O Litoral Alentejano possui atualmente infraestruturas ferroviárias renovadas e eletrificadas, mas há ausência de serviços de transporte ferroviário para que o trânsito continue a ser uma realidade preocupante. Apesar dos investimentos anunciados há anos, o transporte de passageiros por comboio permanece negligenciado numa região que tem sido alvo de desinvestimento por parte do Estado central, particularmente desde a era da troika.

Esta situação foi o foco da sessão “Conversa sobre Comboios”, realizada na última sexta-feira, no Cineteatro Vitória , em Ermidas-Sado, organizada pela Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral (CIMAL) . O evento incluiu a gravação do podcast “Sobre Carris” , do jornal Público , que abordou o impacto da ausência de serviços regionais na linha férrea do Litoral Alentejano.

Infraestruturas Modernizadas, Mas Subaproveitadas

Apesar da renovação da Linha do Sul e da eletrificação de suas vias e estações, o serviço regional é inexistente. Actualmente, apenas os comboios Intercidades param em duas estações dos cinco concelhos do Litoral Alentejano, deixando localidades como Alvalade-Sado e Canal Caveira sem qualquer paragem há décadas. Esta ausência reflete um modelo que, aparentemente, prioriza deslocações entre Lisboa e o Algarve, ignorando as necessidades locais.

Outro exemplo é o Ramal Ermidas-Sado-Sines , actualmente dedicado exclusivamente ao transporte de mercadorias. O serviço de passageiros foi extinto há 30 anos, agravando o isolamento da região. Segundo Álvaro Beijinha , presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém e vice-presidente da CIMAL, até mesmo o transporte de mercadorias enfrenta desafios significativos devido à tensão acentuada da linha, considerada a mais profunda do país.

Potencial de Desenvolvimento Ignorado

Especialistas como o jornalista Carlos Cipriano , que escreve sobre ferrovia, e o gestor João Cunha apontaram durante o evento que o maior investimento – infraestruturas e material circulante – já está feito. O que falta é a melhoria dos serviços regulares, algo considerado mais acessível do ponto de vista financeiro e essencial para o desenvolvimento regional.

João Cunha destacou as oportunidades de crescimento em Sines , impulsionadas por novas indústrias, centros de dados e cabos submarinos de transporte de dados. Contudo, a falta de transporte ferroviário eficiente dificulta a fixação dos trabalhadores na região. Uma ligação rápida de comboio entre Lisboa e Sines, com um tempo de viagem estimado de 50 minutos, foi apresentada como uma solução viável para transportar os cerca de 8 mil trabalhadores necessários para os projectos previstos.

Rede Ferroviária como Motor de Desenvolvimento

Além de ligar Sines à Área Metropolitana de Lisboa, a expansão ferroviária poderia instalar localidades como Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Vila Nova de Santo André, aumentando a sua atractividade para a fixação da população. A construção de uma terceira travessia do Tejo , entre Lisboa e o Barreiro, com valência ferroviária, foi apresentada como um passo fundamental para concretizar este objetivo.

O crescimento populacional previsto no triângulo Santiago do Cacém–Vila Nova de Santo André–Sines, que poderá atingir os 50 mil habitantes, reforça a urgência de criar alternativas ferroviárias. Uma nova linha entre Grândola e Sines, com paragens estratégicas, incluindo o Hospital do Litoral Alentejano , seria um elemento central nesta transformação.

Reflexão Necessária

Apesar das oportunidades de desenvolvimento, a falta de acção no Litoral Alentejano reflecte um padrão de desatenção às necessidades das populações e ao potencial económico da região. A “Conversa sobre Comboios” sublinhou que a ferrovia tem o poder de transformar o território, desde que as infraestruturas já existentes sejam colocadas ao serviço das comunidades.

Para ouvir a gravação completa do podcast “Sobre Carris” , clique aqui .