Mais de meio século de aspiração está a um novo passo da sua concretização. A obra de ligação rodoviária entre Águeda e Aveiro, um eixo estratégico que promete transformar a mobilidade, o tecido económico e a coesão territorial da região, está numa fase final de tramitação administrativa e prepara-se para entrar em concurso público, depois de o projeto de execução ter sido validado pela Infraestruturas de Portugal (IP) e do parecer positivo da Declaração de Impacte Ambiental (DIA).

Uma ambição antiga com execução moderna
Embora a ideia de uma ligação direta entre os dois concelhos remonte a mais de 50 anos, foi apenas em 2020 — no início do primeiro mandato do atual presidente da Câmara Municipal de Águeda — que o processo teve início efetivo. E, ao contrário do que se possa supor, não havia qualquer projeto em curso ou herdado. A iniciativa nasceu do zero, com base em reuniões realizadas entre os Municípios de Águeda e de Aveiro e o Governo, nomeadamente com o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e com a empresa pública Infraestruturas de Portugal (IP).

Acordo inicial e financiamento
Dessa articulação política surgiu, em março de 2021, um acordo financeiro entre as partes envolvidas. Sem ligação ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o protocolo estabelecia que 85% do valor da empreitada seria suportado pelo Estado, através da IP, e os restantes 15% pelos dois municípios, em partes iguais.

A integração posterior da obra no PRR, em abril de 2021, alterou a origem do financiamento, mas não a proporção do investimento. A estimativa inicial, baseada num plano de intenções datado de 2008, apontava para um custo aproximado de 40 milhões de euros. Essa proposta anterior previa a construção de uma autoestrada com portagens, integrada num consórcio de Parceria Público-Privada denominado “Autoestradas do Centro”, ao lado do IP3 e da A32. No entanto, a crise financeira e as medidas do PEC1 da “Troika” colocaram um ponto final nesse modelo de execução. Nunca chegou a existir qualquer projeto técnico ou procedimento formal — apenas traçados genéricos.

Constituição do agrupamento e elaboração do projeto
Com o novo acordo estabelecido, as autarquias avançaram com a constituição de um Agrupamento de Entidades Adjudicantes em dezembro de 2021, o que permitiu, em janeiro de 2022, o lançamento do concurso público para a elaboração do projeto de execução. O contrato foi adjudicado em junho, assinado em julho e submetido ao Tribunal de Contas, que emitiu o respetivo visto em setembro do mesmo ano.

Desde então, a elaboração do projeto tem sido acompanhada de forma contínua pela IP. Paralelamente, foram desencadeadas ações de antecipação técnica, como o pedido de estudos arqueológicos e subaquáticos do rio, e estabelecidos contactos com dezenas de entidades oficiais, desde a APA, ICNF, CCDRC, Direção-Geral do Património Cultural, universidades, E-Redes, IMT, Brisa, Ascendi, entre muitas outras.

Declaração de Impacte Ambiental e alterações
O projeto, já em versão praticamente final, foi submetido à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) em março de 2024 para emissão da Declaração de Impacte Ambiental. Em maio desse ano, a APA emitiu um pedido de esclarecimentos, ao qual os Municípios responderam em julho. A consulta pública decorreu até 29 de agosto e, em setembro, foi feita uma vistoria no terreno por parte da comissão de acompanhamento — composta por dezenas de entidades públicas.

Em novembro de 2024, foi finalmente emitida a DIA, com parecer favorável, mas sujeito a condicionantes. Foram determinadas alterações de três tipos:

Obrigatórias antes da aprovação do projeto – Entre as quais se destacou a inclusão de uma nova ponte pedonal em Aveiro.

Obrigatórias antes do início da obra

Obrigatórias na fase de exploração da estrada

As alterações classificadas como prévias à aprovação foram rapidamente realizadas pelo gabinete projetista e remetidas à APA, aguardando agora a emissão do RECAPE (Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução). Este documento é crucial, pois confirma se o projeto cumpre todas as exigências impostas pela DIA, permitindo avançar para as fases seguintes.

Próximos passos
Com a emissão, nos últimos dias, do parecer final da IP validando o projeto de execução — etapa indispensável, dado que a via será posteriormente integrada na rede da IP —, as autarquias preparam agora as peças do procedimento para lançamento do concurso público para a construção da estrada.

O projeto será submetido a reunião de Câmara, seguindo-se:

  • Deliberação sobre a Declaração de Utilidade Pública (DUP) das parcelas a expropriar, que terá de ser aprovada nas Assembleias Municipais de Águeda e Aveiro. A DUP será usada apenas quando não houver acordo direto com os proprietários, sendo que os contactos prévios com os mesmos já estão avançados.
  • Aprovação da abertura do concurso público para a obra.

Quanto ao financiamento, a Resolução do Conselho de Ministros de 20 de março de 2025 estabelece o compromisso formal do Governo para suportar o investimento nesta obra, definindo-a como prioritária do ponto de vista nacional.

Um investimento transformador
A nova ligação entre Águeda e Aveiro, em perfil de autoestrada, representa uma transformação profunda na geografia económica e social da região. Permitirá a ligação direta de Águeda aos principais eixos rodoviários nacionais — A1, A17 e A25 — e encurtará distâncias entre centros com forte dinâmica empresarial, industrial e académica.

“Esta é uma via estratégica e fundamental para o desenvolvimento da nossa região”, afirmou o presidente da Câmara de Águeda, Jorge Almeida, destacando a importância da nova via, em perfil de auto-estrada e não portajada, para reforçar a mobilidade das pessoas, a atratividade económica e a coesão territorial.

A obra, além de melhorar as acessibilidades, abre caminho a uma nova centralidade para Águeda, consolidando-a como motor de desenvolvimento no contexto regional e nacional. O projeto, já aprovado tecnicamente, encontra-se agora à espera do último passo ambiental, para que finalmente se possa abrir o concurso e dar início à fase de construção.