
Após quase seis horas de intensas negociações – precedidas por reuniões prévias entre os principais negociadores do Partido Popular Europeu (PPE) e a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) – os 27 líderes europeus não conseguiram chegar a um consenso sobre o quarteto que liderará o executivo comunitário nos próximos cinco anos.
Até ao final da tarde de ontem, a recondução de Ursula von der Leyen na Comissão Europeia, António Costa no Conselho Europeu, Roberta Metsola no Parlamento Europeu e Kaja Kallas na representação da política externa da UE pareciam praticamente garantidas. Contudo, uma proposta inesperada dos sociais-democratas de rotação da presidência do Conselho Europeu entre socialistas e o PPE, com dois anos e meio para cada, gerou uma divergência significativa. Esta proposta não foi bem acolhida pelos socialistas que esperavam que António Costa obtivesse um mandato completo e um possível segundo mandato.
A incerteza sobre a recondução de von der Leyen na Comissão Europeia permanece, apesar das garantias dos líderes franceses e alemães, Emmanuel Macron e Olaf Scholz, de que estavam perto de um acordo. “Foi uma boa ocasião para partilhar opiniões, para fazer o rescaldo das eleições e preparar o Conselho Europeu da próxima semana. Estamos na direção certa, mas esta noite ainda não foi possível chegar a um acordo”, afirmou Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, no final do encontro.
Para que a nova equipa governativa da UE seja formalmente apresentada, Michel espera que o acordo seja alcançado até 27 de junho. A proposta de um mandato rotativo ainda é um ponto de discórdia, além da exigência dos líderes da direita para serem incluídos nas negociações. Viktor Órban, primeiro-ministro da Hungria, criticou a situação, afirmando que “a vontade dos cidadãos europeus foi ignorada”.
A recente vitória dos partidos de direita nas eleições europeias aumentou a pressão sobre as negociações. Georgia Meloni, primeira-ministra italiana e líder do partido Conservador e Reformista Europeu (ECR), que venceu as eleições com 28% dos votos, sentiu-se excluída das negociações. Meloni contestou a abordagem das discussões, sugerindo que os resultados eleitorais deveriam ter sido o ponto de partida para definir os nomes para os cargos de topo.
Além de Meloni, o Rassemblement National (RN) de Jordan Bardella em França e a Alternativa para a Alemanha, que ficou em segundo lugar, também reforçaram a sua posição política, complicando ainda mais as negociações.
Apesar das dificuldades, Luís Montenegro, líder do PSD, manifestou apoio a uma eventual candidatura de António Costa para a presidência do Conselho Europeu e permanece confiante de que um acordo será alcançado até ao final do mês. Montenegro acredita que os três maiores grupos políticos – PPE, S&D e os liberais do Renovar Europa – chegarão a um consenso sobre os principais cargos.
Os líderes da UE voltarão a reunir-se em Bruxelas a 27 e 28 de junho, com a esperança de chegar a um acordo sobre os líderes do bloco antes da votação no Parlamento Europeu, prevista para julho. Ursula von der Leyen e Roberta Metsola, se forem propostas, serão as primeiras a enfrentar o teste em Estrasburgo, dependendo da aprovação de uma maioria qualificada de eurodeputados. Para António Costa, caso seja proposto para a presidência do Conselho Europeu, será necessário o apoio da maioria dos líderes do bloco, representando pelo menos 65% da população europeia.