
A asma é uma doença que pode aparecer em qualquer altura da vida, uma vez que pode manifestar-se desde tenra idade, em crianças, ou em adultos. Estima-se que, no país, existam cerca de 600 mil pessoas a conviver diariamente com a doença, afetando 11% do total dos adultos e 5% das crianças. As alterações climáticas, a exposição à poluição e as alterações dos padrões polínicos podem justificar o aumento da prevalência da doença a nível global.
António Sousa Fernandes, coordenador do Serviço de Pneumologia e Centro de Medicina do Sono do Hospital da Luz, em Guimarães, coordenador da Consulta de Asma da Unidade Local de Saúde do Alto Ave, na mesma cidade, e secretário da Comissão de Alergologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia , explica que a asma é “uma doença inflamatória crónica das vias respiratórias, caracterizada pelo estreitamento dos brônquios”, que apresenta sintomas e sinais específicos.
Sintomas
Segundo o especialista, estes são os mais comuns:
- Dificuldade em respirar;
- Pieira (som tipo “assobio” que se ouve durante a respiração);
- Tosse;
- Sensação de aperto no peito.
Estes sintomas são geralmente desencadeados por diferentes estímulos, tais como “a exposição a alergénios (ácaros, pólen, pêlo de animais, entre outros), exercício físico, infeções respiratórias, fumo de tabaco, poluição atmosférica ou até mesmo o riso ou cheiros intensos”, explica António Sousa Fernandes.
Mas como se pode identificar esta doença cujo desenvolvimento resulta de uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais? Em primeiro lugar, é preciso saber que existem diferentes tipos de asma, sendo a mais comum a asma alérgica, “com início frequente na infância, muitas vezes associada a rinite alérgica, eczema ou alergia alimentar, bem como a história familiar de doenças alérgicas”, esclarece António Sousa Fernandes. Acrescentando que os casos não alérgicos são, de forma geral, diagnosticados na idade adulta e podem estar associados a outros fatores, tais como a exposição ocupacional, a obesidade ou o tabagismo.
Também se pode associar ao uso regular de alguns inaladores. “É fundamental evitar certos desencadeantes como alergénios, inalantes ocupacionais, fármacos ou mesmo alimentos e deve ser promovida a cessação tabágica”, alerta o especialista do Hospital da Luz.
“Os doentes com asma devem ter um estilo de vida saudável, que envolve atividade física regular e uma dieta equilibrada”, reforça António Sousa Fernandes
Além disso, a asma pode estar associada a várias comorbilidades que contribuem para um pior controlo dos sintomas, nomeadamente, a rinossinusite crónica, a doença do refluxo gastroesofágico, o síndrome de apneia obstrutiva do sono, a depressão ou a ansiedade.
Crianças e asma
Sabe-se que 10% a 15% das crianças em idade escolar têm asma. Os pais devem, assim, ser conhecedores dos sintomas e estarem atentos ao aparecimento dos mesmos para que possam agir o mais cedo possível, especialmente se os sintomas forem recorrentes ou se piorarem com o tempo. De recordar que os sintomas que podem indicar asma nos mais novos são a tosse persistente, a pieira, e a falta de ar, sobretudo à noite ou após exercício físico, e as crises recorrentes de “bronquite”.
O que é então recomendado nestas situações? “É fundamental haver um acompanhamento médico especializado, por médico pediatria ou pneumologista, no sentido de realizar exames e esclarecer o diagnóstico”, explica António Sousa Fernandes.
No entanto, é importante deixar a ressalva de que muitas crianças desenvolvem sintomas semelhantes quando apresentam infeções respiratórias, maioritariamente víricas, sem nunca vir a desenvolver asma.
Asma grave e asma não controlada
Dois terços dos asmáticos não têm a doença controlada, verificando-se, nestes casos, um forte impacto na sua vida. Nos casos de asma não controlada, explica o especialista, é fundamental reconhecer os sinais de alerta que deverão motivar procura médica urgente. Dificuldade em completar frases, respiração rápida e ofegante mesmo em repouso, sensação de aperto intenso no peito, lábios ou unhas com coloração azulada (cianose), confusão mental ou sonolência excessiva e falta de resposta ao inalador de alívio são alguns dos sintomas que poderão indicar uma crise de asma grave.
“Se a asma é uma condição frequentemente desvalorizada, a asma grave é relativamente desconhecida”, garante Ana de Carvalho Goncalves, presidente da Associação Asma Grave (AG), em Portugal. As pessoas que vivem com asma grave, “convivem diariamente com dificuldades que afetam a vida pessoal, profissional, social”.
35 mil
pessoas - em Portugal - têm asma grave, segundo as estimativas, ou seja, entre 5% a 10% dos casos totais de asma. Tal como o seu nome indica, a asma grave é mais perigosa, correspondendo a um subgrupo de doentes que permanece não controlado, apesar da medicação em doses elevadas
A Associação Asma Grave pretende trabalhar na divulgação através de parcerias com entidades públicas e privadas, para conseguir atingir o maior público possível. Quer realizar formações locais, ao nível de escolas e outras entidades, sobre os sintomas e características da doença porque “só conhecendo a asma grave se pode acelerar o seu reconhecimento e diagnóstico”.
Nas palavras de Ana de Carvalho Goncalves, a organização tem como fins principais representar os doentes com asma grave, defender os seus interesses e trabalhar para a divulgação e reconhecimento desta doença, nomeadamente através de ações de formação, organização de eventos e encontros, divulgação de tratamentos e diagnósticos, prestação de informações e cuidados a doentes e cuidadores.
“Estamos a criar uma rede de contactos e planeamos organizar encontros descentralizados em vários locais do país de modo a divulgar a associação e angariar sócios”, explica Ana de Carvalho Goncalves, presidente da AG
A presidente da associação põe ainda a tónica na necessidade de se obter um maior reconhecimento da doença, uma isenção do valor da medicação crónica, a exemplo do que acontece em relação a outras doenças, e um melhor e mais rápido acesso aos tratamentos biológicos por parte de quem necessita.
Pouco se fala, também, do facto dos doentes com asma não controlada apresentarem uma lista infinita de limitações e dificuldades em realizar tarefas no seu dia-a-dia.
Tomar banho, subir escadas ou mesmo falar, são alguns dos exemplos que António Sousa Fernandes destaca. Ana de carvalho Goncalves dá ainda outros exemplos de situações que podem desencadear uma crise: o perfume de outra pessoa no elevador, o fumo de cigarro numa esplanada, o ar condicionado na agência bancária ou o cheiro do detergente. Pode ser difícil cozinhar por causa do vapor e da temperatura, ter conversas animadas com os amigos, ou simplesmente brincar com os filhos, porque qualquer destas coisas pode provocar tosse ou falta de ar, e criar uma situação que pode - inclusive - acabar em internamento.
“Cada pessoa vai aprendendo a lidar com os seus sintomas, pois cada caso é diferente. Pode precisar de descanso, medicação SOS ou de recorrer ao médico ou urgência hospitalar”, conclui Ana de Carvalho Goncalves.
A verdade é que, nos casos mais graves, as crises são frequentes e os doentes recorrem aos serviços de urgência para obter alívio dos sintomas. “Nestas situações, é fundamental garantir que o doente cumpre e usa de forma correta o seu inalador, já que muitos não os utilizam adequadamente”.
Aumentar a literacia e capacitar os doentes e as famílias também se revela fulcral para mitigar os efeitos negativos que esta doença provoca. Saber como agir, como funciona o tratamento quando se deve procurar ajuda deve ser uma prioridade para quem está ligado diria e indiretamente a este problema de saúde que, como se sabe, é crónico.
“No sentido de melhorar o acompanhamento dos doentes com asma, devem garantir-se consultas regulares de seguimento com médicos de família ou especialistas e facilitar o acesso à realização de espirometria, exame que avalia a função pulmonar”, enfatiza o pneumologista.
Nos dias de hoje, já existem terapêuticas biológicas que permitem melhorar a qualidade de vida das pessoas com asma grave. São terapêuticas prescritas a nível hospitalar, lembra António Sousa Fernandes, geralmente em consulta de asma especializada, e permitem um controlo mais adequado na grande maioria dos casos.
Esta terapias ajudam não só no controlo dos sintomas, mas também na redução das exacerbações, das idas aos serviços de urgência e das hospitalizações.
Outro comportamento identificado pelos especialistas é a interrupção da medicação por parte dos doentes quando se sentem bem. Essa interrupção pode, no entanto, comprometer seriamente o controlo da doença.
“Muitos percepcionam uma falsa sensação de cura, o que não é verdade, pois a asma é uma doença inflamatória crónica, mesmo sem sintomas visíveis”, lembra António Sousa Fernandes.
O especialista atribui esta atitude a “um receio injustificado de que os corticosteroides inalados causam problemas de saúde a longo prazo”. Mas o que a medicina diz é que a terapêutica inalatória, quando tomada de forma regular, reduz os sintomas associados à asma, previne as crises e preserva a função pulmonar.
70% sem diagnóstico e sem tratamento no último ano
De acordo com dados apresentados, um em cada três doentes asmáticos não tem o diagnóstico registado no processo clínico nos cuidados de saúde e 70% dos doentes sem registo de diagnóstico não teve tratamento nos últimos 12 meses, o que mostra a necessidade de medidas para melhorar o acesso ao diagnóstico e acompanhamento da doença.
Basta olhar para estes dados para se concluir que, mais vezes do que gostaria, os doentes com asma não estão devidamente diagnosticados. “Isto tem um enorme impacto no seu seguimento, no tratamento e controlo da doença”, assume António Sousa Fernandes.
Para resolver esta lacuna, “a informação e divulgação da doença são essenciais para aumentar os diagnósticos corretos e acelerar o processo”, acredita Ana de Carvalho Goncalves.
E é isso que têm tentado fazer na associação à qual preside, ao apostar na melhoria da educação e literacia em saúde, de forma a sensibilizar a população para esta doença tão comum. A organização sugere ainda que se comece a fazer um registo dos doentes de asma grave a nível nacional, como acontece já com outras doenças.
“Frequentemente, são os próprios doentes a desvalorizar os sintomas e a atrasar a ida ao médico. Por outro lado, os profissionais de saúde necessitam de reconhecer os sinais e sintomas característicos da asma de forma a referenciar estes doentes o mais precocemente possível para o médico especialista”, diz António Sousa Fernandes. Não obstante, na maioria dos casos, “é possível obter um bom controlo da doença quando esta é diagnosticada e tratada atempadamente”.
Saiba mais sobre o Dia Mundial da Asma
Este dia tem a pretensão global de fomentar a consciencialização sobre a asma e o seu respetivo impacto na vida das pessoas, dando ênfase à importância de uma gestão mais adequada da doença, assim como a necessidade de melhorar o acesso aos cuidados de saúde e a literacia para quem lida todos os dias com a asma e para a população em geral.
Em jeito de conclusão, António Sousa Fernandes deixa uma mensagem final: “Este dia é uma oportunidade para reforçar a importância do diagnóstico precoce, do tratamento adequado e do acompanhamento contínuo desta doença respiratória crónica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A asma pode ser controlada e não deve limitar a qualidade de vida. Fique atento aos sinais, siga as orientações médicas e não deixe a asma controlar a sua vida. Respirar bem é viver melhor”.
A SIC Notícias – com o apoio da Sanofi – lança o projeto “Doenças diferentes, um elo comum”. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pela SIC Notícias (ver Código de Conduta), sem interferência externa.