![Inteligência Artificial nas empresas não é uma moda [vídeo]](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
A IA, diz-nos, não é um conceito monolítico. E muito menos é uma moda. “O que mudou nos últimos dois anos e meio foi a velocidade. A tecnologia evoluiu a um ritmo tal que nem as empresas, nem os indivíduos, nem as sociedades conseguem assimilar tudo o que está disponível.”
Mas há espaço para otimismo. A maturidade das ferramentas de IA generativa, em particular, já permite casos de uso concretos, viáveis e com retorno. “Já há muita coisa que se pode fazer. O segredo é começar pequeno, testar, falhar rápido se for o caso, e construir a partir daí.”
Um exemplo paradigmático? A ideia — outrora futurista — de tirar uma fotografia a um frigorífico e receber sugestões de receitas com base no que lá está. O que exigia complexidade e investimento avultado há apenas três anos, hoje pode ser resolvido com um smartphone e um modelo generativo. “É good enough, e isso chega para muitas empresas.”
A IA está, portanto, já a mudar a forma como se pensa o trabalho. Mas essa transformação não é neutra — nem gratuita. Os custos de consumo, sobretudo em infraestruturas de cloud e data centers, preocupam empresas. Contudo, Sérgio Viana sublinha que essa curva também está a descer. “Não é incomum estarmos a meio de um projeto e ver duas novas versões de um modelo serem lançadas, mais poderosas e mais baratas.”
É uma corrida a alta velocidade, onde quem pisca perde. Mas pisar o acelerador sem saber para onde se vai também pode sair caro. “Muitas empresas não fizeram ainda o trabalho de casa: modernização aplicacional, gestão dos dados, integração tecnológica. Sem isso, não há IA que valha.”
A tentação de adotar IA só porque “está na moda” pode ser perigosa. “Não faz sentido implementar inteligência artificial sem primeiro saber onde é que dói, onde é que estão os processos ineficientes. É aí que nós entramos, enquanto consultores: não é para vender tecnologia, é para desenhar soluções.”
E as dores variam. Uma grande empresa pode lutar com sistemas legados pesados e dados desorganizados. Já uma PME, mais ágil, pode experimentar com menos risco — desde que saiba onde atacar. “O que estamos a assistir agora faz lembrar o início da cloud: quem souber usar, com inteligência e parcimónia, pode dar um salto brutal.”
Uma das expressões que mais se ouve neste novo léxico empresarial é a de “agentes de IA”. Sérgio Viana explica a diferença entre agentes e IA agêntica: os primeiros são peças autónomas, especializadas, enquanto a segunda é uma abordagem holística baseada na orquestração de vários agentes para resolver problemas específicos.
Esta estrutura, por complexa que pareça, é poderosa. Pode-se imaginar, por exemplo, o processo de onboarding de um novo colaborador a ser repartido por agentes distintos: um para recolha de dados, outro para integração nos sistemas, outro para agendamento de formação. “É como contratar uma equipa. Só que virtual.”
Mas alerta: “Não podemos cair na armadilha de desumanizar tudo. Há processos, como a integração cultural de alguém numa empresa, que são insubstituíveis pelo toque humano. Não queremos criar uma geração de bichos do mato que nunca fala com ninguém.”
Cultura e retenção: o verdadeiro desafio
Mais do que tecnologia, o verdadeiro diferencial competitivo está na cultura. “As empresas têm de criar um ambiente onde as pessoas queiram ficar. Isso não se compra com salários — compra-se com propósito, ferramentas, projetos e proximidade.” SérgioViana fala com a experiência de quem lidera equipas técnicas num mercado volátil e competitivo.
E numa altura em que os candidatos às vezes ditam os termos, a entrevista de emprego tornou-se uma mesa de negociação. “O equilíbrio é essencial. Nem o empregador pode ter poder absoluto, nem o candidato pode chegar a exigir sem oferecer.”
Europa, Estados Unidos e… China
A regulamentação europeia, muitas vezes apontada como travão à inovação, surge como inevitável na visão de Viana. “A Europa escolheu o caminho da ética e da privacidade. Os EUA apostam na autorregulação. E a China, essa, nem pergunta: tem uma missão clara de ser líder mundial em IA até 2030, com o peso do Estado a empurrar.”
A complexidade do mundo multipolar onde IA se desenvolve é inegável. E, no meio, estão as empresas portuguesas — grandes, médias, pequenas — a tentar perceber por onde começar.
Sobre os progressos que a área da Saúde pode ter com a adoção de IA, Sérgio Viana, afirma: “Estamos a assistir aos primeiros medicamentos desenvolvidos com IA a entrarem em ensaios clínicos. Isto pode mudar tudo: diagnóstico, prevenção, personalização de tratamentos.”
A saúde não é só uma oportunidade de negócio. É um imperativo moral. “É das poucas áreas onde o impacto da IA será universal, independentemente da classe, género ou profissão. Pode mudar vidas.”
O futuro, afinal, já passou.
Como diz Sérgio Viana, “não estamos a falar do futuro. Estamos a falar do presente. E já, em muitos casos, do passado.” O desafio agora é aceitar que o presente exige ação. E que a inteligência artificial, bem aplicada, não substitui pessoas — multiplica o que elas podem fazer.
No final, tudo se resume a uma pergunta: onde é que dói?
Se souber responder, talvez a sua empresa esteja pronta para a inteligência artificial.