Teve início esta quarta-feira, 12 de junho, em Vila Viçosa, o congresso internacional «Portugal Restaurado. 360 anos da Batalha de Montes Claros», uma iniciativa que assinala os 360 anos do confronto travado a 17 de junho de 1665, no âmbito da Guerra da Restauração. O evento decorre até segunda-feira, dia 17, e estende-se também ao concelho vizinho de Borba.

Organizado pelo CECHAP – Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Património, em parceria com o ARTIS – Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o congresso conta com a colaboração de várias instituições científicas e culturais, reunindo investigadores portugueses e estrangeiros. O objetivo é promover uma reflexão multidisciplinar sobre os impactos da Batalha de Montes Claros, considerada uma das principais vitórias militares da monarquia restaurada pela Casa de Bragança.

Através de sessões temáticas, visitas guiadas, comunicações académicas e mesas redondas, o congresso aborda as dimensões militar, política, diplomática, artística e religiosa da Restauração de 1640. Em foco está o papel estratégico desempenhado por Vila Viçosa durante este período, bem como a forma como a batalha contribuiu para consolidar a independência de Portugal face à coroa espanhola.

Carlos Filipe, do CECHAP, explicou que este encontro pretende lançar novos olhares sobre questões históricas que continuam a ser relevantes na atualidade. «Este congresso, esperamos nós, com os diversos contributos que os investigadores nos vão trazer, trazer uma perspetiva global sobre diversas questões que foram colocadas ao longo da história e, de certa forma, estão a ser hoje de novo questionadas», afirmou.

Entre os temas abordados estão a reorganização do exército português, a construção da rede de fortificações defensivas, a propaganda régia, a diplomacia europeia e o papel simbólico da religião, nomeadamente através da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, em 1646. Para os organizadores, trata-se de valorizar o impacto da batalha «do ponto de vista militar, do ponto de vista da propaganda, do ponto de vista da política e da diplomacia, da paramética, do imaculismo», como referiu Carlos Filipe.

A iniciativa insere-se num esforço de divulgação científica com forte ligação ao território e às suas comunidades. «De certa forma, é debater a história que aqui se passou e que por vezes até pode ser pouco conhecida de alguns. E aqui vai ser explorada», referiu. O responsável sublinhou ainda a importância de tornar acessível ao público o conhecimento histórico e as novas perspetivas que emergem da investigação académica: «Estes congressos procuram disseminar o conhecimento e não ficar apenas entre investigadores ou entre centros de estudo (…). São problemáticas que atravessam os séculos e que nos atingem nos dias de hoje».

A Batalha de Montes Claros, liderada pelo Marquês de Marialva, representou o último grande confronto da Guerra da Restauração e foi decisiva para a manutenção da independência portuguesa. «Esta batalha foi decisiva ao ponto de hoje ainda, as fronteiras que são conhecidas entre Espanha e Portugal manterem-se», lembrou Carlos Filipe. «Vila Viçosa era o centro político, não era um centro militar, era um centro político. E a batalha, de certa forma, veio provar como foi possível circunscrever os danos a Vila Viçosa e ao património que a Casa Bragança representava».

Ao longo de seis dias, o congresso procura, assim, reafirmar o valor histórico da batalha e o seu impacto duradouro na geopolítica ibérica e europeia, recuperando para o debate público um episódio determinante da história de Portugal.