
Faleceu esta sexta-feira, 20 de junho, José Mouta Liz, um dos fundadores das Forças Populares 25 de Abril (FP-25), organização armada de extrema-esquerda responsável por dezenas de atentados e homicídios em Portugal nas décadas de 1980 e 1990. Estava internado nos cuidados paliativos do hospital CUF Tejo, em Lisboa.
A notícia da morte foi tornada pública mediante uma publicação no Facebook por Manuel Castelo-Branco, filho de Gaspar Castelo-Branco, antigo diretor dos serviços prisionais assassinado pelas FP-25 com dois tiros à porta de casa. A publicação destaca não só o passado de Mouta Liz como a ausência de arrependimento por parte deste e de outros fundadores da organização, como Otelo Saraiva de Carvalho ou Pedro Goulart.
Condenado a 17 anos de prisão pelo Supremo Tribunal de Justiça, Mouta Liz foi considerado culpado pela participação num violento assalto a uma carrinha de valores do Banco Fonsecas & Burnay, em que foram roubados mais de 500 mil euros (108 mil contos). Contudo, seria amnistiado pela Assembleia da República, ao abrigo da polémica lei de 1996 que perdoava crimes de natureza política cometidos entre junho de 1976 e julho de 1991.
Economista de formação, chegou a trabalhar no Banco de Portugal, instituição que abandonou abruptamente em 1984 ao saber que seria detido pela Polícia Judiciária. Politicamente, teve um percurso ativo: militou no MES e no MSU, e foi uma das figuras principais da Organização Unitária dos Trabalhadores (OUT), embrião do denominado Projeto Global.
A sua última aparição pública com destaque remonta a 2008, quando interrompeu um seminário da Fundação Mário Soares para insultar o então primeiro-ministro José Sócrates, gritando “propaganda” e dirigindo outras palavras ofensivas ao governante.
A publicação de Manuel Castelo-Branco recorda com detalhe os nomes e circunstâncias da morte de várias vítimas das FP-25, entre civis e agentes das forças de segurança, assassinados em atentados, assaltos ou explosões. “Nenhuma morte me deixa contente, mas neste caso ajuda a fechar um ciclo e arrumar uma dor que o tempo não cura”, escreveu.
A longa lista de mortos recordados inclui, entre outros, Henrique Hipólito e Agostinho Ferreira (soldados da GNR), José Lobo dos Santos (assassinado durante um assalto), Fernando Abreu (baleado numa tentativa de assalto), e o bebé Nuno Dionísio, que morreu com apenas meses de vida após uma explosão junto à sua casa. Também são mencionados os casos de Alexandre Souto, José Manuel Rosa Barradas, e do próprio pai do autor da publicação.
A morte de José Mouta Liz encerra um capítulo sombrio da história contemporânea portuguesa, mas também reacende o debate sobre a memória das vítimas do terrorismo doméstico, a amnistia concedida aos autores e a falta de arrependimento público por parte dos responsáveis.