

Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.Recordemos uma das figuras maiores da freguesia de Soalhães, do concelho de Marco de Canaveses e da nossa sub-região.
Como escrito em janeiro, este ano passam 700 anos do falecimento de D. João Martins de Soalhães.
João Martins de Soalhães nasceu por volta do ano de 1253 e descendia dos Portocarreiro, uma importante família da nobreza portuguesa, com origens galegas, que possuía vários domínios territoriais nos vales do Sousa, Tâmega e Douro, como o couto de Porto Carreiro – que passou posteriormente a concelho e abarcava freguesias integradas atualmente nos concelhos de Penafiel e de Marco de Canaveses –, e esteve na fundação de casas religiosas, como os mosteiros de São Martinho de Mancelos (Amarante) e o de Soalhães (Marco de Canaveses).
Uma vez feitos os seus estudos em Paris, João Martins de Soalhães regressou a Portugal. Por volta de 1290, sabemos que já exercia os cargos de cónego da Sé de Coimbra, vigário-geral da diocese Coimbrã e capelão do rei D. Dinis. Em 1291, estava como cónego da Sé de Lisboa, para depois se tornar Bispo da Diocese, em 1294. Desempenhou o cargo até 1312 ou 1313. Neste último ano, tornou-se Arcebispo de Braga, onde se manteve até morrer, no primeiro dia de maio ou de dezembro de 1325. Encontra-se sepultado na Sé de Braga.
Embora se tenha envolvido em diversos litígios, D. João Martins de Soalhães foi um mediador de conflitos, como sucedeu na discórdia sobre os direitos de posse da Igreja de Santa Cruz do Douro (Baião), em que o Bispo do Porto contestava a sua posse pelo Arcebispo de Braga. Quem mediou a questão foi D. João Martins de Soalhães, na altura Bispo de Lisboa. Já em Braga, foi um reformador, convocando sínodo (assembleia de religiosos e leigos de uma diocese) para a instituição de novas constituições sinodais (normas para a vida e prática religiosa numa diocese).
A personalidade em questão foi igualmente um homem poderoso e detentor de um vasto património, evidente nos direitos que detinha sobre inúmeras terras e igrejas.
A par dos cargos e das riquezas, este servidor da Igreja não se esqueceu da terra onde nasceu, estando esta sempre presente na sua vida, por exemplo, quando instituiu o Morgado de Soalhães, em 1304, ou quando obteve o padroado da Igreja de São Martinho de Soalhães, incluindo o direito de apresentação do seu abade.
Apesar de se saber o ano e o dia do seu falecimento, não se sabe ao certo o mês. Apesar da dúvida, o mais importante é não nos esquecermos da sua atividade como religioso e a ligação à sua terra-natal. E para estes fins, qualquer data é excelente para fazer uma evocação.
Como sugestão de leitura, recomendo o livro D. João Martins de Soalhães: o homem e o arcebispo de Braga, de José Alfredo de Vasconcelos Soares de Oliveira, editado pela Junta de Freguesia de Soalhães, em 2019.
Gostaria de citar uma passagem da referida obra, que resume a vida deste religioso: “Um homem que através da sua cultura, conhecimento e sabedoria, dignificou e engrandeceu esta terra de Soalhães”.
Como já tive oportunidade de escrever em anteriores textos, ao longo dos séculos, as terras que hoje constituem a sub-região do Tâmega e Sousa viram surgir famílias e personalidades que ajudaram a criar Portugal. D. João Martins de Soalhães é outro exemplo.