A tauromaquia, especialmente no Campo Pequeno, enfrenta tempos desafiadores. A recente confirmação de apenas quatro corridas anuais levanta uma série de questões sobre a relevância e o apelo das touradas no cenário atual. Embora a parceria Ovação e Palmas/Toiros com Arte tenha anunciado elencos não desprovidos de mérito, a realidade é que estas escolhas não trazem o impacto esperado para um evento de tamanha importância.

A expectativa vs. a realidade

Esperava-se que os quatro eventos programados fossem grandes acontecimentos, capazes de esgotar a chamada Catedral da tauromaquia. No entanto, os elencos anunciados foram recebidos com uma mistura de desapontamento e críticas nas redes sociais. A comunidade taurina é particularmente vocal e, como em nenhum outro espetáculo, os “treinadores de bancada” e entendidos proliferam, cada um com a sua opinião sobre o que deveria ter sido feito.

As redes sociais: O novo mural de lamentações

As redes sociais, que substituíram as paredes como o lugar onde se escreve de tudo, são um espaço onde todos se sentem livres para expressar suas opiniões. Este fenômeno amplifica as críticas e as insatisfações, muitas vezes exacerbando problemas que poderiam ser resolvidos de forma mais construtiva.

A crise da adjudicação do Campo Pequeno

Um ponto crucial que merece destaque é a falta de iniciativa do setor tauromáquico durante a adjudicação do Campo Pequeno. Quando a praça foi a leilão, ninguém do mundo da tauromaquia se mobilizou para assumir a sua gestão. Isso resultou na aquisição por Álvaro Covões, um renomado empresário de espetáculos, que passou a utilizar a praça predominantemente para concertos, reservando apenas quatro datas anuais para as touradas. Este desinteresse inicial da comunidade taurina é agora uma causa de lamento, mas na altura, ninguém se apresentou para salvar a “Nossa Casa”.

A realidade das quatro corridas

Os elencos apresentados, embora competentes, carecem de novidade e impacto. A primeira corrida em julho, com Moura Júnior, Bastinhas e António Telles Filho, promete, mas é difícil prever uma lotação esgotada. A segunda, um concurso de pegas com seis cavaleiros, é criticada pela escolha dos grupos de forcados. A terceira, com o regresso de Rui Fernandes e a despedida de Rui Salvador, parece ter um apelo moderado. A quarta, com a despedida de Pablo Hermoso de Mendoza, é a única com potencial real de casa cheia.

A falta de aficionados e a inércia do público

Um dos problemas mais destacados é a ausência de público. As redes sociais fervilham com protestos sobre a diminuição do número de touradas, mas, paradoxalmente, as mesmas pessoas que reclamam não comparecem aos eventos. Esta falta de comparecimento apenas legitima a decisão de oferecer menos datas para touradas.

A Ausência de grandes nomes e inovação

A crítica também se estende à ausência de toureio a pé e de grandes nomes que poderiam atrair mais público. Luis Miguel Pombeiro, um dos empresários, justificou a ausência de matadores devido ao fracasso financeiro das corridas a pé nos anos anteriores. Isto levanta a questão: há realmente espaço para inovação na tauromaquia em Portugal ou estamos condenados à repetição de cartéis vulgares?

A análise dos cartéis do Campo Pequeno revela uma tentativa de manter viva uma tradição em tempos difíceis, mas também expõe a falta de visão e ousadia necessárias para revitalizar a tauromaquia. A comunidade taurina deve refletir sobre o seu papel e as suas ações, ou a falta delas, que levaram à situação atual. É essencial encontrar maneiras de atrair um público novo e garantir que a “Nossa Casa” não se torne apenas um palco para concertos, mas um verdadeiro centro de cultura taurina.

A responsabilidade recai sobre todos os envolvidos – empresários, aficionados e a própria estrutura da tauromaquia em Portugal. Sem uma mudança significativa, o risco é que, em breve, as touradas no Campo Pequeno se tornem uma memória distante, relegada às páginas da história.