Aumentar o conhecimento sobre os peixes dos rios de Portugal e alertar para o problema das espécies invasoras, como o siluro, foi o objetivo da sessão de sensibilização ambiental realizada no dia 10 de março, no Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão. A iniciativa, dirigida aos alunos do 1.º ciclo do Ensino Básico, foi promovida no âmbito do projeto LIFE PREDATOR e contou com uma plateia atenta e curiosa.

O projeto LIFE PREDATOR é uma parceria entre Portugal, Itália e a República Checa, com o objetivo de reduzir os impactos do siluro na biodiversidade dos lagos e albufeiras do sul da Europa. Cofinanciado pela União Europeia através do programa LIFE, conta ainda com um apoio financeiro de 25 mil euros atribuído pelo Município de Vila Velha de Ródão à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

O siluro, ou peixe-gato-europeu (Silurus glanis), é uma espécie invasora introduzida ilegalmente na Europa Ocidental. Este predador voraz, sem inimigos naturais, reproduz-se e adapta-se facilmente, afetando a biodiversidade ao alimentar-se de espécies emblemáticas como o barbo, o sável e a enguia-europeia. Além do impacto ambiental, as suas grandes dimensões geram algum alarme social.

A sessão de sensibilização em Vila Velha de Ródão envolveu cerca de 130 alunos em três sessões adaptadas às diferentes idades, com jogos didáticos e contacto com espécies aquáticas. A professora Paula Alves, coordenadora do 1.º ciclo, destacou o envolvimento dos alunos, muitos dos quais já conheciam as espécies devido à prática da pesca nas suas famílias. Filipe Ribeiro, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), salientou que o projeto também visa sensibilizar os pais, muitos deles pescadores desportivos. Para maio, estão previstas novas ações dirigidas a alunos mais velhos, incluindo sessões de pesca científica.

Uma “Autoestrada SCUT” Subaquática para Monitorizar o Siluro

Desde setembro de 2022, o LIFE PREDATOR tem realizado diversas atividades, como a caracterização das comunidades aquáticas das albufeiras de Belver, Fratel, Tejo Internacional, Meimoa, Pracana e Montargil. Os dados indicam que o siluro está em expansão, inclusive em locais onde não havia registos anteriores.

Uma das medidas implementadas foi a marcação eletrónica de 27 siluros no Tejo Internacional, que estão a ser monitorizados por telemetria acústica. “Temos uma autoestrada SCUT debaixo de água. Sempre que um siluro marcado passa num raio de 500 metros, a sua posição e profundidade são registadas”, explica Filipe Ribeiro. O projeto também está a recolher opiniões da população sobre o siluro e a sua perceção do problema.

Luís Pereira, presidente do Município de Vila Velha de Ródão, destaca a importância do projeto para a gestão ambiental e a consciencialização da população sobre espécies invasoras.

Ainda em 2025, o LIFE PREDATOR prevê iniciar ações de remoção de siluro nas albufeiras abrangidas pelo projeto. Em 2024, uma operação similar resultou na captura de 1200 quilos de siluro, incluindo exemplares com mais de dois metros. O maior registado media 2,30 metros e pesava 93 quilos, sendo o maior alguma vez capturado em Portugal. As iniciativas de sensibilização e colaboração com pescadores profissionais e entidades governamentais continuarão a ser desenvolvidas para mitigar os impactos desta espécie invasora no ecossistema português.