A agressão de um homem de 68 anos por jovens de origem magrebina em Torre-Pacheco desencadeou uma ‘caça’ ao imigrante nesta vila em Múrcia, sudeste de Espanha. Os motins começaram na sexta-feira, dia 11 de julho, e foram organizados pela extrema-direita nas redes sociais.

Domingo Tomás, reformado de 68 anos, foi agredido na passada quarta-feira, dia 9, por um jovem marroquino enquanto outro filmava a cena, com o propósito — segundo informação policial — de publicar o vídeo no Tik Tok. Dois dias depois, começaram os motins anti-imigrantes.

Houve grupos organizados procedentes de Valência,
Madrid, Alicante e Almería, que chegaram a Torre-Pacheco para perseguirem imigrantes magrebinos. “O relato de locais contra estrangeiros é algo essencial para as narrativas da extrema-direita”, começa por dizer Diogo Noivo, politólogo e mestre em Segurança e Defesa pela Universidade Complutense de Madrid.

“A imigração constitui um desafio sobretudo quando não é devidamente integrada. E a imigração não é toda igual. Cada comunidade imigrante tem os seus próprios desafios”, como acontece com “a comunidade marroquina sobretudo no sul de Espanha, onde parece estar mais concentrada”, acrescenta.

Em Torre-Pacheco, cerca de 30% da população de 40 mil habitantes é imigrante ou de origem estrangeira — são cerca de 12 mil pessoas. E segundo o presidente da comunidade muçulmana local, Nabil Moreno, em entrevista ao Expresso, há falta de integração dos migrantes magrebinos no resto da população e da sociedade.

“Olhando para Espanha, não há um problema na integração de imigrantes, há um problema na integração de algumas comunidades”, afirma ainda Diogo Noivo. “E é importante ter presente que o que aconteceu em Torre-Pacheco dá muito jeito a algumas agendas políticas em Espanha.”

É o caso do partido de extrema-direita. “O Vox está a ver eleições no horizonte, não cresce de forma significativa nas sondagens, portanto, o relato de um conflito entre nacionais e estrangeiros ajuda a mobilizar o seu eleitorado. O Vox está claramente a usar e a manipular o que está a acontecer em Torre-Pacheco”, diz.

“Mas também é verdade que beneficia a esquerda. Importa recordar que o Governo espanhol e o Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE, estão imersos em casos de corrupção, tráfico de influências, peculato... Evidentemente que Torre-Pacheco desvia atenções e é útil ao Governo de Pedro Sanchéz”.

Este episódio foi conduzido pela jornalista Mara Tribuna e contou com a edição técnica de Salomé Rita. O Mundo a Seus Pés é o podcast semanal da editoria Internacional do Expresso. A condução do debate é rotativa entre os jornalistas Ana França, Hélder Gomes, Mara Tribuna, Pedro Cordeiro e Catarina Maldonado Vasconcelos. Subscreva e ouça mais episódios.