onde mais me agradou ensinar”.
Em 2025, são distinguidos com o prémio Revelação, as novidades do ano, na hotelaria e restauração, e Revelação – Personalidade, que destaca o rosto à frente de um projeto recente e com impacto local. Este ano, são novamente atribuídas as distinções Sustentabilidade, a um restaurante e a um alojamento, que premeiam a abordagem integrada da sustentabilidade, da vertente ambiental ao trabalho de responsabilidade social e de desenvolvimento da comunidade.
O Guia Boa Cama Boa Mesa 2025, que conta com o apoio do BPI e do Recheio, vai estar disponível nas bancas, a partir de 9 de maio, por €19,90. Pode aproveitar a campanha de venda Boa Cama Boa Mesa, com desconto e oferta de portes.